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Evocações sem fim

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Claúdio Emerenciano – Professor da UFRN

A consciência da terceira idade não significa ingresso no outono da vida. Tampouco se associa à perda de vitalidade; ou renúncia à criatividade, aos sonhos e à vontade de viver no seu mais amplo e vigoroso sentido. Picasso, Charles Chaplin, Tristão de Athayde, Jorge Luis Borges, Câmara Cascudo e Gilberto Freyre, entre tantos, tantos e tantos, por esse mundo afora, converteram a velhice em fecunda, incontrolável e renovada fase de afirmação das suas personalidades. Reacenderam o ânimo de viver e o modo de sentir o mundo e a vida. No universo das minhas afetividades, Aluízio Alves e Alvamar Furtado são insubstituíveis, inesquecíveis e insuperáveis. Enquanto viveram, pareciam dizer que não queriam ser eternos. Apenas queriam que seus atos, seus gestos, seus sentimentos, seus laços, seus sonhos, até mesmo os últimos, não perdessem seu sentido. Não se eclipsassem como legado ou inspiração. Queriam encorajar os que ficavam. Testemunhando a grandeza da vida.

Há uma pessoa a quem muito admirei e estimei. Conheci-a quando, aos 18 anos, atuava no gabinete do governador Aluízio Alves. Refiro-me a Da. Nazinha Lamartine, nora e prima do grande Juvenal Lamartine de Faria: estadista, governador, senador, deputado federal, sociólogo, jurista. Da. Nazinha conjugou, reuniu, enastrou, sintetizou e amalgamou minha admiração, nascida na infância, por Dr. Juvenal. Como começou essa admiração? Aos oito anos adoeci de sarampo. Meu médico era meu padrinho, um santo em vida, que viajara para tratamento no Rio após um enfarte: José Ivo Cavalcanti. Fui medicado por outro excepcional médico humanitário, solícito e dedicadíssimo, o Dr. Silvino Lamartine, esposo de Da Nazinha e filho do Dr. Juvenal. Meu pai me contou a vida do grande governador, o surto de transformações em pouco mais de dois anos em seu governo e suas adversidades por não transigir com seus ideais. Meu padrinho faleceu em 1955, vítima de outro enfarte. Desde então, por alguns anos, Dr. Silvino o sucedeu. Não esqueço quando meu pai dizia que os cuidados por ele a mim dispensados, com terna paciência, eram os mesmos com os quais, generosamente, tratava os filhos de leprosos. Lembro-me do Dr. Silvino, que também era desportista, correndo vaquejada juntamente com Silvio Pedroza, Estélio Ferreira e Roberto Varela. Lembranças de tempos que Joaquim Nabuco chamou de "minha formação". O solar do Dr. Juvenal, na Rua Trairí, era uma referência mítica. Imagem de tempos e posturas.

Da. Nazinha Lamartine transbordava em lucidez, inteligência e visão. O governador Aluízio Alves, de quem era interlocutor permanente, estimava-a e a admirava. Carlos Lacerda, em 1965, participou da convenção estadual da UDN. Seu discurso se centrou na figura de Juvenal Lamartine. Ao chegar à casa de Osmundo Faria, telefonou para o Dr. Silvino e Da. Nazinha. O Presidente Castello Branco a conhecia. Vindo a Natal, em 1966, pediu ao governador Walfredo Gurgel para transmitir-lhe seus cumprimentos, com o seguinte comentário: "é uma dama de excepcional inteligência e suas observações são fascinantes". Também assim a admirava Ney Braga. Ela engrandeceu o ser mulher. Eis evocações que se renovam como a vida. Modelam e inspiram. Não são como folhas outonais. Não se perdem.  . .  .     

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