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Excesso de peso atinge 33% de crianças em Natal

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NA BALANÇA - Obesidade nas crianças tem preocupado especialistas
Pela primeira vez, é realizada em Natal uma pesquisa sobre obesidade e sobrepeso infantil. E os resultados são bastante preocupantes. No estudo, inédito, a endocrinologista pediátrica Lana do Monte Paula Brasil pesquisou 1.927 crianças com idades entre 6 e 11 anos, de escolas das redes pública e privada, nas quatro regiões da cidade, e constatou que 33,6% delas apresentam excesso de peso.

Para se ter uma idéia do quanto o dado é alarmante, basta dizer que nos Estados Unidos, país campeão em obesidade, 31% da população entre 6 e 19 anos apresentam sobrepeso. Segundo Lana, em Natal se repete o que está acontecendo no Brasil e no resto do planeta.

“A prevalência de obesidade e sobrepeso infantil está crescendo em todo o mundo, seja em países ricos, pobres e naqueles em desenvolvimento. No Brasil e nos Estados Unidos, é de 0,5% o crescimento anual”, diz a endocrinologista.

Em sua pesquisa, realizada para a dissertação de mestrado na Universidade Feral do Rio Grande do Norte, ela observou um maior índice de crianças com excesso de peso nas escolas da rede privada, onde a prevalência de sobrepeso corresponde, de acordo com o estudo, a 54,5%, enquanto que nas escolas públicas o índice encontrado foi de 15,6%.

Lana verificou ainda que a maior quantidade de crianças com sobrepeso está nas escolas situadas nas regiões mais favorecidas de Natal — sul e leste (41,3%) — e a menor, nas áreas mais carentes — norte e oeste (28,4%).

Diante dos dados, a endocrinologista pediátrica faz um alerta à sociedade. “São números que revelam uma realidade bastante preocupante”, diz. Lana Brasil pede às famílias e às escolas que se voltem com mais atenção para o assunto, porque, do contrário, teremos, lá na frente, uma população ainda maior de obesos e com sérios problemas de saúde.

Segundo ela, a probabilidade de uma criança obesa se tornar um adulto obeso é muito grande. “Há três fases que indicam essa possibilidade. No primeiro ano de vida, entre 4 e 7 anos e na adolescência. São nessas fases que ocorre a replicação das células gordurosas. Se nesses estágios a pessoa tiver muitas células gordurosas, a replicação vai ser maior”, explica.

A principal causa desse problema, encarado como uma epidemia mundial, é o aumento do consumo da alimentação rica em gordura e carboidratos, associada aos hábitos sedentários da criança de hoje. “Em dez mil anos, não houve qualquer mudança no patrimônio genético da humanidade. O que mudou foram as tendências, o comportamento”, diz Lana. As crianças fazem cada vez menos exercícios físicos; elas passam grande parte do tempo em frente à TV e no computador e, enquanto isso, comem um pipos com refrigerante, achocolatado e outros itens que só engordam”, dia Lana.

A endocrinologista pediátrica observa que os pais têm uma parcela de culpa muito grande, pois eles têm oferecido, cada vez mais, esse tipo de alimento aos filhos. “A responsabilidade é de quem faz o supermercado e leva para dentro de casa alimentos gordurosos”. Lana Brasil também tem colocado a escola no banco dos réus. “As escolas têm sido muito responsáveis pelo aumento do sobrepeso e obesidade nas crianças. Basta ver o que elas oferecem nas cantinas”.

Obesidade traz reações negativas

þA obesidade não afeta apenas a saúde. Ela também pode causar sérios problemas psicológicos. Na criança é ainda pior. “Para não passar por constrangimentos, ela pode se isolar em casa, se retrair, e perder uma fase muito interessante da vida”, diz a psicóloga infantil Doriana Setubal.

A psicóloga explica que a obesidade pode levar a diferentes reações. Mas, normalmente, ela causa baixa auto-estima. Segundo ela, o adolescente tende a rejeitar sua imagem. Reações diversas podem advir desse sentimento.

“Tem aqueles que, para pertencer a um grupo, se tornam engraçados. Para não sofrer, eles passam a brincar com a própria imagem. Enquanto outros se sentem tão mal que buscam o isolamento. O fato concreto é que, em ambos os casos, todos convivem com grandes dificuldades emocionais”, diz Setubal. De acordo com ela, as crianças e adolescentes mais suscetíveis à gozação dos colegas e amigos são, normalmente, as que buscam o isolamento.

Com 12 anos e 60 quilos concentrados em pouco mais de um metro e meio, Ricardo (nome fictício) já foi alvo de piadas na escola, mas, felizmente, diz não ter ficado com nenhum trauma. “No começo queria brigar, mas depois comecei a apelidar quem me apelidava. Pronto, não tive mais problema. Nem me importo”, diz.

O menino lembra que sempre foi “gordinho”, por herança genética dos pais e, principalmente, devido aos hábitos alimentares que cultiva. “Se tiver de escolher entre refrigerante e o suco, fico com o refrigerante. Como muito chocolate e fritura. Desde pequeno é assim”, fala.

O pai dele, que vende sanduíches, cachorro-quente, pastel e outros lanches na rua, diz que tenta limitar a quantidade de comida gordurosa do filho, mas é difícil cortar o hábito. Ricardo também faz pouca atividade física, uma vez por semana na escola. “Às vezes jogo bola com os meninos da rua, mas passo muito tempo mesmo no vídeogame”.

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