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Experimento cênico sobre a vida

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Yuno Silva
Repórter

A narrativa fragmentada e a possibilidade do enredo ganhar forma ao longo da encenação fazem de “Ninguém Falou que Seria Fácil” uma experiência, sensorial e dialética, de mão dupla. Em cena, três gerações de uma família; em jogo, situações comuns que proporcionam identificação imediata – e muito do que se vê no palco depende da sintonia entre elenco e plateia. É com esse formato aberto que o grupo carioca de teatro Foguetes Maravilha desembarca em Natal para três sessões gratuitas do espetáculo no Teatro Alberto Maranhão. Hoje a apresentação (20h) será seguida de debate, amanhã o grupo promove oficina durante o dia (10h) e duas sessões à noite (18h e 20h). Os ingressos serão distribuídos com uma hora de antecedência no próprio TAM.
Espetáculo premiado Ninguém Falou que seria Fácil, com direção de Alex Cassal e Felipe Rocha, chega a Natal para apresentações gratuitas e debates no TAM
A trama, que mistura cotidiano e uma compilação de esquetes, inclui no “sopão” cênico filmes franceses dos anos 1970, dança contemporânea, dramas familiares e fábulas para crianças. Com direção de Alex Cassal e Felipe Rocha, este último também no elenco, ao lado dos atores Renato Linhares e Stella Rabello, “Ninguém falou…” traz como marcas da dramaturgia o humor, a ironia, os jogos de linguagem, a troca de papéis e a desconstrução e reconstrução de convenções teatrais. A montagem ganhou os prêmios Prêmio Shell 2011, APTR 2011 e Questão de Crítica 2011 na categoria autor. Esta é a primeira vez do Foguetes Maravilha no RN, passagem que faz parte da mini turnê nordestina viabilizada através do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura 2013/14. Além de Natal, o grupo esteve em Recife, dentro no festival Janeiro de Grandes Espetáculos.

“Muito da performance da cena parte da relação com a plateia, conversamos com as pessoas olhando no olho. Temos a sorte do público se integrar logo de cara à proposta”, disse o ator e co-diretor Felipe Rocha, também autor do texto. “Em Teresina, por exemplo, uma mulher da plateia foi provocada a responder uma pergunta e já acrescentou outra informação. Acredito que tenha ficado à vontade para construir junto pois, apesar do roteiro ser fechado, damos espaço para esse tipo de intervenção”. O próprio título da peça deixa margem para leituras positivas e negativas. Alex e Felipe conversaram com o VIVER na manhã de ontem, no saguão do hotel onde estão hospedados.

“O roteiro é bem amarrado, há falas e deixas bem pontuadas, mas damos brechas para os atores agirem de acordo com a interação. Optamos por reagir com o que acontece em volta”, disse Cassal, ressaltando que, por não ser linear, “a cada nova informação relocamos tudo o que está em jogona cena. Não há causalidade, dentro do sopão de temas os personagens se revezam e a costura desse apanhado de esquetes não tem uma amarração rígida”.

Sobreposição de personagens

Alex e Felipe frisam que apesar de atravessar gerações, o espetáculo não conta uma saga épica: no olho do furacão estão as situações e não a história desta ou daquela família. “Todo mundo se identifica em algum momento”, garante o ator, autor e co-diretor. Felipe Rocha começou escrever “Ninguém Falou que Seria Fácil” em 2009, durante estadia de três meses na Europa, quando recebeu uma bolsa do governo francês para participar de residência literária. “Naquela época, minha filha estava com a idade do personagem criança do espetáculo, por isso falamos tanto de identificação”, justifica. Foram 18 meses de trabalho até a estreia.

A dinâmica da alternação de papeis buscou referência nos tempos áureos d’Os Trapalhões, quando Didi, Dedé, Mussum e Zacarias davam vida a vários personagens sem a intenção de fingir ser quem não eram. “Essa simplicidade nos interessa, acreditamos na relação dos personagens”, disse Alex Cassal. O diretor observa que “os atores interpretam vários personagens, mas as características acabam se repetindo, não temos hierarquias”.

O maior desafio para resolver foi na cena do “sapo cansado”, onde os três atores em cena acumulavam dezenas de personagens. “No início tínhamos uma superposição com dezenas de figuras, no final ficaram meia dúzia”, disse Alex. “Fomos vendo até que ponto conseguíamos interpretar sem perder o domínio da história nem confundir a plateia”, finalizou Felipe.

Bate-papo – Alex Cassal
Diretor

Até que ponto a plateia interfere no espetáculo?

“Como a peça foi foi engendrado para permitir  interferências, a cada rodada de debate e oficinas o grupo atualiza a dramaturgia. Mas nada pontual, apenas nos alimentamos e por vezes incluímos desdobramentos. Estamos abertos para absorver e reagir.

Qual o foco da oficina?
Teremos exercícios de interpretação e improviso, tudo simples, em contexto com o que a gente vem trabalhando. Então o desenrolar da oficina depende muito do grupo que está participando.

Serviço

Espetáculo “Ninguém Falou que Seria Fácil”, com o grupo Foguetes Maravilha (RJ). Sexta (20h) e sábado (18h e 20h) no Teatro Alberto Maranhão. Ingressos gratuitos, distribuídos uma hora antes.

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