sexta-feira, 19 de abril, 2024
26.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Extrema-esquerda pode ser decisiva na Catalunha

- Publicidade -

Joseph Wilson
Associated Press

Barcelona – Um pequeno partido catalão de esquerda passou por significativa transformação, deixando de ser uma anedota chamativa para se converter em uma sigla potencialmente crucial na campanha da Catalunha pela independência. A Candidatura da Unidade Popular (CUP) se soma a vários movimentos de extrema-esquerda que ganham força na Europa, como o governista grego Syriza ou o espanhol Podemos, bem como à corrente que ganhou na semana passada a liderança do Partido Britânico, na figura do socialista Jeremy Corbyn. Como em outros casos, as duras medidas de austeridade deram asas ao CUP, que agora pode ser crucial para as aspirações separatistas dos catalães decididos a romper seus laços centenários com a Espanha.
Liderança política do deputado David Fernández preocupa o governo central da Espanha
Os catalães votam neste domingo, em eleições regionais que podem dar ao grupo autoridade para levar a região para a independência, um objetivo que para o governo central de Madri é ilegal. As pesquisas mostram uma votação apertada. Com isso, o grande bloco “Juntos pelo sim”, formado por partidos favoráveis à independência, precisaria do apoio do CUP para garantir a maioria de 68 cadeiras no Parlamento catalão, de 135 postos. Sem a maioria, admitem os favoráveis à secessão, os esforços para se separar da Espanha sofreriam um revés de vários anos.

A situação pode dar ao CUP uma posição de força, para ditar os termos de seu acordo e impor algumas de suas medidas de extrema-esquerda, em uma região de forte tradição empresarial. O CUP tem presença apenas no nordeste catalão. O líder da sigla, David Fernández, veste camisetas esportivas com lemas radicais (há mais de 200 camisetas em seu armário), enquanto debate nas ornamentadas salas do Parlamento catalão.

Liderado por Fernández, de 41 anos, o partido teve êxito na região, catalisando o mesmo descontentamento contra as medidas europeias que deram força a partidos como o Syriza na Grécia, que reduzem o apoio tradicional aos social-democratas. As pesquisas apontam que o CUP poderia obter até dez cadeiras no Parlamento regional, bem mais que as três atuais.

Os catalães, disse Fernández em entrevista à Associated Press, têm de reivindicar sua soberania como nação de um Estado espanhol que, insistiu ele, tem pouco respeito pela Catalunha e participa com entusiasmo em uma economia capitalista global que ele considera “uma máquina de guerra, uma máquina de roubar, de matar e de mentir”.

Fernández disse que se inspira em movimentos como o Syriza, o irlandês Sinn Fein, nos separatistas do País Basco e no Exército Zapatista de Libertação Nacional, que teve muita força na região mexicana de Chiapas na década de 1990. Apesar disso, apontou ele, o CUP deve a maior parte de sua identidade à história catalã de trabalhadores e movimentos de esquerda, incluindo os radicais da Catalunha da década de 1930, quando anarquistas, comunistas e sindicalistas integraram o grupo dos que lutaram na Guerra Civil Espanhola (1936-1939) contra as forças fascistas de Francisco Franco.

Após ganhar reputação como um rival habilidoso em debates parlamentares, Fernández e a retórica radical do CUP encontraram novos apoios entre os catalães favoráveis à independência descontentes com a economia fraca e decididos na crença de que a Catalunha não recebe de Madri sua parte proporcional aos impostos que paga.

Fernández tem sido de maneira consistente o político mais valorizado, nas pesquisas sobre o governo regional, desde que chegou à Câmara local em 2012. Mas o governo central de Madri aponta que suas posições radicais são motivos para os catalães elegerem parlamentares contrários à independência.

O líder político rechaça as acusações de que a Catalunha teria problemas para se converter em nação, descrevendo a Espanha como um Estado falido. “Já estamos passando por um mau momento”, disse ele. “O setor público, para recuperá-lo é preciso reagir, desalojar o livre mercado das pensões, da educação, da saúde e da cultura”, declarou ele, que defende a entrada do setor cooperativo social, “que combata a economia de cassino do capitalismo financeiro e especulativo”.

Dificuldades econômicas dão força ao CUP
Os analistas apontam que as dificuldades econômicas são o principal motivo pelo qual o CUP e outros partidos similares na Europa ganharam força. Na Espanha, as duras medidas de austeridade, o desemprego em 22% e escândalos de corrupção implicando políticos tanto na Catalunha como no restante do país “formam a tempestade perfeita, e a crise ajudou muito” o CUP, segundo Antonio Barroso, analista em Londres da consultoria de risco político Teneo Intelligence.

A importante vitória de Corbyn nas primárias do Partido Trabalhista no Reino Unido foi uma das mudanças de direção mais importantes da política britânica em várias décadas. Enquanto isso, o Partido Comunista de Portugal tem até 10% do eleitorado, podendo evitar que o Partido Socialista local recupere o poder da coalizão de centro-direita governante, nas eleições de 4 de outubro.

“A austeridade e a crise econômica deram uma janela de oportunidade para que os movimentos de extrema-esquerda aumentem seu nível de apoio”, afirmou Barroso. “Podem influir no debate, mas a questão é se podem influir na tomada de decisões.”
O CUP chegou a agradecer as advertências ante o fato de que a Catalunha independente seria expulsa da União Europeia, uma ameaça que segundo as pesquisas faria muitos catalães pensarem duas vezes antes de optar por deixar a Espanha. Para Fernández, uma saída da UE seria escapar de um grupo que na avaliação dele está dominado por capitalistas decididos a explorar a classe trabalhadora.

“Nós acreditamos que o dilema global de nossos tempos é se este é o tempo dos mercados ou o tempo das pessoas”, afirmou Fernández. “Não reconhecemos nenhuma autoridade da troica, que autoridade democrática tem a troica?”, questiona. “É o FMI, que não é escolhido por ninguém, o Banco Central Europeu, que não é escolhido por ninguém, e a Comissão Europeia, escolhida pelos Estados, os banqueiros de gravata.”

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas