sexta-feira, 19 de abril, 2024
31.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Falcatruas sob o tapete verde

- Publicidade -

Gaudêncio Torquato
[ [email protected] ]

Depois do mensalão, petrolão, ufa, chegou a vez do bolão. A corrupção adentra os campos de futebol, sob a suspeita de que, sob os tapetes verdes, a roubalheira tem plantado fortunas. É o que se infere da recente prisão de sete cartolas na Suíça, dentre eles o brasileiro José Maria Marin, ex-presidente da CBF e ex-governador de São Paulo. O fato propiciará um dos mais impactantes shows sobre corrupção nos palcos do futebol mundial.

A perplexidade chega aos estádios e as dúvidas emergem: por que, a cada dia, a corrupção expande suas facetas, ocupando espaços midiáticos, transformando o país em gigantesca delegacia de Polícia? Por que o futebol, que reúne os maiores conglomerados do país, virou um negócio fraudulento? Se a questão é posta para as autoridades governamentais, a resposta assume um tom político: nunca a corrupção foi tão combatida no Brasil como hoje. Se sua visibilidade é grande em todas as áreas, isso se deve ao fato de haver muita transparência. Verdade ou balela?

Nenhum governo aceita a pecha de compactuar com as teias de corrupção que se formam nos porões da administração pública. A transparência e a faxina que os órgãos de controle e investigação exercem sugerem que a administração federal e entidades, como a esportiva, mais parecem um imenso queijo suíço, exibindo buracos por todos os lados. E mais: esses buracos escondem ilícitos em graus variados, que batem, agora, nas fachadas da FIFA, na Suíça, na CBF e em outras confederações. A teia de corrupção, que se apura na Operação Lava Jato e que, nos próximos tempos, deverá se estender com as revelações que sairão das trombetas de uma eventual CPI do Futebol, a ser formada no Senado, revela muito sobre o caráter dos atores que atuam em nossas instituições. Se na frente política constata-se a troca de poder político por riqueza, na frente esportiva ocorre a troca de dinheiro por poder político (influência e eleição de dirigentes), na esteira de vantagens propiciadas pela exploração do comércio esportivo.

Qualquer que seja o caso, vende-se um bem de utilidade pública por um ganho particular. Essa moldura é estreitada ou alargada nas carpintarias de governos e administrações, como a do futebol. Na esfera pública, os governantes preenchem a  máquina com quadros que lhes deram apoio e com eles chegaram ao poder. Eis o primeiro rolamento da engrenagem disfuncional. Parcela substantiva dos corpos funcionais age de acordo com interesses grupais (atendendo a demandas de partidos) ou mesmo individuais. Dessa forma, a política, que é missão, transforma-se em profissão. De civismo, transforma-se em utilitarismo.

Já na esfera esportiva, o esforço dos cartolas é para se perpetuar no poder. A maior paixão nacional, formando um empreendimento que mexe com cifras bilionárias, o futebol desperta a cobiça de grupos e máfias que se encastelam nos feudos em que se transformaram as entidades esportivas. Não é de hoje que se fala em extirpar os tumores que afetam o corpo do futebol brasileiro. A cartolagem, porém, tem agido no sentido de fechar os ouvidos da representação política, evitando intervenções cirúrgicas. As eleições são combinadas, a renovação de quadros dirigentes praticamente inexiste e os jogos de interesses acabam fazendo muitos gols para as equipes que dividem o butim.

Foi preciso esperar que os EUA dessem início à prisão de suspeitos que por lá fizeram malandragem – os 7 sete cartolas detidos na Suíça – para iniciarmos, por aqui, um processo de apuração, provavelmente no âmbito de uma CPI no Senado.

No campo da instituição política, a administração de coisas materiais assumiu o lugar de ideários. As doutrinas murcharam, as utopias feneceram. Círculos de negócios inundam o universo político. A corrupção encontra solo fértil na modernização do Estado. Os sistemas de controle se multiplicaram, bastando ver os conjuntos formados para apurar e mapear desvios – Ministério Público, Tribunais de Contas da União e dos Estados, Advocacia-Geral da União (AGU), Controladoria-Geral da União, Polícia Federal e agências reguladoras, cuja função precípua é estabelecer diretrizes para atuação dos núcleos que cuidam de serviços públicos essenciais. Não raro, porém, tais mecanismos são impregnados de molas politiqueiras (nomes indicados por partidos),  que abrem os dutos da ilicitude. Acaba sobrando para o PNBC, o Produto Nacional Bruto da Corrupção, que abocanha boa parte do nosso PIB, hoje em torno de US$ 2,3 trilhões.

Num eventual campeonato mundial de falcatruas, o Brasil seria um forte candidato ao título.

TIROTEIO Marco Polo Del Nero deu sua primeira entrevista coletiva,  mostrando-se disposto a enfrentar o tiroteio da CPI do Futebol no Senado. Conta com eficiente auxiliar nessa missão, o ex-deputado Walter Feldman.

CIRURGIA URGENTE O corpo do futebol carece de urgente cirurgia. Urge inovar quadros, métodos, racionalizar agendas e calendários esportivos, democratizar federações, melhorar, enfim, a performance de todas as estruturas ligadas ao futebol. E abrir as disputas na área do comércio esportivo.

REFORMA PATINA Reversão de expectativas: esse é o resultado, até o momento, da tão ansiada reforma política. Os deputados não avançaram nas ideias. Preferiram manter a velha estrutura, com ressalva para o fim da reeleição. O financiamento misto deverá ser objeto de lei que fixará os limites.

MÉDIOS E GRANDES Os partidos médios se uniram nas votações da reforma política; os partidos grandes se dividiram. Não houve consenso em torno de questões centrais, como o tipo de voto: distritão, distrital misto e distritinho.

ALCKMIN SOBE Aécio Neves desce e Geraldo Alckmin no ranking tucano. O governador paulista correrá o Brasil em visita aos Estados; Aécio não consegue unir as alas tucanas.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas