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Falta de exame prejudica pacientes

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Yuno Silva
Repórter

A aposentada Maria das Graças Rodrigues Pinto, de 64 anos, é paciente renal. Em 2006 ela fez o primeiro transplante de rim, tendo a cunhada Francisca Varela como doadora, mas em 2015 o órgão responsável por filtrar o sangue voltou a falhar. Dona Graça precisou voltar à rotina das sessões de hemodiálise, e passou mais quatro anos sendo submetida a três sessões semanais do tratamento – a cada sessão, ela ficava quatro horas ligada a uma máquina; sem falar no arsenal de remédios que precisava ingerir.

Maria das Graças fez transplante em fevereiro, recebendo o órgão do filho. Atualmente, precisa monitorar quadro


Maria das Graças fez transplante em fevereiro, recebendo o órgão do filho. Atualmente, precisa monitorar quadro

#SAIBAMAIS#No mês de fevereiro deste ano ela conseguiu fazer seu segundo transplante de rim, dessa vez o doador foi o filho Flávio Murilo. Apesar da compatibilidade entre doador e receptora, Maria das Graças é uma paciente com hipersensibilidade e utiliza medicamentos imunossupressores  para evitar a rejeição do novo rim pelo organismo. Porém, a evolução do tratamento pós-operatório e a própria dose do remédio é determinada pelo exame PAR (Painel de Anticorpos Reativos) que é oferecido no RN apenas pelo Hemonorte.

“Amanhã (hoje, dia 16) vai fazer um mês que colheram amostras de sangue, mas até agora nada; nenhum resultado. Primeiro disseram que o Hemonorte está sem os reagentes necessários para fazer o exame, e que meu sangue seria enviado para um laboratório parceiro em outro estado (no Paraná). Fui atrás para saber o motivo da demora, e informaram que a amostra continua guardada aqui por que o Governo do Estado está devendo aos Correios”, lamentou Maria das Graças, que teme pela saúde. “Sem esse diagnóstico não tem como saber qual a reação do organismo, e posso perder o transplante”. O exame tem validade de seis meses.

Cerca de 400 pessoas em todo o Rio Grande do Norte aguardam o exame, e quem não conseguir a tempo perde o lugar na fila de transplante.  A bioquímica Aleida Lima, que trabalha no laboratório do Homonorte, confirmou a falta do reagente para realizar o exame e o impedimento de expedir o material coletado via correio. “Desde o ano passado, quando os kits acabam, estávamos enviamos as amostras para laboratório parceiro (do Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba-PR) que é credenciado nessa área de transplante. Estamos com cerca de 60 amostras paradas”, disse Aleida.

O exame completo do PAR (Painel de Anticorpos Reativos) requer dois tipos de reagentes: classe 1 e 2, e o Hemocentro do RN possui apenas o kit 2. Um kit é suficiente para realizar 50 exames e chega a custar R$ 35 mil cada. A demanda mensal gira em torno de 100 a 150 exames. “Estamos correndo contra o tempo, vendo, inclusive, com fornecedores dos kits se eles pagam o deslocamento das amostras até o fornecimento ser regularizado. Não é uma encomenda simples, um sedex normal, tem todo um protocolo de acompanhamento”, explicou a bioquímica. “Estamos de mãos atadas, sem poder ajudar muito”, acrescentou.

Ainda não há perspectiva de abastecimento do Hemonorte com relação aos kits classe 1 do exame de Painel. “Sem dúvida prejudica (a rede de transplantes), ainda mais em um momento de grande interesse de potenciais doadores. Quem não consegue fazer o exame, sai da lista de espera e fica sem concorrer ao órgão captado”, lembrou Aleida Lima.

Doador compatível
Há dois anos na fila do transplante de rins, Maria Eliane da Silva, de 52 anos, conseguiu uma doadora compatível: no próximo dia 29 de maio, ela e a irmã serão submetidas à cirurgia. Felizmente o exame de Painel (de Anticorpos Reativos-PAR) delas ainda está válido. “O problema vai ser depois da operação, vou precisar atualizar os resultados para iniciar o tratamento que evita a rejeição do rim pelo organismo. Se não fizer, minha saúde vai ser prejudicada pois a médica precisa dessas informações para saber a dosagem dos imunossupressores”.

Eliane destacou que “mesmo se tiver um órgão disponível para transplante, sem esse exame o paciente perde a chance de receber”.  “É uma situação difícil: além de ter de ficar ligada a uma máquina três vezes por semana, durante quatro horas a cada sessão, ainda corri atrás do Ministério Público do RN para tentar resolver a situação”. A aposentada Maria das Graças também procurou o MPRN.
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