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Faltam quadras esportivas nas escolas

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As escolas são um ótimo espaço para desenvolver o gosto das crianças e jovens pelas práticas esportivas e com isso garantir aos futuros adultos uma qualidade de vida melhor. Porém, até hoje grande parte das escolas municipais de Natal sequer possui um local para desenvolver o trabalho adequado. Das 74 existentes, somente 38 contam com quadras poliesportivas. O chefe do setor de Cultura e Desporto da Secretaria Municipal de Saúde, Maxwell Albuquerque, afirma que o cenário vem mudando para melhor, mas reconhece que ainda há muito a ser feito.

“Hoje, todas as novas escolas que são construídas já trazem espaço para as quadras dentro de seus projetos. De forma geral, considero que demos um salto na qualidade dessa prática esportiva escolar nos últimos anos, mas esse é um processo longo, que tem de ser dado continuidade para ir se consolidando”, ressalta. Muitas das escolas mais antigas, por exemplo, não possuem, sequer o espaço físico onde erguer as instalações esportivas.

Outro desafio para as próximas administrações é fazer funcionar o Conselho Municipal de Desportos, do qual a Secretaria de Educação faria parte. “Basicamente temos três tipos de prática desportiva: a de alto rendimento, a participativa e a educativa. Por conta desta acho que a Educação também deve fazer parte do conselho”, defende, lembrando da importância dessa prática: “É uma forma de inclusão social, já que há poucas opções de lazer, principalmente na periferia.”

Maxweel Albuquerque também destaca que é necessário intensificar um trabalho ainda “tímido” de fornecer regularmente material esportivo às escolas. “Elas têm orçamento próprio e muitos gestores dão atenção ao esporte, valorizando essa aquisição, mas é preciso ampliar esse trabalho, para todo o ano os professores receberem bolas, equipamentos, o que necessitarem”, reconhece. Para ele, “oferecer às crianças a opção de uma prática esportiva garante aos estudantes até mesmo o direito de sonhar com um futuro melhor, pois muitos se espelham em ídolos como Magnólia, Clodoaldo, Giba, Tande.”

Por isso mesmo, Maxwell Albuquerque observa que a Educação Física deve ser entendida como um elemento fundamental da formação completa dos estudantes. Nesse sentido, ao menos uma carência ele afirma que a rede pública municipal não apresenta, a de professores. “Temos cerca de 210 de Educação Física e outros 18 estão sendo chamados agora. É uma quantidade suficiente”, contabiliza.

Quanto à recente redução da carga horária da disciplina de Educação Física, que desde 2006 passou de duas para apenas uma hora por semana, Maxwell Albuquerque declara que também é reflexo da baixa carga horária geral. “Foi uma forma de adequar-se ao currículo, que prevê apenas 20 horas, divididas entre uma série de outras disciplinas também fundamentais à educação desses estudantes”, ressalta.

Contudo, a expectativa é que a partir de 2009 a Educação Física possa voltar a ocupar duas horas por semana no currículo. “Temos ainda um projeto, o ‘Segundo Tempo’, que abrange 19 escolas, com 200 crianças participando em cada. São 3.800 estudantes que têm, diariamente, três horas no turno contrário ao dos estudos para prática de esportes, que é a incidência maior, mas também atividades de lazer e cultura”, enfatiza, complementando: “Potencial nós temos e professores também, precisa é ser dado condições para eles trabalharem.”

Professores se preocupam com a prática esportiva isolada

Educação Física é muito mais que a prática esportiva isolada. A afirmação é do diretor do curso de Educação Física da UNP, Roberto Cabral, e retrata bem a preocupação dos profissionais da área com a valorização dada ao esporte de rendimento, em detrimento da formação completa dos estudantes. “Educação Física não é só um, dois, três, quatro, ou botar os meninos para sair correndo feito loucos. É também a educação humana integral, com atividades físicas, desportivas, recreativas e de lazer”, afirma.

Ele considera a prática esportiva fundamental, mas como um apêndice da Educação Física. “O esporte é o melhor veículo para a educação, mas a Educação Física inclui muito mais que o esporte e pode servir para reduzir a violência, combater o consumo de drogas, tirar as crianças das ruas, prevenir doenças degenerativas, e isso tudo de forma barata”, enfatiza o também professor da UFRN. Ele cita como exemplo o projeto Ayrton Senna, que usa o esporte como uma “isca” para promover todo um trabalho de inclusão social.

Roberto Cabral também participa da rede “Agita Mundo”, que estimula a prática da atividade física regular, e lamenta a falta de uma política pública que trabalhe esse estímulo em Natal. “E nossa cidade tem muitos espaços, beira-mar, um clima bom, uma brisa ótima, ou seja, um ambiente muito favorável para se adotar um estilo de vida saudável, com atividades cotidianas”, ressalta.

Dentre as preocupações do professor, uma é exatamente a carga horária limitadíssima da disciplina nas escolas públicas. “A Educação Física hoje nas escolas está sucateada, com espaços sucateados e é um contra-senso termos um dia de aula apenas, quando as pesquisas do mundo todo preconizam a prática regular da atividade física”, lamenta, lembrando que era exatamente na escola onde a cultura da atividade cotidiana deveria ser incentivada. 

Isso ajudaria na melhora da qualidade de vida, contribuindo no combate a doenças cardíacas, da coluna, diabetes, entre outras. “Mas os governos preferem investir na medicina curativa do que na medicina preventiva”, critica. “Para mudar isso, não é preciso regulamentação, nem leis, mas bom senso”, defende. A infra-estrutura, porém, também precisa ser ampliada para permitir a ampliação das atividades.

Roberto Cabral defende a descentralização das ações, para que todas regiões da capital possam ser beneficiadas com estruturas adequadas, como piscinas e campos, e não apenas as quadras. “As escolas mesmo têm de abrir nos finais de semana”, defende. Ao mesmo tempo, o diretor avalia que as competições estudantis acabam não funcionando para incentivar a prática. “Os Jerns, por exemplo, só servem para o poder público bancar os colégios privados a conseguir resultados e mais matrículas”, resume.

Escolas não apresentam estrutura adequada

Escolas sem quadras. Quadras sem estruturas. Estruturas sem equipamentos. Escolas com quadras, estruturas e equipamentos, mas sem tempo para as aulas de Educação Física. Os professores dessa disciplina revelam que na rede municipal serão diversos os desafios a serem enfrentados pela próximo administração da cidade. “Precisa melhorar muito. A escola onde ensino (Francisca Ferreira, no Bom Pastor) passou por uma reforma recente, mas a verdade é que a grande maioria não tem estrutura adequada para a Educação Física”, reconhece o professor José de Arimatéia Ciole.

Já Paulo César de Carvalho, da Escola Antônio Severiano, do Pirangi, enfrenta uma situação ainda mais complicada. “Em todo este ano, se pude dar aulas durante um mês foi muito. Isso porque a quadra que fizeram lá, se chover um pingo fica impossível ter Educação Física, porque o telhado só cobre o espaço da quadra, nem um centímetro a mais, e a cada chuva acaba alagando tudo”, critica.

No seu entender, o poder público investe pouco e ainda aplica mal o dinheiro. “Gastaram R$ 50 mil para trocar somente um alambrado”, reclama o professor. Outra preocupação de Paulo César é com a baixa carga horária. “Uma aula por semana mais prejudica do que ajuda”, explica, comparando a situação com os riscos à saúde aos quais se expõem os chamados “atletas de final de semana”, que ao invés da prática regular de exercícios, limitam-se às “peladas” uma vez a cada sete dias.

Mesmo os professores contemplados com estruturas mais adequadas também sofrem com esse problema. Na Escola Francisca de Oliveira, zona Norte de Natal, as instalações são melhores, por se tratar de um “colégio modelo” recém construído, mas a única quadra existente sequer comporta uma aula de cada turma por semana. “Se forem aumentar para duas horas semanais, não sei onde vamos colocar as turmas de Educação Física e acho que teremos de acabar com as equipes de esportes”, ressalta o professor Marconi Medeiros.

Ele e Paulo César reconhecem que há dificuldade na reposição de material esportivo, o que muitas vezes leva os professores a utilizarem equipamentos particulares. “Montei um projeto de xadrez e pedi 20 jogos de peças para começar. Até hoje, o projeto reúne 31 alunos da escola, mas somente porque uso três jogos que tenho”, ressalta.

Ainda assim, os três professores se encontram em uma condição melhor do que os das mais de 30 escolas municipais nas quais não há quadras poli-esportivas. Muitas desenvolvem suas aulas de Educação Física em meio aos espaços de convivência, áreas abertas e salas destinadas originalmente a outras finalidades.

Abertos jogos escolares municipais

Foram abertos ontem os 23º Jogos Escolares Municipais (JEM’s). A competição reúne cerca de 3 mil estudantes, de um total de 40 escolas de Ensino Fundamental da rede municipal de Natal. Porém, o chefe do setor de Cultura e Desporto da Secretaria de Educação, Maxwell Albuquerque, entende que o objetivo dos jogos não deve ser apenas o de premiar os melhores atletas e equipes.

“O foco não tem de ser o de procurar a qualidade, mas sobretudo a quantidade e a participação. A prática esportiva tem de ser uma prática democrática, aberta a todos e não só aos de alto rendimento”, enfatiza. Ele lembra que o importante é estimular a inclusão desses estudantes nas atividades físicas, não a concorrência pura e simples por medalhas. Ainda assim, muitos alunos também acabam se destacando e sendo convidados pelas escolas particulares, onde geralmente ganham bolsas e melhores condições de estudos.

Apesar de a abertura oficial ter sido na tarde de ontem, no Palácio dos Esportes, os jogos tiveram início antes, com as partidas da competição de futsal, uma das modalidades mais disputadas. “Teremos 160 jogos de futsal, por isso já começamos antes”, observa. A atenção especial dada ao futsal é um reflexo não só do amor do brasileiro pelo futebol, mas principalmente da própria estrutura esportiva existente nas escolas. As quadras são os equipamentos mais comuns e o esporte é o que exige menor estrutura, em relação às redes de vôlei, ou às cestas de basquete.

As atuais quadras, aliás, deverão ganhar reforços a partir de agora. De acordo com o chefe do Setor de Desporto, a expectativa é que os futuros projetos das novas escolas incluam estruturas complementares, com espaços para colocação do material utilizado pelos professores, vestiários e outras instalações que permitam ampliar o trabalho dos educadores.

Os JEM’s prosseguem até 27 de setembro, abrangendo um total de 12 modalidades de competição: atletismo, capoeira, dança, futebol de areia, futebol de campo, futsal, ginástica, handebol, judô, voleibol de areia, voleibol de quadra e xadrez. A grande novidade será a participação dos alunos da Educação de Jovens e Adultos e ainda a presença de duas modalidades de demonstração: o karatê e a ginástica rítmica.

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