Rafael Duarte – jornalista
Uma rápida constatação óbvia sobre o Festival de Martins — que reuniu numa tacada só, durante o fim de semana, a gastronomia, a cultura e o lazer: o evento é turístico.
Subir a serra nesta época do ano, além de exercitar o músculo, faz o homem mexer no bolso. Das diárias cobradas nos hotéis e pousadas espalhados pela cidade ao valor dos pratos nos restaurantes candidatos ao posto de campeão do festival, escapou quem teve criatividade. Por culpa da tentação, a maioria não teve. Não que o turista tenha ficado com o filé enquanto a população local se contentou com o pão amassado pelo demo. Mas da gastronomia, o nativo pouco sentiu o cheiro.
Talvez a solução para diminuir essa distância não passe pelo radicalismo de um festival do badejão ou a abertura da concorrência para o restaurante “barriga-cheia”, mantido pelo Governo. Até porque, noves fora as brigas políticas que a gente sabe que existe nas cidades do interior, os especialistas iriam dizer que gastronomia é coisa fina antes de comprovar a tese mostrando as mesas lotadas. Usariam ainda a fome dos turistas. Os restaurantes, por sinal, desceram a serra domingo de manhã porque a comida acabou no sábado. Como diz o outro, no frio a vontade de comer aumenta.
Para a próxima edição, fica a responsabilidade de pensar em alternativas para incluir a população local no festival. Ficou a impressão de que a prefeitura e os comerciantes da cidade dormiram no ponto. Até a tradicional (e rentável) venda de souvenirs com o nome da cidade passou batida. A produção do festival foi perfeita num evento voltado para o turista. Mas trabalhou sozinha.
O fato lembra uma daquelas histórias folclóricas de Garrincha na Seleção Brasileira. Na Copa de 1958, quando o técnico Feola armou um superesquema infalível para marcar um gol no adversário com direito a explicações didáticas sobre o posicionamento num quadro-negro da concentração, Garrincha levantou o dedo e perguntou inocente: “treinador, o senhor combinou com os russos?”