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Família é expulsa de casa por gang de traficantes

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FUGA - Silvia Duarte, o marido e seis filhos tiveram a casa alvejada por tiros

Augusto César Bezerra e Everton Dantas – Repórteres

Ameaçada por traficantes de drogas que atuam livremente no conjunto Nossa Senhora da Apresentação, na Zona Norte de Natal, a dona-de-casa Silvia Duarte Lima, 41 anos, o marido dela, os três filhos e o neto abandonaram a casa às pressas na tarde de ontem para não serem mortos. A família morava há 17 anos na mesma casa, mas nos últimos dias sofreu dois atentados de traficantes de Mãe Luíza que se instalaram no bairro. “Estou sendo expulsa pela força do tráfico. Deus sabe a dor que eu estou passando em deixar a casa que eu levantei com as próprias mãos”, desabafou.

Na manhã de ontem, Silvia Duarte estava, junto com os filhos, arrumando a mudança forçada. A casa simples, na rua Novo Oriente, ainda tem as marcas do atentado ocorrido há dez dias. Buracos de bala estão aparentes nas paredes. Na porta principal as tábuas destruídas a tiros foram trocadas.

Segundo a dona-de-casa, o atentado foi cometido por três homens armados e encapuzados. Eles chegaram de madrugada atirando com armas de grosso calibre. A porta da frente e a da lateral foram crivadas de balas. A parede da frente foi alvo de tiros de espingarda calibre 12.

Silvia Duarte estava com os filhos e se escondeu no quarto, nos fundos do imóvel. Ela rezou pedindo a Deus que os protegesse. Foram vários minutos de terror. Os bandidos conseguiram arrombar a tiros a janela do quarto. Um deles passou o cano da espingarda por dentro da janela e apontou para o quarto. Ele deu vários tiros. Silvia Duarte, nesse instante, diz ter ouvido um sussurro. Algo que ela chamou de uma ajuda divina. “Eu ouvi uma voz dizendo: morri, morri. Aí eu gritei: morreu! Mataram minha criança! Vocês mataram! Vocês mataram!”, contou.

Os bandidos ouviram os gritos e, certamente, pensaram que tinham atingido o objetivo e fugiram. Silvia Duarte ainda ficou vários minutos escondida antes de deixar a casa. Nenhum vizinho teve a coragem de ligar para a polícia. “O povo tem medo. Quem manda aqui não é a polícia. São os traficantes”, contou.

 Na tarde de segunda-feira, três homens armados – desta vez sem capuzes – voltaram a cercar a casa. Mas para a sorte dela, o veículo deles  – um Kadett preto – ficou atolado. “Era umas três da tarde. Eu liguei para a polícia e eles só chegaram às seis da noite. O carro ficou aqui a tarde toda e a polícia não fez nada”, disse.

A dona-de-casa revelou o apelido dos suspeitos: “Tampinha”, “Novinho” e “Tota”. “Eles são de Mãe Luíza e colocaram uma boca de fumo na rua Couto Magalhães. Algum motivo eles têm para estar me ameaçando, mas desconheço. Acho que alguém inventou uma mentira sobre mim, dizendo que eu era informante da polícia ou coisa assim.Vou embora”, disse.

Paralisação prejudica investigação

A greve dos agentes e escrivães da Polícia Civil, iniciada na semana passada, prejudica as investigações do atentado no Nossa Senhora da Apresentação e do homicídio no bairro Potengi.

Apenas os delegados dão expediente normal nas delegacias da zona norte de Natal. Os agentes do setor de investigação estão de braços cruzados. O descaso é tamanho que até ontem nem a Polícia Civil, nem a Polícia Técnica, tinham ido ao local da execução do servente Henrique Sidney.

A dona-de-casa Silvia Duarte disse que apenas a Polícia Militar se apresentou para atender a ocorrência, mesmo assim, horas depois do atentado. “Espero que a divulgação do meu caso motive alguém a fazer alguma coisa”, falou.

Procurar ajuda é a melhor resposta

Em casos como o da dona-de-casa Silvia Duarte Lima, ameaçada por traficantes, o melhor a fazer é realmente procurar algum lugar para garantir a própria segurança. Tanto o presidente do Comitê de Vítimas da Violência, Daniel Alves Pessoa; quanto o coordenador estadual de Direitos Humanos, Marcus Dionísio Medeiros Caldas, concordam que esse é o primeiro passo para começar a cessar a situação de violência.

Mas os dois concordam também que somente a mudança de local, a fuga, não é suficiente para cessar a violência. Para Daniel Pessoa, após proteger-se, o primeiro passo é procurar a Coordenadoria de Direitos Humanos porque esse é o órgão que pode providenciar proteção e iniciar alguma ação contra os agressores. Isso porque a Coordenaria age em conjunto com o Ministério Público, sua Promotoria de Defesa dos Direitos Humanos.

Daniel Pessoa aconselhou que a procura pela imprensa também pode ser um bom caminho porque cria uma aura de proteção sobre o caso. “Em geral dão certo esses passos”. O presidente do Comitê Vítimas da Violência explicou ainda que por intermédio da Coordenadoria de Direitos Humanos a vítima pode ser encaminhada ao programa nacional de proteção a testemunhas. No Estado, segundo ele, 40 pessoas fazem parte do programa.

O Comitê do qual Daniel Pessoa faz parte está se articulando para passar a coordenar esse serviço no Estado. Devido à Copa do Mundo e às eleições, isso só deve ocorrer em outubro. Marcus Dionísio Caldas, por sua vez, disse que além de procurar algum refúgio, as vítimas de violência – quando não houver greve – devem procurar a Polícia Civil, responsável pelo registro do caso e início da investigação.

Em seguida, o melhor caminho é buscar assistência junto à Coordenadoria Estadual de Direitos Humanos, que avaliará o caso e conta com a parceria da Promotoria de Defesa dos Direitos Humanos. O coordenador explicou que a partir do conhecimento do caso, a situação será avaliada para saber se é um caso de proteção à testemunha de crime ou simplesmente a uma vítima.

A diferença é que no primeiro caso há a possibilidade de ingresso no Serviço Nacional de Proteção à Testemunha. No segundo, o Estado é quem vai se encarregar de dar proteção. Com relação ao tempo de atendimento, Marcus Dionísio explicou que tudo vai depender da situação. “Já houve casos de ingresso em 24 horas”.

Atentado semelhante

O atentado no conjunto Nossa Senhora da Apresentação tem as mesmas características do assassinato de um jovem ocorrido no último dia 27, na rua Siqueira Campos, no Bairro Potengi, Zona Norte de Natal. Quatro homens encapuzados, fortemente armados, executaram com um tiro na boca o servente de pedreiro Henrique Sidney Pereira e balearam nas pernas outros cinco jovens. O crime, segundo um investigador, pode ter sido cometido por traficantes de drogas.

A execução foi marcada pela frieza dos assassinos. Os bandidos saíram do mato e surpreenderam os seis jovens que conversavam próximo a um poste, nas margens da linha de trem, numa região conhecida como “Galo”. Os assassinos diziam ser da polícia e estavam à procura de drogas.

Os matadores mandaram os jovens se deitarem no chão. Depois arrastaram a vítima para um matagal e o mataram com um tiro. Em seguida, os outros comparsas atiraram nos cinco jovens que foram obrigados a se deitar no chão. Os bandidos fugiram a pé roubando alguns pertences das vítimas.

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