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Família Thies fez pacto para ocultar a morte de Andréia

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CASO ANDRÉIA - Irmão da vítima esteve cara a cara com Andrei Thies

Durante 68 dias a família Thies mentiu para a polícia, sustentando a história de que Andréia Rosângela desapareceu depois de sair de casa para comprar cigarros. Mas com a descoberta do corpo na casa da família, na segunda-feira, em Ponta Negra, Hamilton, Mariana e Rodrigo, respectivamente o pai, a mãe e o irmão do sargento Andrei Thies, companheiro e assassino de Andréia, finalmente revelaram a existência de um pacto para negar o crime e tentar livrar o militar da cadeia. Eles confessaram que sabiam do homicídio, mas negaram conhecimento de que o corpo tinha sido enterrado no quintal de casa. Para a polícia, eles continuam mentido. “Claro que sabiam”, disse o delegado Raimundo Rolim.

O delegado interrogou Hamilton, Mariana e Rodrigo das 22 horas de segunda-feira até às 8 horas de ontem. Todos confessaram que sabiam do crime desde o dia 22 de agosto. Após a morte de Andréia, Andrei fez uma reunião com a família e comunicou a morte de companheira. Na conversa, ele combinou a versão do desaparecimento. Por isso, naquele dia, ele não deixou a filha mais velha da vítima, uma criança de 12 anos, entrar na casa onde o casal morava, no Cidade Verde. O corpo de Andréia, naquele horário, ainda estava dentro de casa.

Ao que tudo indica, Andrei Thies teria mentido para a própria família sobre as circunstâncias da morte. Segundo o depoimento de Hamilton, Mariana e Rodrigo, a causa da morte teria sido decorrente de um golpe conhecido como “mata-leão”. Mas, segundo exame do legista, Andréia foi morta com uma facada no lado direito da barriga. O golpe foi tão violento que chegou a atingir o tórax e a quebrar algumas costelas. A polícia acredita ainda que a arma do crime foi um facão apreendido no dia 28 de setembro na casa de Andrei. “Ela foi brutalmente assassinada”, disse.

O trio, ao ser autuado por ocultação de cadáver, disse ainda desconhecer que Andréia tinha sido enterrada no quintal da casa onde moravam, na rua São Matias, em Ponta Negra. Mas para Raimundo Rolim essa é mais uma mentira para eles tentarem se livrar  da acusação de ocultação de cadáver. “Tenho certeza de que eles sabiam que o corpo estava lá. Foram muito frios, porque conviveram todo esse tempo em meio à mentira e sabendo onde o corpo estava”, disse. O promotor público Sidharta John, que atua no caso desde que Raimundo Rolim foi designado para a investigação, confirmou a existência do “pacto de família”. “Não existe dúvida de que a família sabia do homicídio e fez um pacto para sustentar a história do desaparecimento”, falou.

Mariana, ontem, falou a TN que não sabia do corpo. “Andrei não falou que tinha enterrado lá”, disse. Hamilton também se defendeu. “Não matei ninguém”. O único que não falou com a imprensa foi Rodrigo. Mas segundo o delegado, ele foi o que mais falou no depoimento.

O trio foi autuado em flagrante delito por ocultação de cadáver. O crime é previsto no artigo 211 do Código Penal Brasileiro e tem pena de um a três anos de reclusão. Como a pena é inferior a um ano, o juiz pode conceder liberdade mediante pagamento de fiança. O advogado da família, Álvaro Figueira, vai ingressar na justiça hoje com o pedido de relaxamento da prisão mediante fiança. Hamilton e Rodrigo passaram a noite de segunda-feira na carceragem da Subsecretaria de Defesa Social, em Candelária, e Mariana na 2ª DP de Nova Parnamirim. Mas ontem o delegado Ben-Hur de Medeiros, chefe da Polícia Civil, pediu a transferência deles para  o presídio provisório e para a ala feminina da João Chaves, respectivamente.

O delegado informou ainda que a polícia vai solicitar ao juiz Eduardo Feld que a prisão temporária de Andrei, que se encerra dia 9 de setembro, seja convertida em preventiva, sem prazo para soltura.

Delegado acredita que o crime foi  premeditado

Raimundo Rolim acredita que o assassinato de Andréia Rosângela foi premeditado. Segundo a polícia, a família Thies prestou dois boletins de ocorrência contra Andréia este ano, um por calúnia e difamação e outro por abandono do lar. “Ele (Andrei) já estava se preparando. Ele queria a guarda da filha”, disse.

Para Rolim, o fato de Andréia demonstrar interesse em deixar Andrei geraria também uma despesa extra para o militar, devido a pensão, e isso acarretaria em mais endividamento para uma pessoa que já sustentava o pai, a mãe e o irmão. “O motivo seria a guarda da criança. Andréia ameaçava voltar para Porto Alegre e, lógico, ia levar a filha”, disse.

O delegado, nessa etapa da investigação, só não pode afirmar se o pai, a mãe e o irmão de Andrei tem participação no homicídio. “Que Andrei premeditou a morte isso eu tenho certeza. Mas ainda não defini a participação dos familiares dele no crime”, falou.

Sepultamento

Ainda não existe previsão para a liberação do corpo da dona-de-casa Andréia Rosângela, 37 anos, mas sua família confirmou que ela será sepultada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, seu estado natal e onde moram seus pais e familiares.

O cadáver passa por vários exames no necrotério do Instituto Técnico Científico de Polícia (Itep), na Ribeira, para confirmar a identificação. Os exames, segundo o delegado Raimundo Rolim, são necessários para que, no futuro, a defesa do sargento não peça uma exumação.

“A demora é porque estão sendo feito vários exames. É prudente nos cercamos de todos os cuidados nesse momento”, disse o delegado.

Raimundo Rolim disse que o exame inicial feito pelo médico legista confirma que a causa da morte foi a perfuração no abdômem da vítima, no lado direito, por objeto contundente – provavelmente ocasionado por uma  facada. 

Delegado diz se sentir recompensado após solução

A frente das investigações sobre o desaparecimento de Andréia Rosângela, o delegado Raimundo Rolim se sentiu aliviado e recompensado em desvendar o crime. “Eu pensava nas órfãs. A localização do corpo me tirou um peso nas costas. Agora, temos que trabalhar para apontar a participação de cada um no crime”, disse.

Além do delegado, participaram das investigações agentes da Delegacia de Homicídios e da Delegacia Geral. O delegado, ontem, contou que mesmo que o corpo não fosse localizado, tinham indícios suficientes para indiciar Andrei pelo crime. “Nós autos do inquérito temos um conjunto de provas contra ele. Desde o início percebi que o caso era complexo, mas já existiam indícios de autoria”, disse.

O delegado Ben-Hur de Medeiros teve de cancelar com urgência as passagens aéreas para o deslocamento uma equipe de policiais gaúchos e dois cães farejadores que iam ajudar nas buscas por Andréia.

 Morte de Andréia  separa as irmãs

O irmão de criação de Andréia, o empresário Alexandre Marotzky, lamentou ontem que com morte da mãe as duas filhas dela provavelmente crescerão separadas. É que Andressa, de 12 anos, está sob os cuidados do pai biológico, e Andriele, de um ano, deverá ficar sob a guarda da irmã biológica de Andréia. Apesar de ambos morarem em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a separação deverá ser inevitável.

“É muito difícil a situação que estamos passando. Uma família inteira foi destruída e, agora, duas menores estão sem mãe. A filha mais velha de Andréia está sofrendo muito, porque perdeu a mãe e está distante da irmã”, disse Alexandre Marotzky.

A cunhada de Andréia e esposa de Alexandre, Helena Marotzky, está em Natal para cuidar da pequena Andriele. “Viemos para cuidar do bebê, e a irmã biológica de Andréia já está pedindo a guarda. Se Deus quiser eles (Andrei e seus pais) nunca mais vão ver a menina”, disse.

Helena foi fonte da TRIBUNA DO NORTE em matéria publicada no dia 21 de setembro. A TN foi o primeiro jornal a divulgar o caso. Um dia após a publicação, Hamilton, pai de Andrei, entrou em contato com a redação para questionar a veiculação da notícia do desaparecimento e para tentar confirmar o nome da fonte das informações.

Helena, já naquela data, desconfiava que Andréia pudesse estar morta. “Eu tinha certeza que eles tinham matado Andréia, mas não pude imaginar que tivessem a frieza de enterrar na própria casa. Andréia era uma boa mãe e jamais abandonaria as filhas”, disse.

Alexandre também ficou chocado com a descoberta. “Foi um ato monstruoso enterrar o corpo em casa e continuar a viver como se nada tivesse acontecido. Não quero falar com ele (Andrei), mas queria saber porque ele fez isso. Ele destruiu uma família”, falou. Helena conhece a família Thies há cerca de 20 anos. Andrei e Andréia são gaúchos.

Ela contou que Andréia conheceu Andrei em uma praia e que a família dele não aprovava o namora. “Ela sofreu muito. Mas quando veio para morar em Natal com a família dele, acreditava que a situação pudesse mudar”, disse. Alexandre finalizou a entrevista dizendo que não quer mal a Andrei e seus familiares, mas espera que eles paguem na justiça pelo que fizeram.

Vizinhos não percebiam atitudes suspeitas

Carla França – Repórter

Na manhã de ontem, a rua São Matias, no Conjunto Alagamar, não parecia em nada com o cenário de tumulto e confusão do dia anterior – quando a polícia  encontrou, 68 dias depois do desaparecimento, o corpo da dona de casa Andréia Rosângela Rodrigues, enterrado no quintal da casa da família Thies.

Os vizinhos não perceberam durante todo o tempo atitudes suspeitas por parte da família de Andrei. Outros sequer tinham conhecimento de quem eram os moradores da casa 36, onde residiam desde 22 agosto, Hamilton, Mariana e Rodrigo, respectivamente os pais e o irmão do sargento.

Dezessete horas após encontrado o corpo, a rua estava praticamente deserta, só depois da chegada da reportagem da TRIBUNA DO NORTE alguns vizinhos saíram de suas residências para ver o que estava acontecendo. De acordo com um morador, a rua São Matias sempre foi muito tranqüila e ninguém nunca desconfiou de nada, até porque, segundo ele, os moradores dificilmente saiam de casa.

“Era muito difícil ver os donos da casa e o filho deles. De vez em quando eu via umas crianças, mas também era muito difícil”, disse Marcelo Silva, que mora há quatro anos no local. Marcelo informou ainda que essa não é a primeira vez que a família alugou a casa. “Eles já moraram aí por dois anos, depois saíram e em agosto voltaram para a casa 36”.

Uma outra moradora, que preferiu não se identificar, também não conhecia os atuais moradores, que segundo ela, era a primeira vez que moravam naquela rua. “Eu estou aqui há 15 anos e nunca aconteceu nada parecido. Com relação a essa família, acredito que assim como eu, ninguém tinha contato com eles, até porque vieram para cá no final de agosto, por volta do dia 20”.

A moradora contou ainda que o proprietário da casa 36 também é um membro da Aeronáutica. “Eu conhecia o dono da casa, que também é da Aeronáutica. Uma pessoa muito boa, que se mudou para Belo Horizonte com a família depois de ter passado em um concurso. Acredito que eles eram colegas de farda e por isso alugou a casa”.

Irmã culpa sogra de Andreia

Michelle Ferret – Repórter

Priscila Rodrigues, irmã legitima de Andrea Rosângela Rodrigues chegou ontem em Natal para acompanhar as investigações do assassinato e pedir a guarda da bebê de um ano, filha de Andrea com o sargento Andrei Thies.

Andrea e Priscila nasceram na cidade de Tramandaí, no Rio Grande do Sul e foram abandonadas pela mãe ainda pequenas. Hoje Priscila tem 29 anos e é mãe de três filhos. Muito ligada à irmã, ela sentia quando as coisas não iam bem. Desde a última vez que se falaram pelo telefone, no dia 15 de agosto, cinco dias antes de seu desaparecimento, Priscila percebeu que a irmã estava muito triste, embora não conseguisse expressar verbalmente. “A idéia que eu tinha era que ela estava sendo vigiada o tempo inteiro pela família dele, que nunca gostou da minha irmã por ela ser pobre”.

Entre agressões e maus tratos, Andrea tentava manter seu casamento num misto de sentimento de paixão e medo. Logo após a primeira tentativa de casamento, em 2006, Mariana Thies (mãe de Andrei) rasgou todas as suas roupas e a fez dormir por sete dias dentro de um carro por não suportar a presença da nora em sua casa. 

Desde o desaparecimento dela, a família Thies não entrou em contato em nenhum momento com a família da moça. “Só soube do desaparecimento da minha irmã 15 dias depois, quando eu liguei para falar com ela e o Hamilton (pai de Andrei) me disse que ela estava com distúrbio bipolar e  tinha saído de casa para comprar cigarros e não voltou mais”.

Com lágrimas nos olhos e a tristeza de sentir que a morte da sua irmã aconteceu por motivos banais e doentios, Priscila falou em entrevista coletiva ontem pela tarde à imprensa, da angústia de ver a irmã sofrer, da certeza de que a mãe de Andrei teve participação no crime e do medo que ela tinha que a irmã pudesse ser morta a qualquer momento.

Quando sua irmã desapareceu, qual foi sua intuição? Passou pela sua cabeça que ela poderia ter sido morta?
Eu já esperava isso, que ele havia feito o pior. Aquela história de comprar cigarro era conversa afiada. Sentia isso pelo histórico que eu já sabia, como as coisas aconteciam. Quando a gente se falava eu sentia que não estava nada bem, mas sentia também que ela estava sendo vigiada o tempo inteiro pela família dele.

Como era o seu relacionamento com sua irmã?
Nós tínhamos uma ligação muito forte. Ela ajudou a me criar, quando a gente foi abandonada. Uma sabia o que a outra sentia. A última vez que nos falamos, no dia 15 de agosto ela não falou, mas eu senti que ela estaria triste. A voz dela não era a de quem estava feliz no casamento de 10 meses.

Como eles se conheceram? Desde quando?
Eles se conheceram há 8 anos, quando ele foi fazer um curso. Depois eles tentaram se casar pela primeira vez em 2006 e a mãe dele cortou todas as roupas dela e a obrigou a dormir num carro durante 7 dias. Ela tentou se separar e não conseguia. Depois eles reataram e como ele era dominado pela mãe dele, ele fugia para a casa de Andréa. Ela nunca me dizia nada, mas eu sabia que ela era coagida por eles.

Você acredita que a mãe dele possa ter algum envolvimento no assassinato?
Na minha opinião, como família, a mãe dele teve grande parcela de culpa. A mãe dele não aceitava a minha irmã do jeito que ela era e jogava isso sempre na cara dela. Certa vez ela entrou na casa de Dona Ligia (que é a mãe adotiva de Andrea) e ameaçou minha irmã de morte, disse que ela era pobre e que não merecia o filho e que mataria ela por isso.

Você conhece a mãe dele?
Eu nunca a vi pessoalmente, mas sei que ela sempre teve ódio da minha irmã. Ela tinha inveja porque Andrea iria casar com Andrei e os benefícios iriam para a nova família. Como o Andrei quem sustentava todos eles, o pai, a mãe e o irmão, eles não aceitavam isso.

Sua irmã era apaixonada por ele?
Infelizmente era e demais… Um dia ela me mostrou uma foto dele e perguntou o que eu achava e eu disse que não sabia porque não se pode achar nada de alguém pela imagem.

Sua irmã foi agredida várias vezes, porque ela não desistiu dele?
Ela tentou várias vezes, mas ele ameaçava. Ela ainda tentou fugir, mas Nadressa (filha mais velha de Andrea), disse que eles esconderam todos os documentos da minha irmã para que eles não saíssem do Estado. Minha sobrinha contou que lá na casa era tudo controlado, o pai do Andrei andava com um molho de chave e ela tinha que pedir autorização para tudo.

E a filha mais velha dela, como recebeu a notícia da morte da mãe?
Ela está muito triste e chocada. A reação foi a pior possível, porque ela ainda tinha esperança de ver a mãe viva e nos dizia isso o tempo inteiro.

Ela está com quem agora?
Andressa está com o pai dela (Adriano Mansio) e ele está com a guarda provisória da menina.

E a filha de um ano? Você pediu a guarda dela?
Agora estou com a guarda provisória, entrei com o pedido de guarda definitiva ainda hoje. Se deus quiser, conseguirei.

Você quem reconheceu o corpo?
Não… Minha família quer que ela vá para o Rio Grande do Sul, estamos aguardando o laudo e a liberação do corpo. Não tem previsão ainda.

Se você pudesse fazer um pedido para o Juiz que fará a sentença deles, o que você diria?
Para ele fazer o que a polícia fez com competência, justiça!

E se você pudesse estar frente à frente com o Andrei, O que você faria?
Com toda franqueza do meu coração, quero que ele pague. Isso é coisa de gente trouxa e covarde. Ele não pensou em nenhum momento na filhinha dele. Ele pensou que podia fazer tudo e que nós por sermos pobres não poderíamos fazer nada, mas a justiça existe e vai ser cumprida. Ele vai pagar por tudo o que ele fez, tanto pela justiça daqui, quanto pela justiça do céu.

Qual a recordação que ficou da sua irmã?
Ficou o sentimento de amor e carinho que ela dedicou a todos e principalmente a nossa família. Eu quero aqui agradecer de todo o coração ao Secretário de Segurança Carlos Castim, o delegado Ben Hur Medeiros, o delegado Raimundo Rolin, ao advogado Sandro França a toda equipe pelo empenho e também a toda a imprensa que sempre procurou tratar o caso com verdade.

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