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“Fazer bonecas é a minha terapia”

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Se eu começar essa entrevista apresentando Marcus Vinícius Bernardo, provavelmente, poucas pessoas saberão quem é. Mas se o destaque for para Marcus Baby, o natalense que ganha fama confeccionando bonecas de famosos, fatalmente milhares saberão de quem se trata. Depois de seis anos que produziu a primeira boneca, inspirada na cantora Baby do Brasil, Marcus ganha projeção nacional. Por enquanto, as bonecas dão fama, mas ainda não se transformaram em negócio. Nenhuma das 119 bonecas produzidas por ele, como a de Dilma Rousseff, Leny Kravitz, Madonna, Hebe Camargo e Xuxa, foi comercializada. Propostas, é verdade, não faltaram. Mas Marcus afirma que esse é um hobby, que gerou a coleção de bonecas, mas ele não vende nenhuma.

Marcus Baby produz bonecas como hobby, mas a atividade profissional é mesmo Técnico em Edificações.E como todo hobby, esse natalense não se impõe tempo para concluir a boneca, mas afirma que produziu Ivete Sangalo em três anos. Já Regina Duarte, no papel de Viúva Porcina, foi feito em poucas horas. A confecção das bonecas de famosos é uma terapia que soa como coisa séria. Afinal, Marcus confirma que chega a receber telefonema da assessoria de alguns famosos pedindo para ele criar bonecas só para que o artista volte a mídia, através da boneca.

Mesmo afirmando que as bonecas ainda são apenas um hobby, 2011 poderá marcar o lançamento da marca Marcus Baby no mercado. O artista confirma que está em negociações com uma empresa para lançar o seu nome como marca de uma boneca. Nas bonecas Marcus Baby demonstra um detalhismo impressionante, tantos detalhes quanto os que traz na conversa que você passará a ler em seguida. O artista natalense transparece alegria, sorri com facilidade, é gentil e simples. É literalmente um famoso com os pés no chão e a cabeça de sonhos.

Com vocês, Marcus Baby.

De onde veio a ideia de começar a fazer boneca?

Veja só, eu sou o típico colecionador. Desde que me entendo por gente eu coleciono revista em quadrinhos, figurinha, tampinha de garrafa, tudo que é de colecionar eu faço. Um belo dia na década de 90 eu estava assistindo um programa da MTV, era um programa onde o entrevistador ia na casa da pessoa famosa e mostrava os ambientes da casa. E esse cara mostrou um ambiente da casa dele que tinha umas pranchas cheias de boneco que ele comprava na viagem. Quando eu vi aquilo fiquei alucinado. Aquilo ficou na minha cabeça e eu disse: preciso fazer uma coleção dessa. Até então eu era ligado em fotografia. E fotografia é bidimensional e a escultura em si é tridimensional, você vira, você olha, tem volume. Eu disse tenho que colecionar. Isso era lá pela década de 90. Comecei a pesquisar sobre esses bonecos e descubro que os bonecos eram uma nota, eram importados e não tinham no Brasil. E eu amoleci com a história. Pensei, que não ia dar certo. Mas fiquei sempre com aquela idéia. Um belo dia fui na casa de um amigo meu que faz show de transformismo, é o Marlúcio Ramalho. Ele faz desfile de roupas recicladas. É um dos artistas da terra que está escondido, apagado e ninguém sabe quem é. Meu amigo estava entendiado porque estava sem agenda. Eu vi umas bonecas da irmã dele jogadas no chão e eu disse: Marlúcio por que você não transforma uma boneca dessa numa Elba (Elba Ramalho)? Com uma semana eu fui lá e ele mostrou três versões que ele havia feito. Quando eu vi achei fantástico, mas pensei que faria melhor ou diferente. Já saí da casa dele com uma idéia fixa que eu ia fazer esses bonecos. Comecei a ir a loja de brinquedos para criar coragem e comprar uma Barbie. Por mais que você tenha uma cabeça boa, não é uma coisa tão simples um homem chegar e comprar uma boneca Barbie. Eu tenho isso, travo e olhe que minha criação foi maravilhosa. Eu e meu irmão somos livres de preconceito. E comecei a estudar para ver como se customizava boneca. Vi que existia essa arte, mas aqui no Brasil só uma menina paulista, descendente de japonês, que fazia. Comecei a ver como era caprichado. Aí comecei a aprender, saí procurando em sites estrangeiros os termos técnicos. Eu ia enlouquecendo, era uma coisa dentro de mim de que eu precisava fazer isso. Meu estágio de loucura terminal foi em novembro de 2005, um amigo meu chegou e perguntou o que eu queria ganhar de presente de aniversário. Eu respondi que queria uma Barbie, mas pedi também o Ken. Ele perguntou para que eu queria esses dois bonecos. Eu disse que iria transformar a Barbi e o Ken na Baby (Baby do Brasi) e no Pepeu (Pepeu Gomes, marido de Baby do Brasil). Meu amigo não levou a sério, mas comprou. Só que ele comprou uma Barbie branquinha e um Ken negro e o Ken negro não iria funcionar para fazer o Pepeu. Mas tudo bem. No dia que recebi eu já comecei a ver como iria fazer. Em 2005 fiz a boneca da Baby, modéstia a parte o resultado ficou muito legal. E as pessoas perguntavam cadê o Pepeu, mas eu dizia que tinha um boneco negro, mas aí pensei que esse boneco ficaria bem se eu fizesse o cantor Leny Kravitz e eu estava na rua e comprei um boneco para fazer o Pepeu. O negócio já foi puxando o fio. Fui numa loja de brinquedo e na hora que fui comprar o Ken comprei também uma Barbie loira pensando em fazer a Madona. Isso começou e não acabou nunca mais.

Você já fez quantas bonecas?

Tenho prontas 119 bonecas, todas na minha casa.

Você comercializa essas bonecas?

De jeito nenhum. É um hobby. É a mesma coisa de quando comecei a fazer. É a minha terapia, é meu momento de lazer, esqueço horário de almoço, de janta, esqueço que o carro está sem gasolina, que tenho conta.

Mas um hobby pode ser negócio. Por que a resistência?

Algumas empresas já contactaram. As pessoas acham que eu faço isso porque tenho a sorte pelo marketing que o artista está em evidência e eu lanço o boneco. Mas quando faço o boneco faço por uma terapia minha que não tem relação com prazo de entrega, de ter que ter produto em quantidade, saber se o cliente vai gostar. Eu quero sair dessa. Não quero isso. Como é uma terapia, não me interessa. Sei que parece loucura, as pessoas podem pensar que eu não quero ganhar dinheiro. E quero, o nome Marcus Baby divulgado, querem que eu dê palestra, aula, querem que eu apareça na novela das oito, vou lá. Isso é outra conversa. Mas eu vender como artesão o meu boneco não. Primeiro porque não iria ser valorizado, é agora porque a Dilma Rousseff (ele fez a boneca da presidente do Brasil) apareceu.

Você já mostrou ao personagem original o boneco feito por você?

Já. A maioria. Ano passado alguns artistas famosos entraram em contato com a proposta de junto com o fabricante eu assinar o projeto. O boneco sair com minha assinatura. E eu concordei. Tem uns que não posso falar agora que estão sendo estudados. É de gente grande mesmo, nacional. Quem conheceu primeiro (a boneca de si mesmo) foi a Marina Elali. Aí veio a sequência. A Vanessa Camargo viu e colocou no site dela. A Taís Araújo saiu. Ano passado a Hebe Camargo saiu e causou um impacto gigante a ponto daquele apresentador, Otávio Mesquita, passou 45 minutos no telefone me cozinhando para eu vender a boneca da Hebe. A Hebe estava na época dando entrevista dizendo que havia se recuperado do câncer e eu já tinha a boneca pronta há três meses.

Você não vendeu a boneca da Hebe?

Não. R$ 5 mil, nem R$ 10 mil e nem R$ 15 mil. Não vendo. Ele (Otávio Mesquita) entendeu porque ele também é colecionador. Eu comecei a sair na Caras, na revista Quem, Contigo. Daqui a pouco veio Jesus Luz e Madona veio com ele e saí em todo canto de novo. Cada boneco que eu ia fazendo causava um impacto. Aí eu fiz a boneca do personagem da Aline Morais na novela Viver a Vida, a Luciana. A boneca saiu na capa de jornal com um comparativo com a boneca na cadeira de rodas que eu fiz e a Luciana.

Mas por que colocar uma boneca na cadeira de rodas. Você queria chocar?

De jeito nenhum. Eu procurei mostrar minha visão, aquela especificamente, que uma pessoa cadeirante é tão normal como uma pessoa que anda, como eu, como você. Como qualquer pessoa que sofre de preconceito.

Mas pela negociação que você está fazendo, como confirmou nessa entrevista, sua marca poderá ir para as grifes de boneca?

Poderá sim, com certeza. Já que eu não ganho dinheiro vendendo boneca vou ganhar com meu nome. Mas não é meta. É uma coisa que está fluindo, caminhando por si só. Os artistas agora já viraram meus amigos, dão telefone celular particular. As vezes a assessoria de um que está mais apagado (na mídia) liga e diz: faz um boneco para gente voltar a tona. Tem até uma cantora que será lançada agora dia 21 de janeiro, no Brasil inteiro, que a boneca que estou fazendo dela vai ajudar no segundo videoclipe. Ela vai ser uma sensação. Ela vai se lançar pela Warner Music. Meu pólo é São Paulo, tudo que acontece comigo é lá.

Qual o boneco mais difícil que já fez?

Tiveram alguns, mas a Globeleza (Valéria Valença) foi complicada por ela ser muito mínima, nua, só com o trabalho do gliter. Tive um trabalho para descobrir como fazer o degradê do gliter, como fazia as linhas mínimas fininhas. Coloco unha, cílio, já para criar o impacto e chamar atenção.

Qual a boneca mais fácil?

Nenhuma é fácil. Teve uma boneca rápida que foi a de Regina Duarte, a Viúva Porcina porque, por acaso, eu tinha todo material em mãos.

O homem é mais fácil que a mulher?

Não. É mais fácil fazer mulher. Ela tem o cabelo com mechas, tem uma roupa com destaque, tem pulseira, tem unha e fica fácil de caracterização. Já o homem não eu tenho que trabalhar mais.  O trabalho de estudo leva meses. Se eu disse para você que estou há anos fazendo Seu Jorge e ainda não está pronto. Ivete Sangalo levou três anos.

Como você faz a fisionomia do boneco?

Eu parto do seguinte princípio: observo o nariz e queixo dos bonecos. As bonecas Barbies não são iguais. Elas tem rostos diferentes.

E a boneca de Dilma Rousseff? O que procurou mostrar?

A Dilma eu vi como um momento histórico que o Brasil passou de ter a primeira presidente mulher. O critério foi só esse, não sou do PT.

Detalhes

Boneca mais bonita: a última é sempre a mais bonita, Ana Hickman
Quem não conseguiu fazer boneca: todo mundo que quero fazer eu faço, mas o Jô Soares ainda  não consegui
Sonho concretizado: aparecer no Wikepedia, falar com a Baby do Brasil
Em que acredita: na força de vontade, na energia positiva. Acredito no querer é poder.

Perfil

Marcus Vinícius Bernardo ,41 anos, é natalense, mas na infância  e adolescência morou no Rio de Janeiro. O nome Marcus Baby vem pela adoção do “nome artístico” em homenagem a cantora Baby do Brasil, da qual ele se declara fã. “Sempre fui apaixonado por ela. Quando ela vinha fazer show em Natal eu saía com uma tia maluca correndo atrás para tentar entrar no camarim, assistir o show, gritar, berrar. Tenho todos os discos dela. Tenho prazer em saber que ela sabe que eu já fiz bonequinhas dela”, lembra.
Marcus Baby produz bonecas como hobby, mas a atividade profissional é mesmo Técnico em Edificações. Ele trabalha em uma construtora potiguar.

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