Mariana Ceci
Repórter
O Teatro Alberto Maranhão completa, nesta quarta-feira (24), 117 anos de fundação. O aniversário, porém, não terá celebração. E a culpa não é da pandemia. O mais antigo teatro de Natal encontra-se com as portas fechadas para o público por causa de uma reforma. O processo que deu início ao fechamento para o começo das obras se arrasta há seis anos. A obra, iniciada em 2018, encontra-se 76% executada, e tem previsão de finalização para o dia 28 de abril. Entretanto, a gestão estadual passada do Governo do Estado deixou de fora do contrato a reforma da caixa cênica, que teve de ser licitada à parte pela atual. Na prática, portanto, ainda não há data para que o Teatro seja reinaugurado.
A obra está sob responsabilidade do Governo Cidadão. O valor total do projeto que está em curso atualmente é de R$ 10.481.338,69. De acordo com o Governo Cidadão, resta a conclusão de serviços como emassamento de paredes, pintura, revestimento, restauro de ladrilhos, finalização de recuperação do forro, conclusão das instalações elétricas e hidráulicas, ligação da subestação e a limpeza final.
O resultado da licitação para a obra da caixa cênica já foi homologado, tendo como vencedor o Consórcio CRM/Edcom, composto pelas empresas Ramalho Moreira e Edcon Comércio e Construções Ltda. Falta ainda a assinatura do contrato, que será no valor de R$ 2.534.335,37.
O Teatro Alberto Maranhão é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico no Rio Grande do Norte (IPHAN). Ele foi originalmente projetado pelo engenheiro José de Barredo, e a construção teve início no ano de 1898. Seis anos depois, em 1904, o prédio foi inaugurado sob o nome de Teatro Carlos Gomes.
A edificação passou por diversas reformas ao longo de sua história: no segundo governo de Alberto Maranhão, sendo reinaugurado em 1912; na gestão municipal de Djalma Maranhão, em 1959; e em 2004, quando completou 100 anos de fundação e passou por mais uma reforma, essa focada na acessibilidade e climatização do espaço. A reestruturação atual é a mais longa, e quase se equipara com o tempo levado para erguer o empreendimento, no início do Século XX.
De acordo com a atual gestão do Governo do Estado, o projeto deixado pela gestão anterior encontrava-se 5% concluído e apresentava uma série de erros. Outros aspectos, como a própria caixa cênica, foram completamente esquecidos no projeto de reforma. Os entraves burocráticos e a necessidade de refazer parte dos projetos são as principais razões pelas quais a reforma se arrasta por seis anos.
Desafios
O Coordenador de Teatros da Fundação José Augusto e Diretor do Teatro Alberto Maranhão, Ronaldo Costa, destaca que os desafios não devem acabar após o fim da obra. “O primeiro desafio que vamos ter em relação à reinauguração do Teatro Alberto Maranhão é a reestruturação da equipe administrativa e da equipe técnica do Teatro”, explica. De acordo com o diretor, parte da equipe se aposentou ao longo dos últimos anos, e o restante encontra-se em vias de aposentadoria. Ainda não há definição se a nova equipe será contratada por meio de um concurso público ou por meio da terceirização.
Resolvida a questão, Ronaldo Costa confirma que o segundo desafio será retomar a atividade-fim do Teatro: a concessão de pautas para artistas e trabalhadores da cultura da cidade. “Como ele sempre foi um centro agregador de pensamento e construção de conhecimento, a ideia é que o Teatro Alberto Maranhão seja espaço também para o desenvolvimento de algumas atividades”, complementa.
Essas atividades serão definidas em parceria com algumas entidades que possuem residência no espaço, como é o caso da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte. “Outra ideia é trazer a parte de ensino, sobretudo a reestruturação do centro experimental”, frisa o diretor.
Outro projeto que já se encontra em fase de desenvolvimento faz parte de uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O projeto tem o objetivo de resgatar a história do Teatro a partir da digitalização dos documentos que envolvem as pautas apresentadas ao longo dos anos no espaço. “Esses documentos continuaram a ser catalogados por muitos anos”, diz Ronaldo Costa. Parte do acervo já integra o livro de Meira Pires, teatrólogo que escreveu sobre a história do Teatro Alberto Maranhão. O objetivo é que, além de digitalizar, o acervo seja propriamente acondicionado e armazenado, para que possa servir como fonte para pesquisas históricas sobre a cidade de Natal.
Obras da Escola de Dança avançam
Um patrimônio histórico totalmente recuperado será entregue ao Rio Grande do Norte ainda este mês, conforme prometido pelo Governo do Estado. A obra de recuperação e ampliação da Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (EDTAM) está quase concluída com o investimento de R$ 1,9 milhão, via Governo Cidadão e Secretaria Estadual de Turismo, com recursos viabilizados pelo Banco Mundial.
Em visita técnica no final do mês passado, o secretário Fernando Mineiro (Segri), coordenador do Governo Cidadão, apresentou o prédio reformado ao procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas do Estado, Thiago Martins Guterres; ao superintendente do Iphan/RN, Jorge Cláudio Machado da Silva; ao diretor da Fundação José Augusto, Fábio Lima; e à diretora da EDTAM, Wanie Rose.
“Agradecemos a sensibilidade dos órgãos que uniram esforços com o Governo para que hoje a gente pudesse estar neste exemplo de obra executada de forma correta”, lembrou Mineiro. A expectativa é que depois da obra, a EDTAM volte a receber a média de 500 alunos por ano.
A retomada da obra com todas as adequações só foi possível após a assinatura de um Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) com o Ministério Público junto ao TCE, com a aprovação unânime do pleno da Corte de Contas. Este TAG foi pioneiro por se tratar de uma obra física.
Atualizada às 15h10