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Feito torto para funcionar direito

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Luís Cláudio Dallier
Diretor de Serviços Pedagógicos do Grupo Estácio

Um mestre carpinteiro já falecido, ao responder a um engenheiro por que os barcos artesanais cheios de curvas e construídos sem cálculos matemáticos não afundavam, explicou que o barco era “feito torto para ficar direito”.

A frase deu título a um documentário que mostra a proeza de carpinteiros navais, com pouco ou nenhum estudo formal, na feitura de embarcações utilizadas por pescadores na costa brasileira.

A eficiência dos barcos a motor, a comodidade de embarcações que usam tecnologia de ponta e o predomínio do transporte rodoviário, no entanto, parecem selar o desaparecimento desse tipo de conhecimento e prática. Como na história recente das atividades humanas, a tecnologia tende a superar saberes e ofícios populares.

Mas se o barco feito torto funciona direito, pode-se perguntar por que a tradição dessa técnica corre o risco de desaparecer.

Uma resposta possível tem a ver com as demandas por eficiência, eficácia e produtividade nas atividades ligadas às embarcações, tornando dispensáveis barcos pouco velozes ou sem atratividade para fins econômicos.

Entretanto, a substituição de objetos artesanais por outros mais produtivos e funcionais não deslegitima o saber popular ou o senso comum, distintos do método científico e da tradição acadêmica.

A apreensão da realidade e a resolução de problemas podem ser realizadas por conhecimentos e saberes diversos.

A escola e a universidade, como espaços privilegiados do conhecimento, devem promover o diálogo entre os diferentes saberes.

Alunos que dominam apenas saberes tradicionais ou populares precisam vivenciar a educação formal sem que seu conhecimento prévio seja ignorado ou objeto de preconceito.

Se a ciência e a filosofia podem até partir do senso comum, mesmo que para superá-lo, é preciso despertar nos alunos o interesse pelo conhecimento formal construindo pontes com os saberes que eles já dominam ou aos quais estão expostos.

Assim, processos cognitivos considerados sinuosos ou tortuosos não devem ser desprezados, mas explorados para que os educandos avancem na aventura da construção do conhecimento.

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