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Felinos

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Vicente Serejo
Não duvido do rugir dos leões, do balir das ovelhas, do coaxar dos sapos, da gargalhada    terrível das hienas. Quem sou eu pra discutir sobre os achados da ciência. Mas, às vezes, duvido que o ser humano tenha vindo só, e tão só, do macaco. A sua evolução biológica não teria sido completa. A sensação é que o ser humano, na mutação mais recente, teria também o DNA dos felinos, se tomarmos como prova de semelhança e beleza o que há de mais misterioso: o olhar.
Também não entro nos meandros das coincidências e singularidade das raças, humanas e animais, para comparar com os primatas. Prefiro também deixar para a ciência o mister desse mistério. Mas, acredito que os humanos tenham a semelhança a se revelar nos olhos. Dos gatos mansos e domésticos aos tigres selvagens das inóspitas savanas. O olhar é a mais pura expressão da superioridade do córtex e não precisa de ciência para chegar a uma tal e tão feroz constatação.
Digamos que não baste para explicar todas as dúvidas, e assim evitar-se o velho perigo do exagero que deforma as ideias. Mas, afaste-se as elucubrações mais exigentes, e tome-se o exemplo do olhar. Do desejo de amor, da fome, da revolta ou da ternura. Do olhar que vem dos famintos, e é impressionante seu clamor silencioso. Da felicidade que brilha intensamente nos olhos dos que conquistam o amor ou a tristeza do amor que se perdeu para nunca mais voltar. 
Andei um tempo interessado em saber o que a ciência e a literatura diziam das mãos, um belo milagre da rica anatomia humana e que deve ser coisa de Deus. Reuni livros, provoquei amigos médicos, até aquietar a curiosidade em algum lugar mais calmo da alma. Logo depois, botei os olhos na dor. Da carne e da alma. E sai juntando sensações. Um dia, por artes da vida, fui convidado a escrever o prefácio para um livro sobre a anestesia. Preferi escrever sobre a dor. 
Reuni – pra que negar? – um bom acervo sobre o suicídio e a morte natural em todas as dimensões, e fiz do Diabo o assunto de uma prateleira inteira. Mas, até hoje, certamente por culpa desta alma tão jejuna, jamais caiu nas mãos um belo estudo sobre o olhar. Do olho existe aqui um daqueles fascículos da velha ‘Acta Ciba’ que há anos e anos deixou de circular, depois da pequena glória que viveu nos consultórios médicos com o marketing dessa marca tradicional. 
Deve existir algo além da fisiologia do olho. Um tratado sobre o olhar e suas expressões, se posso dizer. Se existir, há de falar sobre a linguagem dos olhos que não precisa ser real para existir, viver e desviver. Naquele sentido transfigurado do poeta Murilo Mendes quando diz que o olhar leva o ser humano a compreender o mundo. Ou, se um dia, em Machado de Assis, descobrir que aquele olhar de Capitu era a triste perda diante da carne, tão desejada e tão morta. 
PRETA – Já tem apoiador do prefeito eleito, Alysson Bezerra, defendendo que ele deve abrir a caixa preta a Prefeitura de Mossoró. É preciso, antes, saber se existe essa caixa. E se não existir? 
DESAFIO – Dizia um petista de militância na UFRN, olhando o governo de Fátima Bezerra: “Só há uma saída, além de pagar os salários atrasados: inaugurar o saneamento em toda Natal”.
ALIÁS – Para o professor, não é um desafio impossível. A Caern tem os recursos federais e já conclui a última estação elevatória, nos Guarapes. Se for competente, vence o desafio do século. 
POESIA – A poesia e os poetas militantes de 65, de Recife, acabam de ganhar um senhor livro com sua história: ‘A Poesia da Geração 65’, de Marcos Faber. Bem ilustrado e com 365 páginas. 
AQUI – Há quem esteja esquecido, mas aqui no RN essa tarefa coube – e bem realizada – a Anchieta Fernandes com seu livro sobre os movimentos de vanguarda, do concreto ao processo.
CURARE – De um lobo-guará, novo na mata da política, de faro aguçado: ‘Paulinho Freire é quem sabe, na tribo de Felipe Camarão, onde estão as flechas envenenadas e com direito a usar’.  
COVID – Joga bem o prefeito Álvaro Dias quando mantém, institucionalmente, todo o serviço de atenção e atendimento a portadores do Coronavírus. Ou quem venha a sentir algum sintoma.  
PAIXÃO – De Nino, depois de ouvir um amigo vivendo as agruras da paixão proibida nesses tempos de danação: “Todo cuidado é pouco. Paixões proibidas não foram feitas para amadores”. 
ALERTA – Depois do resultado de 2018, quando os grupos familiares foram mandados para casa com seus líderes tradicionais, as urnas mostraram que ficaram mais estreitos os espaços da política familiar – dos titios, sobrinhos e madrinhas. O eleitor já tomou abuso dessas nulidades.  
REDINHA – É muito boa a ideia do prefeito Álvaro Dias de transformar o Mercado da Redinha, erguido com as pedras negras e belas que foram trazidas do mar, num centro comercial de arte e artesanato. Os artistas e artesãos de Natal nunca tiveram espaço digno. A Redinha agradece.
QUINTA – Esta coluna foi corrigir e errou. É a quinta e não a quarta, a nova edição do livro de Diógenes da Cunha Lima – ‘Câmara Cascudo, um brasileiro feliz’: RN-Econômico (1978), Senado, Brasília (1993), Lidador, Rio (1998) e Leitura, SP (2016). A próxima, pois, é a quinta. 
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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