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Fernando Bezerra: “Não nasci na política”

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ENTREVISTA- Fernando Bezerra fala sobre política e economia

A holding é formada pela Ecocil Participações (Epar), que controla a EAB, proprietária do Natal Norte Shopping, sócia da Cabo TV, da importadora FDC e da empresa de internet a rádio Supersônico. Um patrimônio empresarial que o ex-senador Fernando Bezerra quer ver crescer ainda mais. Por isso, tomou uma decisão: deixar a ponte aérea Natal-Brasília de lado e se dedicar à presidencia do conglomerado. Agora também ex-político, ele se diz feliz, garantindo que a mudança de planos nada tem a ver com a derrota nos tribunais na ação que moveu contra a senadora Rosalba Ciarlini, acusada por ele de abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação nas eleições passadas.

Tribuna do Norte – Em maio, quando a Ecocil anunciou o início das vendas do Natal Norte Shopping, o senhor já havia advertido que se estaria mais integrado ao grupo empresarial que comanda. Como o senhor chegou na política e porque está mudando agora?
Fernando Bezerra – Garibaldi (Alves) me chamou para ser suplente senador em 1990. Meu raciocínio foi: suplente de senador, não me tira dos meus negócios, me confere algum prestígio e eu dou minha colaboração política, além de atender um convite de um amigo. Então, Garibaldi se elegeu governador e, eu, senador. E aconteceu, que, logo em seguida, disputei e me elegi presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em 1998, pela primeira vez me candidatei a senador, tive vitória expressiva. Passei 12 anos no senado, quatro como suplente. Na verdade, estou voltando para as minhas origens, de onde não queria ter saído. Mas não foi o período da política que me deixou frustrações ou lembranças infelizes. Eu tive muita sorte. Poucos brasileiros galgaram tantas posições, tiveram boas oportunidades quanto eu tive. Mas eu, como senador, só suportava Brasília porque trabalhava muito. Depois, você não imagina como é prazeroso trabalhar com os filhos.  Eles estavam tocando o negócio. Hênio, o mais velho, passou por todas as dificuldades que a gente já passou. Já passei por muito sofrimento. Mas ninguém imagina o que eu já passei para chegar a esse ponto, que eu não diria folgado, mas, de certa forma, confortável. A empresa está consolidada como empresa construtora. A gente tem um shopping, é sócio de uma TV a cabo, de uma importadora, internet a cabo, entre outros. E conseguimos fazer tudo isso sem quebrar a harmonia familiar. Tenho sorte de meus filhos conviverem muito bem como amigos e cada um desempenhando seu papel dentro da empresa e do grupo. Sem brigas, isso pra mim é uma felicidade. Eu volto como líder natural, eu nunca deixei de ter o olho na minha empresa, mas sempre dei muita liberdade aos meus filhos. Mas as grandes decisões sempre foram tomadas por mim. Eu não pretendo voltar a ser um executivo. Até porque esse cargo não me cabe mais, posso até atrapalhar. Eu quero o papel de quem, já com os cabelos brancos, com a experiência de vida que eu tenho, dar conselhos e tomar decisões.

Se o senhor tivesse ganhado a ação que moveu contra a senadora Rosalba Ciarlini (DEM) e sido reconduzido ao cargo, terminaria o mandato?
Terminava meu mandato, que acabaria em 2014. Mas, veja bem. Eu me dividiria mais com a minha empresa. Meus suplentes estariam no céu, porque dividiriam comigo todas as tarefas do Senado. Eu me dediquei inteiramente de corpo e alma quando era senador. E, agora sinto, que tenho muito o que fazer aqui. Mesmo que eu fosse senador teria muito o que fazer aqui. É um momento muito especial para a economia brasileira e a do Rio Grande do Norte. Eu estou feliz. Faço questão de frisar. Não foi o fato de eu ter perdido eleição, de eu ter perdido ação. Isso é uma página virada. Estou voltando para fazer o que eu sempre fiz. É como se eu tivesse dado uma saidinha e voltei. Eu não nasci na política Aliás, se você olhar, eu era talvez o único que não era profissional na política. O resto era profissional. Nada contra eles. Bons profissionais, é bom que se diga.  Não quero fazer disso uma crítica.

Então o senhor acha que não haveria oportunidade melhor para o senhor retornar à vida empresarial full time?
Acho. Às vezes brincando, digo: pouca gente tem tanta sorte quanto eu. O RN é um estado que tem uma posição muito boa diante até do contexto regional. Temos várias atividades, mas a maior força do RN se chama turismo. E esse turismo, pode acreditar, ele mal está engantinhando. Mas o fato econômico mais importante para o estado é esse aeroporto. Eu não me canso de dizer isso. Mais importante do que uma refinaria. Quando eu disse isso quando eu era senador, só faltaram me matar, parecia até que eu tava brigando contra a refinaria sozinho. Mas não era brigar contra a refinaria, era reconhecer a importância do aeroporto. A gente hoje, cheio de orgulho, diz: olhe, nós temos 23 vôos para a Europa por semana. Sabe o que é isso? Nada! Absolutamente nada. Eu, se fosse qualquer coisa do poder público, daria toda minha força pra fazer esse aeroporto. Aliás, pra ser justo, a governadora Wilma está fazendo esse esforço. Outra coisa: eu não compreendo, que não entra na minha cabeça, é que a gente não tenha uma estação para receber uma estação de passageiros. Aí não se faz, sabe por quê? Por uma das coisas mais distorcidas desse país, alegando que o porto é federal. Que diabos custa o governo do Rio Grande do Norte colocar R$ 3 milhões, R$ 4 milhões para colocar uma estação de passageiros ali, meu Deus? Quem ganha com isso é o Rio Grande do Norte. Tudo que fizer em infra-estrutura turística significa emprego e desenvolvimento econômico para o Rio Grande do Norte.

Então a economia do RN ainda tem muito a crescer?
As coisas estão mal começando, vêm muitos investimentos. É possível até que a Ecocil, até o fim do ano, anuncie um grande empreendimento. Às vezes faço um exercício comigo mesmo: como será Natal daqui há 10 anos? Aliás, há uma coisa que eu queria dizer. É muito, muito, muito, muito importante a preservação do meio ambiente. Quem pensar que um sujeito como eu, porque é empresário, quer ser predador do meio ambiente, isso é uma coisa desonesta e um pré-julgamento absurdo. Tenho oito netos, vivo aqui, pretendo viver ainda muito. Então, a natureza é fundamental. Não sou burro. Agora, não pode se exercer aqui a ditadura de um grupelho que se acha dono do meio ambiente. A gente vai chegar a um ponto que a gente tem que racionalizar, sob pena de nós perdermos muitos desses investimentos. Não é fazer concessões. Frise bem: não é fazer concessão de qualquer natureza equivocada em relação à lei. O que é que eu estou vendo aqui em Natal, o descumprimento da lei. A prefeitura aprova um projeto dentro da lei e depois contesta a própria aprovação. Mas não é a vontade de um prefeito ou de um governador que deve prevalecer à vontade da lei. Se a lei está errada, mude a lei! O investidor estrangeiro quer regras claras, nada mais natural, porque ele quer segurança onde vai colocar o dinheiro dele. O que eu antevejo é que muitas pessoas na vida pública, ao deixarem os cargos, vão ter muitos problemas, porque vão responder por não terem cumprido a lei.

Vocês têm apostado bastante na nas classes mais baixas, talvez pudesse ser chamada até de classe média emergente. Como o senhor avalia essa fatia da população?
É uma classe sonhadora. Você imagina o cara que não tem televisão em casa, quanto ele não sonha em ter uma televisão? Um tênis, uma bicicleta, um carro? Isso esse povo está tendo acesso. E é uma classe muito mais honesta, que cumpre mais compromissos. Eu boto uma fé enorme nessa classe. Fico pensando: como vai ser essa classe C, D, E no futuro, no longo prazo… Vejo uma perspectiva enorme. Vejo muita possibilidade de nós continuarmos apostando nesse filão. Quem você conhece que investe na Zona Norte? E nós não somos só aquele terreno não. Há outros, mas está com aqueles problemas. Bom, quando os comerciantes começarem a ganhar dinheiro lá no shopping, vai ter muita corrida pra lá.

Como fica a estrutura do grupo com o senhor mais presente?
Eu vou ficar na presidência da Ecocil, mas eu e Hênio vamos ficar na holding também, eu presidente e Hênio o executivo. Sílvio e Eduardo também estão na diretoria. A gente vai se dividindo nas empresas.

Quais são os planos para o futuro? Pretende diversificar ainda mais?
Bom, só posso dizer que a gente vai continuar investindo. Depende das oportunidades.

Como a experiência política que o senhor acumulou até agora vai ajudar na atividade empresarial?
Conhecer o mundo político deve ser útil a um empresário. Ajudou a conhecer melhor o Brasil. Tive o privilégio de conviver perto de dois presidentes da república, de Fernando Henrique e de Lula e eu posso dizer a você como toda tranqüilidade: o Brasil vem sempre melhorando. O governo de Fernando Henrique criou bases, Lula deu sustentação e avançou muito. É incompreendido, mas é um bom governo. O Brasil tem as condições hoje de desenvolvimento sustentável. A inflação está controlada. Os juros ainda são altos mas já começa a ter repercussão no mercado imobiliário, vai haver muito dinheiro no mercado imobiliário, o comprador agora vai poder pagar uma casa em 30 anos, sem o susto daquele negócio de saldo devedor.

Mas como isso pode ajudar um empresário como o senhor?
Não é preciso, necessariamente, conhecer os meandros dessa máquina política. Precisa estar atento aos números da macroecononia. Você não pode tomar uma decisão de microeconomia sem estar em sintonia com o que está acontecendo no país. Para onde caminha o país? É nesse rumo que você vai. Investir na área imobiliária, por exemplo, é uma decisão correta, porque o governo está estimulando isso. O setor privado brasileiro é muito ágil, muito competente e muito atento. E anda nessa parceria. Mas essa parceria não é essa coisa que leva muitas vezes à corrupção, a essa intimidade promíscua, que faz do empresário um “parceiro” que quer corromper, ele mesmo se corrompendo,. Não é isso. Esse é o lado do empresário que não serve para o governo. Acho que estava na hora, inclusive, de os empresários brasileiros terem consciência de que a corrupção não compensa a ninguém. Na hora que o setor privado disser um “Basta!” ao processo de corrupção, o Brasil começa a melhorar com certeza. Não há corrupto sem corruptor.

Então o senhor acredita que o empresariado deveria estar mais presente na política?
Agora os empresários já têm alguma representação. O presidente da CNI, por exemplo, é deputado. Eu, como presidente da CNI, fui senador. Eu acho isso legítimo. Se você pegar o congresso americano isso vai além até. As empresas lutam para ter gente dentro do congresso, lutam abertamente, financia. Os trabalhadores fazem isso no Brasil. É isso o processo democrático. É preciso que a gente saia de uma postura crítica gratuita, como “Ah, político ladrão!”. E porque você não vai tomar o canto dele? Quem foi que botou o cabra safado, o ladrão lá no Congresso Nacional, ou no governo, ou na prefeitura? O povo, que tem líderes. Os empresários não os únicos, mas são  líderes da sociedade. Acho que já tem uma boa participação, mas precisa mais. E os políticos precisam dividir responsabilidades com os empresários, criando um conselho que envolve os empresários, trabalhadores e outras classes. É importante que também os políticos ouçam e volto a insistir: o ruim da relação político/empresário é quando ela é promíscua.

O senhor tem acompanhado a movimentação em torno do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante? Qual seu sentimento em relação a ele?
Esse aeroporto é irreversível. Tem coisa no Brasil que às vezes sai do prazo. Um país que não tem muito dinheiro colocar R$ 100 milhões nesse aeroporto e não concluí-lo é uma coisa maluca e irresponsável. Mas não é nem por isso. É porque esse aeroporto é importante para o Brasil. É ele é fundamental para nós, mas ele é importante para o Brasil, que só tem dois aeroportos de cargas atualmente. Essa decisão, por mais que queiram faturar para si, dizendo que tiveram a idéia, não foi. Isso foi uma decisão técnica dos militares, na época, com a Infraero. Eu sou otimista. Primeiro que Aeroporto é um bom negócio pra quem for explorar. Existe muito dinheiro no mundo. Se tiver regras claras, não faltará quem venha, ou por concessão ou para uma Parceria Público-Privada. Houve um momento que eu fui sondado diretamente para ir para a Infraero. Tinha que dar uma resposta rápida, porque estava aquela confusão. E eu questionei: é melhor para o governo que o eu seja presidente da Infraero. A resposta foi: senador, afinal a margem do governo no senado é muito apertada. Porque se eu ganhasse a ação, teria que deixar a Infraero, um problema para o governo. E a única coisa que me movia pensar na Infraero era o Aeroporto de São Gonçalo, por que eu estaria ajudando meu estado, a economia do estado e até o meu negócio. Aí fui pra ação (judicial contra Rosalba) e perdi.

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