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Fernando Morais: as vidas de um biógrafo

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Exímio contador de histórias, jornalista experiente e amante de charutos cubanos, o escritor mineiro Fernando Morais está nas telas do cinema e com livro novo nas prateleiras. Biógrafo consagrado, o autor de 65 anos figura entre as atrações convidadas para ilustrar a terceira edição do Festival Literário da Pipa – Flipipa, onde debaterá o tema “Literatura e Reportagem” ao lado do jornalista Cassiano Arruda. O papo, que acontece na sexta-feira (18/11) às 21h na Tenda dos Autores, aborda seu mais recente lançamento “Os Últimos Soldados da Guerra Fria” – livro-reportagem que narra a aventura de agentes secretos cubanos infiltrados em organizações norte-americanas de extrema direita.
Jornalista e autor consagrado, Fernando Morais fala sobre adaptações de seus livros para o cinema e ‘Os últimos soldados da Guerra Fria’, tema do debate no Flipipa, dia 18. Sobre os próximos projetos, adianta:  vai escrever sobre os oito anos de Lula e a morte, ainda misteriosa, do ex-presidente João Goulart
No cinema, Morais está representado pela adaptação da premiada obra “Corações Sujos”, que rendeu o Prêmio Jabuti ao escritor em 2001. Com direção de Vicente Amorim, o filme abriu o Festival de Paulínia (SP), participou dos Festivais Internacional do Rio e de Toronto (Canadá), e deverá chegar no circuito comercial em março do próximo ano.

#saibamais#Com dez livros lançados, Fernando Morais trabalha como jornalista desde os 15 anos, passou pelas redações do Jornal da Tarde, Veja, Folha de São Paulo e TV Cultura. Ganhador de três Prêmios Esso e de quatro Prêmios Abril de Jornalismo, foi deputado Estadual por São Paulo entre 1978 e 1986, Secretário da Cultura (1988-1991) e da Educação (1991-1993) do Estado de São Paulo, e chegou a se aventurar como roteirista na minissérie documental “Cinco dias que abalaram o Brasil”, sobre o suicídio do presidente Getúlio Vargas, exibida pelo canal GNT.

Autor de sucesso, antes de “Os últimos soldados da Guerra Fria”, Morais publicou os livros-reportagens “Transamazônica” (esgotado); “A Ilha” (sua primeira obra sobre Cuba); “Olga” (este transformado em filme pelo diretor Jayme Monjardim); “Chatô, O Rei do Brasil”; “Cem Quilos de Ouro”; “Corações Sujos”; “Toca dos Leões” (sobre a agência W/Brasil e o sequestro de Washington Olivetto); “Montenegro”; e “O Mago”, biografia de Paulo Coelho. Auto-identificado como “um dinossauro comunista”, Fernando Morais concedeu com exclusividade a seguinte entrevista à TRIBUNA DO NORTE:

Carlos de Souza – Especial para o VIVER

Fernando, você que é um jornalista premiado, acredita que essa formação teve peso sobre seu ofício de escritor?

Na verdade, a minha atividade de escritor foi uma decorrência da profissão de jornalista. Todos os meus livros, sem exceção, são grandes reportagens. Alguns deles, aliás (como “Transamazônica” e “A Ilha”), foram concebidos originalmente para serem publicados em veículos da imprensa – o primeiro no Jornal da Tarde e o segundo na revista Visão.

E as experiências como parlamentar e secretário  de Estado, exerceram alguma influência sobre o Fernando escritor?

Não, ao contrário. Só atrasaram minha produção editorial. Se não fosse a atividade política “Chatô” poderia ter sido feito em cinco anos (e não em sete, como aconteceu). Com “Olga” ocorreu coisa parecida. Como eu era um político “caxias”, dedicava todo meu tempo ao Legislativo (quando fui deputado Estadual por dois mandatos) e ao Executivo (quando fui secretário de Cultura e depois de Educação do Estado de São Paulo). Esse talvez tenha sido um dos ingredientes da decisão de abandonar o exercício da política na primeira pessoa. Continuo um ativista político, apoio candidatos, participo de movimentos sociais brasileiros e estrangeiros. Mas ser candidato a cargo público, nem pensar. 

Ao escrever a série sobre Getúlio Vargas, você se empenhou num tipo diferente de linguagem – a cinematográfica. Qual a diferença fundamental entre escrever um livro e escrever para TV/cinema?

São coisas completamente diferentes. Aquela foi minha primeira experiência como roteirista. Tempos depois o Carlos Manga, da TV Globo, me chamou para escrever o roteiro de uma minissérie ambientada na revolução paulista de 1932 – série batizada de “Sociedade Secreta”. Mas não é minha praia. Recentemente o diretor Vicente Amorim, que dirigiu o filme “Corações Sujos”, baseado em meu livro homônimo, me convidou para roteirizar um filme sobre a chamada “Operação Peter Pan”. É uma história em que a CIA e a igreja contrabandearam 14 mil crianças de Cuba para os EUA, logo após o triunfo da Revolução Cubana. Pulei fora. Posso fazer o que eles chamam de “argumento” –  ou seja, escrever a história que será transformada em roteiro. Mas, decididamente, não sou roteirista.   

Seu livro “Transamazônica” está esgotado. Você não pensa numa reedição ou na retomada desse assunto?

Não tinha pensado nisso, mas pode ser uma boa ideia. Vou sugerir ao editor e, quem sabe, relançamos o livro, quarenta anos depois.

Seu livro “A Ilha” ganhou uma nova importância com os acontecimentos atuais em Cuba. Você pensa em retomar o assunto?

Não, não me animaria. Cuba tem assuntos e personagens interessantes – como os que renderam o livro que vou lançar na Flipipa, “Os últimos soldados da Guerra Fria” – a respeito dos quais pode até ser que eu volte a escrever. Mas sobre o país como um todo, não tenho planos de publicar mais nada.

Seus livros “Olga” e “Rei do Brasil” ganharam versões para o cinema. O que você pensa sobre o destino de “Chatô”, que não chegou às telas?

Diz o Guilherme Fontes, produtor e diretor da adaptação, que está tudo filmado e guardado em um laboratório de Los Angeles. Segundo ele, falta algum dinheiro, pouco, para editar o filme, mas não será necessário rodar nem um minuto mais. O Guilherme deve ter cometido erros e feito bobagens – até porque era estreante – mas é uma pessoa íntegra e honesta, que jamais poria a mão em dinheiro público.

O livro sobre Paulo Coelho pode também chegar ao cinema?

Ouvi dizer que estão fazendo um filme sobre a vida do Paulo, mas não é adaptação do meu livro.

Tem dois livros seus na agulha para se transformarem em filmes: “Corações Sujos” e “Toca dos Leões”. Pode falar um pouco deles?

“Corações Sujos” na verdade já está pronto. Abriu o Festival de Paulínia (SP) e participou hors-concours do Festival Internacional do Rio e do Festival de Toronto, no Canadá, e em todos eles foi ovacionado pelo público. Eu o vi e fiquei emocionado. O filme estreia no Brasil em março do ano que vem. Quanto ao “Toca dos Leões”, eu soube dias atrás que o plano do Fernando Meirelles é lançá-lo em 2013. Estão na agulha também “Montenegro”, que deve ser dirigido pelo João Batista de Andrade e “Os últimos soldados da Guerra Fria”, cujos direitos foram adquiridos pelo Rodrigo Teixeira. Este ainda não sei quem vai dirigir.  

Qual o conselho que você daria a jovens escritores que sonham com carreiras de sucesso como a sua?

Leiam. Leiam muito. Leiam de preferência bons autores, mas se não puderem, leiam maus autores. É melhor do que não ler nada. Não conheço nenhum bom escritor que não seja um leitor voraz. Aprende-se a escrever lendo.

Qual o seu próximo livro?

Se tivesse papado a mega-sena acumulada da semana retrasada eu realizaria o plano de viajar até o Canadá  de moto. Ou percorrer todo o litoral brasileiro pilotando um ultraleve avançado. Como não ganhei, não me resta alternativa senão retornar ao computador. Pode ser que saia um livro a respeito dos oito anos de governo do Lula. Ou a história da morte de Jango – há suspeitas da família de que ele não tenha morrido de causas naturais, mas envenenado. Penso também em escrever a biografia do Darcy Ribeiro. Mas não está nada decidido. Agora estou concentrado em lançar “Os últimos soldados da Guerra Fria” pelo Brasil e, a partir de abril, no exterior.

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