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Ferreira Gullar

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“Lá vai o trem com o menino /lá vai a vida a rodar / lá vai a ciranda e destino / cidade e noite a girar / lá vai o trem sem destino / pro dia novo encontrar/ correndo vai pela terra / vai pela serra / vai pelo mar / cantando pela serra do luar / correndo entre as estrelas a voar/ no ar no ar no ar no ar no ar”.  Domingo o trem partiu com Ferreira Gullar. O trem das Bachianas Brasileiras n. 2 (quarto movimento) de Heitor Villa Lobos,  a qual foi atrelado depois a poesia de Ferreira Gullar. “O Trenzinho Caipira”, que imaginei ouvir na manhã de dominga por uma dessas famosas orquestras de câmara, quando o radinho de pilha, lá em Queimadas, deu a notícia da morte do genial poeta. Poderia também ter ouvido os seus versos na voz de Maria Bethânia, Edu Lobo ou Nei Matogrosso.

Os versos do Trenzinho Caipira estão no livro Poema Sujo que Ferreira Gullar publicou em 1976. A Tocata de Villa Lobo é de1933.  O poeta também deu suas letras para outros grandes sucessos da música popular brasileira: “Solução da Vida”, parceria com Paulinho da Viola, “Onde andarás”, com Caetano Veloso, “Bela Bela”, com Milton Nascimento, “Borbulhas de Amor” e “Traduzir-se” com Fagner, vou me lembrando agora.

“Uma parte de mim/ é todo mundo: / outra parte é ninguém: fundo sem fundo. // Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza/ e solidão. // Uma parte de mim / pesa, pondera:/ outra parte / delira (…) Uma parte de mim /é só vertigem: / uma parte, / linguagem” São versos de “Traduzir-se”.

Poeta, contista, ensaísta, dramaturgo, cronista, crítico de arte, memorialista, letrista cordelista, biógrafo, ex-comunista, detentor de vários prêmios literários, entre eles o Jabuti, Machado de Assis e o Camões. Também bom de briga na crítica de arte e defensor da cultura popular. Do seu livro “Cultura posta em questão”, destaco:

“O que define a cultura popular, no sentido que apreciamos aqui, é a consciência de que a cultura tanto pode ser instrumento de conservação como de transformação social. E é essa visão desmistificada dos valores culturais que, naturalmente, leva o intelectual a agir, em primeira etapa, sobre seus próprios instrumentos de expressão para, através deles, contribuir na transformação geral da sociedade (…) A cultura popular é, em suma, a tomada de consciência da realidade brasileira”.

Um dos livros de Ferreira Gullar que tenho um carinho especial é Romances de Cordel, enriquecido com as ilustrações de Ciro Fernandes, paraibano de Uiraúna, parede-meia com Luís Gomes, do lado de cá da “tromba do elefante”. Ciro é um dos maiores gravuristas do Brasil, radicado há muitas eras no Rio de Janeiro. A edição é da José Olympio Editora,2009. São quatro livros juntos com dezenas de ilustrações de Ciro, incluindo a capa. Belíssimas. A alma e o coração do Nordeste:

“Vou contar para vocês / um caso que sucedeu / na Paraíba do Norte/ com um homem que se chamava /Pedro João Boa-Morte, /lavrador e Chapadinha: talvez não tenha morte boa / porque vida ele não tinha”.

Ferreira Gullar escrevia aos domingos na Folha de S. Paulo. Maias das vezes o mote de suas crônicas/artigos era a questão ideológica dividindo os homens e as mulheres de todas as várzeas. Na de domingo, Marx é citado como respeito. Mas o poeta há tempo deixou de ser marxista. Agora céu talvez se encontre com Nelson Rodrigues.

“Lá vai o trem com o menino / lá a vida a rodar / lá vai ciranda e destino /cidade a noite a girar /lá vai o trem sem destino /pro dia novo encontrar/ correndo vai pela terra/ vai pela serra/ vai pelo mar/ cantando pela serra do luar/ correndo entre as estrelas a voar/ no ar / no ar / piiuí! piuí piuí /adeus meu grupo escolar/ adeus meu anzol de pescar /adeus menina que eu quis amar/ que trem me leva e  nunca mais vai parar”

A emoção de Zuenir
Vejo e ouço Zuenir Ventura falando na televisão sobre Ferreira Gullar. Os dois eram amigos derna dos tempos da UNE, confrades na Academia Brasileira de Letras:

– O Brasil perdeu o intelectual mais lúcido e o maior poeta de sua geração. Ferreira soube como poucos conciliar ética, estética e política. Sendo que esta última levou-o à prisão e ao exílio. Inquieto, se insurgiu em “A luta corporal”, contra os códigos vigentes, numa atitude poética revolucionária. Depois, quando questionou virou uma categoria estética consentida, ele escreveu o “Poema sujo” , provando que a linguagem poética pode ser também criativa ao se afirmar, não só ao se negar”.

– Às vésperas de morrer, consciente da gravidade de seu estado, Gullar recusou a opção que lhe ofereceram de prolongar sua vida artificialmente por meio de aparelhos. Respondeu que preferia abreviar o seu fim. Impressionado com a decisão, o médico confessou que nunca vira tanta coragem e lucidez assim. Essa vontade ele manifestou também para a sua filha Luciana, que o acompanhava no hospital. A ela ele tentou confortar argumentado que tivera uma vida muito digna e não queria prorroga-la sabendo que seria por pouco tempo.

– Um de seus últimos apelos foi: “Luciana, tudo isso é inútil. Me leva para Ipanema. Quero entrar o mar e ir embora”.

Dança  O Balé Municipal de Natal (Capitania das Artes) apresenta hoje à noite (19 horas) no Palácio de Esportes Djalma Maranhão (Praça Pedro Velho) o espetáculo “Uma festa para o Natal”, direção de Dimas Carlos.
A temporada vai até o dia 10. Entrada gratuita.

Livros  Esta semana Natal tem três lançamentos de livros, todos no mesmo dia: 8, quinta-feira, lua em quarto crescente.  No Salão Paroquial da Igreja de Santa Terezinha, ás 18 horas, o poeta Diógenes da Cunha Lima, autografará o seu Vigências da Lei de Deus – Os Mandamentos, as Virtudes e os Pecados.

A poeta Marize Castro lançará A Mesma Fome, seu livro de poemas, editado pela editora Una, no Café Salão Nalva Melo, na Ribeira (avenida Duque de Caxias), parede-meia com Tribuna do Norte.

O terceiro lançamento será de a Ilha de Manoel Gonçalves – Vida e Morte, do professor e pesquisador João Felipe de Trindade. Foi nessa ilha que surgiu a cidade de Macau.  Vai ser no Espaço Hipotenusa, por trás o restaurante Cuxá.

Anuncio  Hoje é um dia importante na agenda oficial do Governo do Estado. Segunda a sua assessoria de imprensa, o governador Robinson Faria anunciará o pagamento do 13º salário. Não se sabe se será o pagamento da primeira parcela ou das duas fatias juntas.

Natal é uma festa.

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