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Ferve o debate sobre o ChatGPT

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Carlos Alberto dos Santos
Professor aposentado pelo Instituto de Física da UFRGS / Professor Visitante da Ufersa

Embora nosso artigo, “Será paradoxal a invenção do ChatGPT?”, já estivesse disponível no site da TN desde o último dia 5, ele só saiu na versão impressa no dia 7, um dia depois do artigo “ChatGPT, artificial intelligence and the future of writing” (ChatGPT, inteligência artificial e o futuro da escrita), publicado no site psychologytoday.com, autoria do prof. Glenn Geher. Trata-se de um artigo muito mais extenso que o nosso, 12.774 caracteres contra 4.826, mas a ideia central do nosso artigo, ou seja, que o ChatGPT vai impor dificuldades para o futuro da escrita é basicamente a mesma defendida pelo professor da SUNY (Universidade Estadual de Nova Iorque). Por uma questão de espaço, limitei minha discussão a um aparente paradoxo embutido no ChatGPT. O prof. Geher coloca a questão em um cenário educacional mais amplo, e já no subtítulo ele mostra a que veio, argumentando que o ChatGPT e outros sistemas de IA podem arruinar a capacidade de escrever (e pensar).

O paradoxo que apontei no artigo anterior tem a ver com a possibilidade de o ChatGPT tornar obsoleta a literatura especializada. Quem vai buscar na literatura aquilo que o algoritmo lhe fornece em segundos? Se em um cenário extremo como este, os produtores de conteúdo se retraírem, onde os algoritmos vão buscar as informações para responder a seus usuários? No seu artigo, o prof. Geher apresenta uma espécie de corolário desse paradoxo. A quantidade de textos escritos por pessoas cultas (não apenas os produtores profissionais de conteúdo) vai despencar. Ele faz uma estimativa: daqui a dez anos, os estudantes universitários vão escrever cerca de 1% do que escrevem hoje. Trata-se de um exagero? Não sei!

Embora reconheça que sua ativa militância contra o uso educacional de recursos do tipo ChatGPT seja equivalente a colocar o dedo em uma represa prestes a estourar, o professor Geher não é um lobo solitário. São inúmeras as reações a essa nova tecnologia associada à IA. Professores e gestores educacionais na Inglaterra sugerem que as universidades tomem iniciativas para se protegerem contra o uso da IA em geral, e especialmente contra o ChatGPT. O Departamento de Educação da cidade de Nova Iorque proibiu o uso do ChatGPT nas redes digitais das escolas públicas. O argumento é o de sempre: impacto negativo no processo de aprendizagem. A Conferência Internacional de Aprendizado de Máquina (ICML, na sigla em inglês), também proibiu o uso dessas ferramentas para gerar artigos científicos. Todas essas recomendações vêm causando intenso debate na comunidade atinente ao tema, e é impossível prever no que vai dar tudo isso.

Ao lado dessas críticas pertinentes aos aspectos educacionais, a nova ferramenta tem sido objeto de diversos tipos de análise. Para se ter ideia do impacto, basta ter em mente que nesse dia 9/1/2023, o Google Acadêmico (https://scholar.google.com.br) identificou 782 artigos sobre o ChatGPT. Entre os artigos acadêmicos, excluindo aqueles publicados na imprensa diária e nos sites de notícias, encontram-se artigos analisando a eficiência do algoritmo em áreas específicas, como na indústria, onde a precisão é muito importante. Alguns analistas consideram que o ChatGPT é propenso a produzir textos subjetivos, imprecisos ou sem sentido. Eu mesmo verifiquei isso, fazendo buscas por dados sobre físicos brasileiros. Algumas minibiografias geradas apresentam informações completamente equivocadas. Claro, o sistema aprende com o usuário, e em seguida pode melhorar a qualidade dos seus textos.

Pesquisadores do Departamento de Medicina da Universidade Northwestern (Chicago, EUA) compararam resumos de textos científicos gerados pelo ChatGPT com os resumos originais (https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2022.12.23.521610v1.full.pdf), e chegaram à seguinte conclusão: o algoritmo gera resumos científicos críveis, originais, sem nenhum plágio detectado, mas geralmente identificáveis usando detectores de IA e avaliadores humanos. Por isso as revistas científicas e os avaliadores de conferências devem adaptar suas políticas e práticas, incluindo o uso de detectores de IA, para manter o rigor dos padrões científicos.

Ah, tentei usar o ChatGPT esta manhã e recebi esta mensagem: O ChatGPT está com muito tráfego no momento. Os desenvolvedores estão trabalhando duro para acomodar todos os usuários.

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