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Festa do Menino Deus, do governo, termina em protesto

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Espetáculo Festa do Menino Deus“Um registro de indignação da classe artística”. Foi assim que 150 artistas – participantes do auto de natal A Festa do Menino Deus realizada pelo governo do Estado –  classificaram a carta lida ontem em público ao final do espetáculo, em sua última noite de apresentação. Endereçada à governadora Wilma de Faria, os artistas escreveram o repúdio em relação aos últimos acontecimentos relacionados ao processo artístico do espetáculo. A carta enumera o drama em que os artistas e envolvidos na produção viveram nos últimos dias, quando no dia 8 de dezembro a governadora cancelou o espetáculo. “Fomos tomados de surpresa, gerando prejuízo e frustração para toda a equipe (…) Após protestos na governadoria,  a excelentíssima governadora voltou atrás e liberou o espetáculo”, dizia a carta.

#SAIBAMAIS# O texto segue apontando os problemas. Dos R$ 500 mil que seriam destinados ao espetáculo, foram subtraídos R$ 150 mil, quando diminuíram os cachês de todos os artistas e segundo a carta, “alguns produtores tiveram que abrir mão dos seus cachês para o espetáculo acontecer”. A carta expressa também sobre a eliminação dos lanches durante os ensaios, a diminuição do palco, a falta de estrutura dos camarins, a diminuição de um dia de espetáculo e também a ausência de banheiros químicos para a população.

E o texto não  encerrou apenas nos prejuízos relacionados ao auto de natal. Os artistas cobraram uma posição do poder público em relação ao fomento à cultura e aos eventos já consolidados na cidade que estão ausentes como a Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, que desde setembro não se apresenta em público, o Projeto Seis e Meia que teve seu fim três meses antes do previsto no planejamento do governo, a República das Artes que está à míngua, os cachês pendentes de diversas apresentações durante o ano, entre outras solicitações. “Queremos um posicionamento da  senhora em relação a todos estes pontos e exigimos respeito em relação à cultura. Este anacronismo nefasto que vive e respira a cultura deste Estado”, dizia a carta.

Espetáculo Festa do Menino DeusO texto foi escrito pelos próprios artistas e lido ao final do espetáculo por uma das bailarinas do elenco, quando arrancou aplausos de pé de todo o público presente, aproximadamente duas mil pessoas. O espetáculo tem direção de João Marcelino, texto de Racine Santos, produção de Ivonete Albano e um elenco de 150 artistas.

Leia a carta na íntegra

O espetáculo “A Festa do Menino Deus”



Carta dos artistas




A paisagem cultural só se enriquece e se diversifica consistentemente
no longo prazo, fruto de processos de aprendizado e transmissão que
alargam o repertório de gosto, a sensibilidade ao fazer artístico….1 




Excelentíssima Senhora Governadora do Estado do Rio Grande do Norte




Wilma Maria de Faria 




Os artistas envolvidos no espetáculo “A Festa do Menino Deus” 2009,
mediante o presente documento, vêm à Vossa presença relatar e solicitar
o que abaixo se segue:




Há doze anos (de 1997 a 2009), a sociedade deste Estado vem desfrutando
da apresentação de um auto natalino, no qual se comemoram as festas de
final de ano com uma encenação grandiosa, que envolve nossas mais
diversas categorias artísticas e contempla como público toda a
comunidade potiguar.




Contudo, no dia 08 de Dezembro recente, foi anunciado o cancelamento do
espetáculo, notícia esta que a todos tomou de surpresa e frustração,
gerando prejuízos de todas as ordens: 1) no que diz respeito à
comunidade local, deixaríamos de encenar um espetáculo que já se
incorporou ao patrimônio cultural do Rio Grande do Norte; 2) no que
tange à comunidade artística, representa um retrocesso dos direitos já
conquistados, resultantes do esforço pela mais elevada
profissionalização e pela crescente qualidade dos espetáculos que
viemos realizando para a comunidade local, regional, nacional e
internacional; e,  finalmente, para a gestão de políticas culturais,
reflete um anacronismo nefasto, dado que defendemos para nosso Estado o
fortalecimento da classe artística, a defesa de nossos bens simbólicos
e a consagração da arte como um dos pilares do desenvolvimento.




Diante de tal fato, o elenco deste espetáculo mobilizou-se para
reivindicar a manutenção do projeto, com vistas a garantir o respeito a
seus direitos e aos direitos da população relativos ao acesso aos bens
culturais já incorporados à nossa programação local. Embora o êxito de
nosso pleito, nova notícia, no último dia 14 de dezembro, surpreendeu
negativamente a classe artística e a sociedade potiguar, no sentido de
vermos subtraída a quantia de R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil
reais) do orçamento do espetáculo, ensejando conseqüências negativas
nas mais variadas dimensões, a exemplo da exclusão de profissionais
contratados, da diminuição de cachês de todos os profissionais (e até
da renúncia de alguns outros), da eliminação de serviço de lanche aos
profissionais durante os trabalhos, da redução de um dia de
apresentação, da eliminação do recurso de transmissão simultânea do
espetáculo, da diminuição de camarins para os artistas, da diminuição
do palco (de 40m x 20m para 30m x 18m), da diminuição de recursos de
iluminação, da eliminação de estrutura de camarote e da eliminação do
serviço de banheiros químicos para o público.




Em razão de tudo isto, e diante das mudanças nas políticas de cultura
que hoje vem passando nosso país, é momento de refletirmos sobre o
papel da arte na atual sociedade, de forma que não podemos fazer dela
um recurso de mero entretenimento barato para a população, mas sim
devemos reconhecê-la como um meio para fortalecer nossas identidades
culturais, como um instrumento para a adequada formação de platéias e
como ferramenta para a valorização da produção artística local.
Igualmente, não podemos mais vulnerar a produção cultural do Estado às
contingências orçamentárias, visto que ela deve ser tratada como
política pública permanente e em contínua ampliação.




Portanto, esta carta tem como fim o registro da indignação da classe
artística diante dos recorrentes atos de desrespeito a este trabalho e
à cultura potiguar, bem como se configura como uma evocação ao
compromisso deste governo para que se faça da cultura uma política
pública estável e fortalecida. Para tanto, necessário se faz o
reconhecimento da cultura como um bem humano fundamental, bem como se
deve reconhecer o fazer artístico como um fazer profissional e que
exige a consagração de direitos irrenunciáveis.




Neste sentido, reiteramos a importância da valorização do espetáculo “A
Festa do Menino Deus”, por boa parte dos motivos acima citados e
aproveitamos este mesmo documento para reivindicar um olhar atento à
arte e à cultura de nosso Estado, questionando a situação de parte de
nosso patrimônio, submissa ao total desuso ou abandono:




Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, em assembléia há dois meses;


Projeto Seis e Meia, descontinuado desde outubro do presente ano;


República das Artes, atualmente com sede provisória e esperando
oportunidade de negociação para uso de um prédio localizado no Bairro
das Rocas;


A efetivação de pagamentos de cachês pendentes e de verbas obtidas por meio de editais com resultados já publicados.




Certos de contar com o apoio deste governo e das demais gestões de
nosso Estado, requeremos que a Excelentíssima Governadora expresse um
posicionamento oficial sobre os fatos e reivindicações acima
relacionados, fazendo da cultura, enfim, uma verdadeira e autêntica
política pública estatal.




Natal, 29 de Dezembro de 2009. 


Coletivo de Artistas do Espetáculo “A Festa do Menino Deus” 2009″

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