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Festival Mada: apostas que deram certo

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O Festival MADA 2019 apostou com força em novas tendências da
música brasileira contemporânea. Trouxe como grande atrações artistas e
bandas de projeção nacional recente e que pela primeira vez se
apresentavam em solo potiguar. E não desapontaram. É o caso da carioca
MC Tha, da paulista Luiza Lian, da brasiliense Flora Matos, da baiana
Luedji Luna, da banda paulista Teto Preto e do rapper mineiro Djonga –
dono de um dos shows que mais contagiou o público. Bandas recorrentes,
como BaianaSystem e Natiruts, jogaram com a partida ganha. E Baco Exu do
Blues, que retornou ao festival pela segunda vez, também agradou
bastante. Dentre as pratas da casa, Potyguara Bardo e BEX foram os
destaques, além do Clube Underground do House e Tisk, dois coletivos de
música eletrônica que comandaram muito bem o after nos dois dias de
evento.

MC Tha: uma entidade sensual que leva o funk para outros ritmos e dimensões


MC Tha: uma entidade sensual que leva o funk para outros ritmos e dimensões

Mais
de 15 mil pessoas circularam pelo festival nos dois dias de evento.
Segundo a organização, a sexta-feira teve o maior público dos últimos
cinco anos. E no sábado, dia geralmente mais procurado, a produção
precisou aumentar a área do gramado em alguns metros quadrados.

Sexta-feira

Na
sexta-feira, os portão foram abertos com Mad Dogs, seguido por Júnior
Groovador e Banda. Mas o negócio só ficou quente mesmo a partir do show
da Potyguara Bardo, quando uma plateia calorosa e colorida recebeu a
drag em sua segunda passagem pelo Mada. “Simulacre”, o primeiro e único
álbum de la Bardo já tem mais de um ano, mas os fãs cantam seus ‘under’
hits como se fosse a primeira vez. Poty pinta e borda, embalando o povo
com um bom coquetel de funk, reggae, house e brega. O fim do show foi
uma redenção à diversidade com o hino disco “I will survive” e muitos
convidados no palco.

Potyguara Bardo embala os fãs mais uma vez com os under hits de Simulacre


Potyguara Bardo embala os fãs mais uma vez com os under hits de “Simulacre”

Depois
a música delicada de Luiza Lian – cujo álbum “Azul Moderno” esteve em
todas as listas de melhores de 2018 – encheu o palco de texturas sonoras
e imagéticas. As canções que alternam poesia, candomblé, o amor e o
feminino, flutuavam entre beats graves, percussões sintéticas,
distorções eletrônicas. Ao fundo, projeções abstratas e psicodélicas
emolduravam Luiza e complementavam seu transe com a plateia. Foi uma
pena “dizer tchau”.

O batuque subiu de velocidade para outro
terreiro entrar em cena:  hora de MC Tha iniciar seu “rito de passá” com
a plateia. A cantora encarnou uma entidade sensual para passar sua
música quente e vigorosa. Tendo o funk como base, Thaís brinca com
ritmos paraenses e nordestinos, joga trap, electro e 150 BPM para
azeitar a mistura e sintonizar sua música com o século XXI. Adepta da
umbanda, a MC tocou uma versão de “Jorge da Capadócia” para celebrar
suas raízes.

Na sequência a anarquia clubber da banda Teto Preto
tomou conta do palco, assustando alguns desavisados. Uma pena, pois o
grupo paulista oferece uma interessante mistura de música e performance –
boa parte apoiada no impressionante dançarino Loïc Koutana, um artista
que faz o que quiser com o corpo. A cantora Laura Díaz tem a virulência
punk necessária para levar a loucura adiante. Misturando beats, sopros e
percussão, o Teto joga house e tecno com letras minimalistas e
críticas, uma “dance music de protesto”, por assim dizer. Ao fim, o Teto
convidou o coletivo local Smoking Haus para animar o palco com um freak
show ‘club kid’ de encher a vista.

Uma das atrações mais
aguardados da noite, Baco Exu do Blues deu o que seu público queria. As
projeções iniciais do show emocionaram. A primeira parte da apresentação
fluiu bem, com seus hits “quase” românticos, como “Flamingos” e “Queima
minha pele”. Perdeu o pique depois, com rodas de pogo desnecessárias e
convidados sem sintonia com o som.

O fenômeno Baco Exu do Blues fez os fãs vibrarem entre o pogo e o romantismo


O fenômeno Baco Exu do Blues fez os fãs vibrarem entre o pogo e o romantismo

O
Baiana System veio ao festival pelo terceiro ano consecutivo, desta vez
com um disco novo na bagagem. Infelizmente, tocou pouco de “O futuro
não demora”, e privilegiou “Duas cidades”. Apesar do bom show de sempre,
ficou a sensação de déja vu.

Sábado
Uma das boas
surpresas do segundo dia do Mada foi a banda pernambucana Bule, que se
apresentou depois dos potiguares Ouen e Zé Caxangá e Seu Conjunto,
respectivamente. O som do Bule lembrou as baladas das décadas de 70 e 80
com seu som entre o retrô e o psicodélico, caracterizado pela mistura
entre o teclado, guitarras e sintetizadores. As projeções e figurinos da
banda, de estética pop new wave em tons de cores pastéis, também
ajudaram a transportar o público para as décadas passadas.

Depois
veio a apresentação da BEX. Não foi impecável, mas surpreendeu onde
deveria. A artista entrou no palco acompanhada somente pelo músico e
produtor Walter Nazário (Mahmed) nos sintetizadores e na guitarra para
apresentar o “Clocking Days”. Não precisou de mais nada para impôr a
mesma atmosfera do álbum de estreia com maestria. O ponto negativo foi a
participação do trio Rieg (PB), que soou desconexa com o restante do
show. A baixa qualidade do som nos microfones do trio paraibano não
ajudou nem um pouco – um pecado da produção do Mada.

Luedji Luna fez chorar e sorrir com carisma, melodia e balanço


Luedji Luna fez chorar e sorrir com carisma, melodia e balanço

Mulher
baiana, negra e adepta do candomblé, Luedji Luna assumiu o palco
mostrando sentimento e força espiritual pungente. Com nome de rainha
(Luedji é o nome da primeira rainha africana da etnia Lunda, no século
17), Luedji aflorou o que há de mais íntimo e bonito nas almas dos
presentes. Fez chorar e fez sorrir. Sem dúvidas, um dos grandes shows do
Mada.

Por sua vez, o Plutão Já Foi Planeta mostrou sua ‘vibe’
única com um show que prega a diversidade e exalta o Nordeste e o Rio
Grande do Norte. O público cantou junto os sucessos da banda natalense
como ‘Me Leva’ e o mais recente ‘Lua em Rita Lee’. A apresentação ainda
contou com a participação de Samara Alves, potiguar que participou do
The Voice Brasil.

O Natiruts levou ao palco do Mada o seu
show ‘I Love’, uma mistura de seus grandes sucessos com trabalhos do
novo álbum, que leva o mesmo nome. A banda brasiliense fez o público
dançar e cantar ao som de canções consagradas como ‘Andei Só’, ‘Deixa o
Menino Jogar’ e ‘O Carcará e a Rosa’. O clima romântico do show seguiu
com a música ‘I Love’, faixa-título gravada em  parceria com a banda
estadunidense Morgan Heritage. Ainda sobrou tempo para homenagear o rei
do reggae, Bob Marley, com “Is This Love”.

Djonga esbajou energia e rimas de ordem para incendiar o público do Mada


Djonga esbajou energia e rimas de ordem para incendiar o público do Mada

Um
menino que nasce querendo ser Deus não poderia ter uma apresentação
menos ambiciosa. Djonga incendiou o racismo (e os racistas) e se impôs
no palco do Mada como um rei – não a toa, foi carregado no braço pelo
público e chegou botando o pé na porta com o verso “Abram alas para o
rei”, de Hat-Trick. O rapper traduziu com o seu estilo brutal as
diferenças sociais entre negros e brancos e provocou a sensação de
redenção das vítimas do racismo. O resultado foi um público em exaltação
do início ao fim. Uma apresentação enorme do rapper com o seu terceiro
álbum, “Ladrão”.
(Por Luiz Henrique, Tádzio França, Ramon Ribeiro, Tales Lobo)
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