música brasileira contemporânea. Trouxe como grande atrações artistas e
bandas de projeção nacional recente e que pela primeira vez se
apresentavam em solo potiguar. E não desapontaram. É o caso da carioca
MC Tha, da paulista Luiza Lian, da brasiliense Flora Matos, da baiana
Luedji Luna, da banda paulista Teto Preto e do rapper mineiro Djonga –
dono de um dos shows que mais contagiou o público. Bandas recorrentes,
como BaianaSystem e Natiruts, jogaram com a partida ganha. E Baco Exu do
Blues, que retornou ao festival pela segunda vez, também agradou
bastante. Dentre as pratas da casa, Potyguara Bardo e BEX foram os
destaques, além do Clube Underground do House e Tisk, dois coletivos de
música eletrônica que comandaram muito bem o after nos dois dias de
evento.
MC Tha: uma entidade sensual que leva o funk para outros ritmos e dimensões
Mais
de 15 mil pessoas circularam pelo festival nos dois dias de evento.
Segundo a organização, a sexta-feira teve o maior público dos últimos
cinco anos. E no sábado, dia geralmente mais procurado, a produção
precisou aumentar a área do gramado em alguns metros quadrados.
Sexta-feira
sexta-feira, os portão foram abertos com Mad Dogs, seguido por Júnior
Groovador e Banda. Mas o negócio só ficou quente mesmo a partir do show
da Potyguara Bardo, quando uma plateia calorosa e colorida recebeu a
drag em sua segunda passagem pelo Mada. “Simulacre”, o primeiro e único
álbum de la Bardo já tem mais de um ano, mas os fãs cantam seus ‘under’
hits como se fosse a primeira vez. Poty pinta e borda, embalando o povo
com um bom coquetel de funk, reggae, house e brega. O fim do show foi
uma redenção à diversidade com o hino disco “I will survive” e muitos
convidados no palco.
Potyguara Bardo embala os fãs mais uma vez com os under hits de “Simulacre”
Depois
a música delicada de Luiza Lian – cujo álbum “Azul Moderno” esteve em
todas as listas de melhores de 2018 – encheu o palco de texturas sonoras
e imagéticas. As canções que alternam poesia, candomblé, o amor e o
feminino, flutuavam entre beats graves, percussões sintéticas,
distorções eletrônicas. Ao fundo, projeções abstratas e psicodélicas
emolduravam Luiza e complementavam seu transe com a plateia. Foi uma
pena “dizer tchau”.
O batuque subiu de velocidade para outro
terreiro entrar em cena: hora de MC Tha iniciar seu “rito de passá” com
a plateia. A cantora encarnou uma entidade sensual para passar sua
música quente e vigorosa. Tendo o funk como base, Thaís brinca com
ritmos paraenses e nordestinos, joga trap, electro e 150 BPM para
azeitar a mistura e sintonizar sua música com o século XXI. Adepta da
umbanda, a MC tocou uma versão de “Jorge da Capadócia” para celebrar
suas raízes.
Na sequência a anarquia clubber da banda Teto Preto
tomou conta do palco, assustando alguns desavisados. Uma pena, pois o
grupo paulista oferece uma interessante mistura de música e performance –
boa parte apoiada no impressionante dançarino Loïc Koutana, um artista
que faz o que quiser com o corpo. A cantora Laura Díaz tem a virulência
punk necessária para levar a loucura adiante. Misturando beats, sopros e
percussão, o Teto joga house e tecno com letras minimalistas e
críticas, uma “dance music de protesto”, por assim dizer. Ao fim, o Teto
convidou o coletivo local Smoking Haus para animar o palco com um freak
show ‘club kid’ de encher a vista.
aguardados da noite, Baco Exu do Blues deu o que seu público queria. As
projeções iniciais do show emocionaram. A primeira parte da apresentação
fluiu bem, com seus hits “quase” românticos, como “Flamingos” e “Queima
minha pele”. Perdeu o pique depois, com rodas de pogo desnecessárias e
convidados sem sintonia com o som.
O fenômeno Baco Exu do Blues fez os fãs vibrarem entre o pogo e o romantismo
O
Baiana System veio ao festival pelo terceiro ano consecutivo, desta vez
com um disco novo na bagagem. Infelizmente, tocou pouco de “O futuro
não demora”, e privilegiou “Duas cidades”. Apesar do bom show de sempre,
ficou a sensação de déja vu.
Sábado
Uma das boas
surpresas do segundo dia do Mada foi a banda pernambucana Bule, que se
apresentou depois dos potiguares Ouen e Zé Caxangá e Seu Conjunto,
respectivamente. O som do Bule lembrou as baladas das décadas de 70 e 80
com seu som entre o retrô e o psicodélico, caracterizado pela mistura
entre o teclado, guitarras e sintetizadores. As projeções e figurinos da
banda, de estética pop new wave em tons de cores pastéis, também
ajudaram a transportar o público para as décadas passadas.
veio a apresentação da BEX. Não foi impecável, mas surpreendeu onde
deveria. A artista entrou no palco acompanhada somente pelo músico e
produtor Walter Nazário (Mahmed) nos sintetizadores e na guitarra para
apresentar o “Clocking Days”. Não precisou de mais nada para impôr a
mesma atmosfera do álbum de estreia com maestria. O ponto negativo foi a
participação do trio Rieg (PB), que soou desconexa com o restante do
show. A baixa qualidade do som nos microfones do trio paraibano não
ajudou nem um pouco – um pecado da produção do Mada.
Luedji Luna fez chorar e sorrir com carisma, melodia e balanço
Mulher
baiana, negra e adepta do candomblé, Luedji Luna assumiu o palco
mostrando sentimento e força espiritual pungente. Com nome de rainha
(Luedji é o nome da primeira rainha africana da etnia Lunda, no século
17), Luedji aflorou o que há de mais íntimo e bonito nas almas dos
presentes. Fez chorar e fez sorrir. Sem dúvidas, um dos grandes shows do
Mada.
Por sua vez, o Plutão Já Foi Planeta mostrou sua ‘vibe’
única com um show que prega a diversidade e exalta o Nordeste e o Rio
Grande do Norte. O público cantou junto os sucessos da banda natalense
como ‘Me Leva’ e o mais recente ‘Lua em Rita Lee’. A apresentação ainda
contou com a participação de Samara Alves, potiguar que participou do
The Voice Brasil.
show ‘I Love’, uma mistura de seus grandes sucessos com trabalhos do
novo álbum, que leva o mesmo nome. A banda brasiliense fez o público
dançar e cantar ao som de canções consagradas como ‘Andei Só’, ‘Deixa o
Menino Jogar’ e ‘O Carcará e a Rosa’. O clima romântico do show seguiu
com a música ‘I Love’, faixa-título gravada em parceria com a banda
estadunidense Morgan Heritage. Ainda sobrou tempo para homenagear o rei
do reggae, Bob Marley, com “Is This Love”.
Djonga esbajou energia e rimas de ordem para incendiar o público do Mada
menino que nasce querendo ser Deus não poderia ter uma apresentação
menos ambiciosa. Djonga incendiou o racismo (e os racistas) e se impôs
no palco do Mada como um rei – não a toa, foi carregado no braço pelo
público e chegou botando o pé na porta com o verso “Abram alas para o
rei”, de Hat-Trick. O rapper traduziu com o seu estilo brutal as
diferenças sociais entre negros e brancos e provocou a sensação de
redenção das vítimas do racismo. O resultado foi um público em exaltação
do início ao fim. Uma apresentação enorme do rapper com o seu terceiro
álbum, “Ladrão”.