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Figueiredos

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Rubens Lemos Filho
Sou adepto do quem não lê, de sensibilidade é cego. Saber escrever, nem em sonho. Confesso, porém, não ter conseguido passar da capa da biografia do último dos comandantes do Regime Militar, o general João Baptista de Oliveira Figueiredo, ou Presidente Figueiredo, como tentava impor seu marketing de caserna.  O título é um convite ao mofo: “Me Esqueçam.”
O Presidente Figueiredo nem de longe foi o mais violento do período ditatorial, de 1964 a 1985, mas episódios sangrentos não faltaram em seu mandato, crimes provocados pela ala mais radical da repressão, inconformada por medidas como a anistia e a abertura política. 
Houve bombas na sede da OAB e no Riocentro, o triste caso da explosão de artefatos por militares que desejavam uma tragédia durante um show de artistas nacionais. O material explodiu no colo de um dos dois agentes secretos encarregados da famigerada missão. O araponga(espião)morreu na hora. 
Na anistia, Figueiredo permitiu a volta de nomes importantes da política brasileira, exilados desde o trevoso tempo de arbítrio: Leonel Brizola, Miguel Arraes e o líder camponês Francisco Julião foram alguns dos que pisaram novamente o solo brasileiro. 
Na regra do perdão de Figueiredo, estava embutido o mais importante para os algozes das masmorras. Também ficaram livres de punição torturadores e assassinos sobretudo do período mais agudo, entre 1968 e 1973, governos Costa e Silva e Garrastazu Médici. A medida gerou revolta e anos mais tarde, foram criadas comissões para caçar os carrascos. Radicalismo ou vingança faz mal à Esquerda e à Direita. 
Frasista manco, o Presidente Figueiredo mandou um trabalhador que reclamara do salário mínimo, “dar um tiro no coco(cabeça)”e disse: “Quem for contra a abertura, eu prendo e arrebento”. 
De fato, Figueiredo era mais fanfarrão do que ditador. Aguentou pesada oposição e nem usou da Censura. A série O Bem-Amado, de Dias Gomes, lhe fazia jocosa paródia toda semana, incluindo uma sósia da primeira-dama, Dona Dulce. 
Figueiredo, sujeito com toda pinta de bom de porrada, não passou a faixa presidencial a José Sarney, o reserva imediato de Tancredo Neves, morto levando no caixão os sonhos de liberdade da geração proscrita e da que nascia aos sons do cancioneiro democrático encabeçado por Vai Passar, de Chico Buarque de Holanda. 
Opostos frontais, Figueiredo e Chico Buarque amavam o Fluminense. O presidente cumpriu rigorosamente seu isolamento, mantendo-se em seu apartamento de classe média, no Rio de Janeiro e dando escapulidas, incógnito, ao velho Maracanã para assistir clássicos no meio do povão. 
Em 1988, um bêbado o reconheceu na geral, de camisa tricolor, em clássico perdido para o Vasco por 1×0. O homem se aproximou e Figueiredo, rindo, disse que ele estava enganado e que, na verdade, era um irmão bastardo do presidente. Uma nota de pé de página na Revista Placar registrou o episódio. 
Figueiredos são esquisitões. O presidente morreu em 1999, vítima de insuficiências renal e cardíaca e antes pediu enterro simples, sendo posto no popular Cemitério do Caju, quando a lógica seria uma sepultura no famoso São João Batista, onde estão as celebridades republicanas de relevo superior. 
Foi esquecido o Figueiredo que, certa vez, disparou: “Favela só se acaba com bomba atômica”, uma profecia de mau gosto sobre o cotidiano atual. Seu livro, me convencerei a ler. Consegui engolir o de Castelo Branco, tenho entranhas para qualquer tira-gosto. 
Um novo Figueiredo está surgindo na pobreza indigente do Vasco no futebol. Quer ser lembrado e vem fazendo a torcida, humilhada de conquistas e craques, sonhar um pouco. Faz gols inesperados de porrada, na linha dos murros que o homônimo famoso dava na mesa do Palácio do Planalto. 
Figueiredos diferentes  a começar das camisas. O Figueiredo cruzmaltino, apenas um menino ousado e abusado, tem 21 anos e provavelmente nem saiba o que foi o pedaço da história do tempo dos seus avós. Nós, vascaínos maltratados, não queremos frases, ataques de nervos ou truculência. Queremos gols. Para nunca esquecer o Figueiredo de São Januário. 
Festa 
Um almoço hoje no Restaurante Nau vai detalhar os 107 anos de aniversário do ABC além de apresentação de novidades, de ideias do intrépido comunicador Alan Oliveira. 
Amanhã 
O ABC está obrigado a conseguir vitória de lavar a alma contra o Confiança (SE) no Frasqueirão. Nada de retranca, time todo ao ataque.
Téssio 
Pode parecer estranho quando o nome de Téssio é gritado pela galera americana. Mas dentre os que estão aí, Téssio é uma modesta, mas eficiente esperança. 
Jogão 
No dia 24 de junho de 1973, há 49 anos, o ABC ganhava o segundo turno do estadual batendo o América por 2×1 no Castelão(Machadão), gols de Alberi e Maranhão com João Daniel para os rubros. Público de 27.200 pagantes.
Times 
ABC: Erivan; Sabará, Edson, Telino e Anchieta; Maranhão, Danilo Menezes e Alberi; Libânio, Jorge Demolidor e Moraes. América: Ubirajara; Odimar, Mário Braga, Paúra e Cosme; Nunes, Osvaldão e João Daniel; Almir, Santa Cruz e Hélcio Jacaré. 
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