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Filas e dificuldades nas unidades

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Ricardo Araújo – repórter

A escuridão da madrugada esconde uma legião de natalenses que saem de casa na tentativa de serem atendidos por um médico nas Unidades Básicas de Saúde mantidas pela Prefeitura do Natal. Da zona Norte à zona Sul, as realidades dos Postos de Saúde parecem sincronizadas. São longas filas formadas a partir das 4h da manhã, escalas médicas incompletas ou insuficientes para atender a atual demanda, prédios desestruturados, longos prazos para a realização de exames simples e complexos, além do histórico desabastecimento das farmácias e estoques dos postos.

#SAIBAMAIS#Não bastassem os problemas acima elencados, algumas unidades foram fechadas em decorrência da falta de manutenção preventiva nos prédios, a exemplo da Unidade Básica de Saúde Bela Vista, em Igapó. Dos 67 postos de Saúde espalhados pela capital potiguar, 15 tiveram que ser relocados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), pois correm o risco de desabar ou apresentam sérios problemas na infraestrutura elétrica, hidráulica ou de sustentação. Para a recuperação das unidades, a Secretaria precisa levantar R$ 3 milhões. A expectativa do titular da pasta, Cipriano Maia, é de que os recursos sejam viabilizados através do Ministério da Saúde, que ainda não se posicionou sobre o assunto.

No início da manhã desta terça-feira, 30, das 4h30 às 10h30, a TRIBUNA DO NORTE percorreu as quatro regiões administrativas de Natal, visitando as principais Unidades Básicas de Saúde nos bairros mais populosos. Em quatro, dos cinco locais visitados, constataram-se longas filas e a incerteza da prestação do serviço médico, em decorrência da alta demanda de pacientes para a baixa oferta de profissionais.

1 . Distrito Sanitário Norte IDistrito Sanitário Norte I

Aproximadamente dois quilômetros separam o Centro Clínico Asa Norte do Distrito Sanitário Norte I, localizado no Conjunto Santa Catarina. O prédio, com um pavimento superior, foi improvisado para atender a população, mas prejudica quem é portador de necessidades especiais por não disponibilizar de elevador. Assim como em outras duas unidades visitadas, é preciso “madrugar” para tentar garantir a marcação de um exame. Quanto mais complexa for a especialidade, maior o tempo de espera. Isto porque a distribuição de fichas para exames como ecocardiograma e mamografia, se resumem a duas e são entregues uma vez por semana. “Cheguei às 3h. A fila é grande aqui todos os dias. Tem dia que dobra a esquina”, disse Henrique Eduardo de Aquino, garçom. Ele tentava marcar dois procedimentos – risco cirúrgico e ecocardiograma – para uma filha que está com um mioma e pólipos no útero. A aposentada Francisca da Silva Tavares dizia que precisava  de uma mamografia. “Eu já andei tanto parar marcar o exame e não consegui. Se eu tivesse condições, pagaria um plano de saúde”,disse.

Centro Clínico Asa Norte2 . Centro Clínico Asa Norte

Às 5h22 desta terça-feira, 30, a fila em frente ao Centro Clínico Asa Norte, na Avenida Dr. João Medeiros Filho, no Conjunto Santa Catarina, concentrava quase 50 pacientes à espera da realização de exames laboratoriais, além daqueles que recorriam à marcação de consultas. Uníssonos, eles relataram que, todos os dias, a realidade é essa. O Centro Clínico concentra a marcação de consultas para especialidades diversas, assim como a realização de exames a partir de encaminhamentos de Postos de Saúde de toda a zona Norte. O local sempre há médicos e medicamentos, mas a demanda é grande. No início da manhã de ontem, um aviso fixado na parede da recepção informava que somente 100 fichas seriam distribuídas. Em dias normais, a demanda chega até 150, entre exames e consultas. “Mas tem consultas que chegam a demorar meses”, frisou Creusa Gomes da Silva, aposentada, que já chegou ao local por volta das 2h e esperou até seis horas na fila.

Unidade Básica de Saúde de N. Descoberta3 . Unidade Básica de Saúde de N. Descoberta

Pouco antes das 8h desta terça-feira, 30, o movimento na Unidade Básica de Saúde de Nova Descoberta, na zona Sul da capital, era intenso. De todas as unidades visitadas, foi a única na qual o diretor administrativo estava presente. Além disso, foi possível visualizar a escala de trabalho de cada um dos especialistas que atuam no local. De acordo com Luciano Gomes Cavalcante, diretor administrativo, a escala está completa, com exceção da pediatria, que atualmente conta só com um especialista. A atual direção mudou o modo de distribuição de fichas, o que acabou encerrando o comércio ilegal de marcação de consultas. “A marcação hoje é pela manhã e à tarde. Algumas consultas são feitas no mesmo dia ou no dia seguinte”, disse. A maior demanda é por clínico geral. Atualmente, a Unidade  funciona até as 21h. Apesar do desempenho positivo, necessita de reparo nas instalações elétrica e hidráulica. Algumas paredes apresentam mofo e quem é portador de necessidade especial tem dificuldade de acessar o prédio.

Unidade Básica de Saúde de Mãe Luíza4 . Unidade Básica de Saúde de Mãe Luíza

Aproximava-se das 7h quando alguns pacientes da Unidade Básica de Mãe Luíza saíam do estabelecimento insatisfeitos. Muitos por terem chegado na madrugada do dia anterior, conseguido agendar uma consulta para esta terça-feira, 30, e quando pensaram que finalmente seriam atendidos, os médicos não apareceram por participarem de uma paralisação nacional. A doméstica Luzinete Cesário da Silva, de 54 anos,havia chegado às 5h30, para marcar um procedimento com um ginecologista, mas foi informada que não haviam mais fichas disponíveis e a remarcação só seria retomada nesta quinta-feira, 1º de agosto. Outra especialidade com ausência de médicos há mais de uma semana, é a pediatria, como confirmou a aposentada Maria Pereira dos Santos. De acordo com funcionários, a escala de médicos está completa, mas ainda é insuficiente para a demanda. Há constante falta de medicamentos e insumos e diariamente são distribuídas somente 12 fichas para exames laboratoriais.

Cosma Maria da Silva: “A gente chega de madrugada e fica com medo. É muita violência por aqui”5 . Unidade de Saúde de Felipe Camarão

Ainda era madrugada quando os dois primeiros pacientes da Unidade Básica de Saúde de Felipe Camarão fixaram seus lugares na fila que se formaria dali por diante. O cozinheiro José Antônio da Silva chegou ao posto, às 4h. Ele tentava conseguir uma ficha para que a esposa pudesse ser atendida por um clínico geral. “De primeiro, a gente tinha que chegar ainda mais cedo. Faltavam mais médicos e o atendimento era pior”, relembrou.  A colega da fila era a dona de casa Cosma Maria da Silva. “A gente chega de madrugada e fica com medo. É muita violência por aqui”, lamentava. Mas o fato de acordar cedo e ir para a frente da Unidade não era sinônimo de garantia de consulta. Isto porque, a escala de médicos nem sempre estava completa e a distribuição de fichas, reduzida. “Às vezes, a gente é consultado no mesmo dia”, disse José Antônio. Mas a espera pode ser de até uma semana. Foi relatado desabastecimento na farmácia e espera de mais de dois anos para uma ultrassonografia.

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