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Filme de Spike Lee debate efeitos do Vietnã nos afro-americanos

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Tádzio França
Repórter      
O cineasta norte-americano Spike Lee é um dos maiores cronistas das tensões raciais na América. Sua obra já passeou por variadas fases dessa questão, um assunto que “teima” em sair das telas e invadir o mundo real – como no assassinato do segurança negro George Floyd por um policial branco, dia 25 de maio, nos Estados Unidos. No momento em que o debate e a revolta fervem nas ruas e nas redes, o novo filme de Lee vem na hora certa: “Destacamento Blood” estréia mundialmente sexta-feira (12), na Netflix. O mestre volta à Guerra do Vietnã (1959-1975) para mostrar que as contradições da América racialmente dividida continuam atuais.
O diretor Spike Lee mostra muita habilidade na construção das personagens em seu novo filme
A Guerra do Vietnã ocorreu em meio à eclosão das primeiras manifestações pelos direitos civis dos afro-americanos nos Estados Unidos. Os negros representavam um terço dos soldados presentes na batalha. Na época, líderes negros como Malcolm X questionavam por qual motivo esses homens davam a vida por um país que os tratava como cidadãos de segunda categoria há séculos.  É para esse ponto que Spike Lee aponta sua câmera cheia de crítica e humor ácido. Ele assina o roteiro da trama em parceria com Danny Bilson, Paul DeMateo, e Kevin Willmott – com este, o mesmo de “Infiltrado na Klan”, vencedor do Oscar por melhor roteiro adaptado no ano passado.
No filme, os quatro veteranos Paul (Delroy Lindo), Otis (Clarke Peters), Eddie (Norm Lewis) e Melvin (Isiah Whitlock, Jr.) voltam a Ho Chi Minh (antiga Saigon) décadas depois do final da guerra em busca do corpo do líder do esquadrão Blood (Chadwick Boseman) e também de uma cheia de ouro que eles esconderam na selva. O retorno ao campo de batalha revive lembranças dolorosas, e questões do passado que continuam atuais. E de quebra ainda promove uma longa sessão de tiros, explosões e pancadarias, já que a busca dos veteranos pelo tesouro não será nada tranqüila.
A trama mescla ação com os questionamentos habituais de Spike Lee sobre política e raça nos Estados Unidos. O soldado falecido foi o membro mais politizado do grupo, o mentor intelectual do grupo. No entanto Paul é um republicano simpatizando de Donald Trump que vive em conflito com o filho, um professor de estudos afro-americanos. A volta ao Vietnã reaviva o ressentimento deles com a América branca, que cerceia os direitos dos negros, prende e mata seus líderes. Paul é o membro mais contraditório e emocionalmente instável, algo que tornará a busca dos amigos no antigo território inimigo cada vez mais difícil.
O filme também traz menções a outros longa-metragens  que transformaram o orgulho ferido norte-americano no Vietnã em ação cheia de sangue e explosões, como Rambo e Braddock – e os critica devidamente. Spike Lee ainda faz citações a “Apocalypse now”, o maior clássico sobre o Vietnã. Ele aproveita o olhar violento e poético de Francis Coppola para promover a sua própria indagação sobre por que há tão pouco registro dessa guerra sob o ponto de vista dos soldados negros.
“Destacamento Blood” começou a ser filmado em 23 de março de 2019, no Vietnã e na Tailândia. O longa estava programado para estrear no festival de Cannes deste ano, mas devido ao cancelamento pela pandemia do Covid-19, acabou sendo levado para Netflix. É a primeira vez que um filme de Spike Lee é lançado dessa forma – apesar de o diretor já manter relações com a plataforma, desde que produziu para ela a série “Ela quer tudo”, baseado no seu filme de 1986.
Em entrevista à Vanity Fair, Spike Lee declarou que o filme é de fato uma análise sobre a política racial na América no final da década de 60, quando soldados negros questionavam a luta por um país que sempre os oprimia. “As Forças Armadas dos Estados Unidos quase se despedaçaram quando soldados negros souberam que Martin Luther King foi assassinado. Eles também ouviram dizer que seus irmãos e irmãs estavam se manifestando nos Estados Unidos. O ponto de inflexão chegou muito perto”, disse. Aos 63 anos de idade, e com mais de 40 anos de serviços prestados ao cinema, Lee ainda se mantém relevante e cruelmente atual.
Os cartazes de Destacamento Bloo são atrações à parte na produção lançada pela Netflix
Mais Lee em streaming
Se a Netflix vai exibir o mais novo trabalho de Spike, o streaming do Telecine está dispondo de cinco clássicos do diretor para quem deseja rever ou ter o primeiro contato com sua obra.  São cinco filmes: “Faça a Coisa Certa”, sucesso de crítica e bilheteria que foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original; a trama se passa em volta de uma pizzaria no Brooklyn, onde a maioria da população é negra e há uma parede com fotos de ídolos ítalo-americanos. Quando o ativista Buggin’ Out pede ao dono do lugar que a parede tenha ídolos negros e ele nega, inicia-se um boicote à pizzaria que desencadeia uma série de incidentes.
“Mais e Melhores Blues”, sobre a decadência de um trompetista,  reuniu Denzel Washington, Wesley Snipes, Samuel L. Jackson e o próprio Spike Lee no mesmo elenco; “A última noite” é a história de Monty, um ex-traficante que suspeita ter sido delatado pela namorada; em “O plano perfeito” um assalto cuidadosamente planejado a um grande banco em Nova York faz com que o detetive Keith Frazier entre em ação e negocie com Dalton Russell, chefe da quadrilha; e “Infiltrado na Klan”, que mostra plano do policial negro Ron Stallworth que consegue, de forma inusitada, se infiltrar na Ku Klux Klan. O filme venceu o Grand Prix no Festival de Cannes e recebeu seis indicações ao Oscar.
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