quinta-feira, 25 de abril, 2024
24.1 C
Natal
quinta-feira, 25 de abril, 2024

Flanando pela Europa

- Publicidade -

Woden Madruga [[email protected]]

No pacote das cartas encontradas na gaveta dos papeis desarrumados, citados domingo aqui, tinha uma do médico Túlio Fernandes Filho. Vou transcrevê-la, hoje.  Endocrinologista, professor da UFRN, pintor, fotógrafo, sabe equilibrar a ciência com a arte. Teve um tempo que jogava voleibol pelas poucas quadras de Natal e também peladas de futebol no areal da rua Manoel Dantas (mais adiante morava o futuro grande craque Nei Andrade), Petrópolis, onde foi menino e aonde continua morando.  Isso é história do final dos anos 1940 começo de 1950, quando fomos colegas da mesma turma do Ginásio 7 de Setembro, do grande professor Antônio Fagundes.  Aqui e acolá nos reencontramos na mesma padaria. Permanece em forma, bom papo. Sua carta, que  não tem o mês e nem o ano, (mas tem sinais que apontam ter sido escrita em meados de 1974),  conta de uma viagem que faria a Europa e aos Estados Unidos.  Nas entrelinhas, a marca do seu bom humor e também de pitadas de ironia. Vamos lê-la:

“Meu caro Woden:

Estive aqui a sua procura para duas coisas. A primeira era apresentar as minhas despedidas. E a segunda era para me colocar a sua disposição para alguma coisa que precisar na Europa ou nos EEUU.

Vou seguir com minha esposa no dia 29 deste, devendo passar pelos seguintes países: Portugal, Espanha, Itália, Suíça, Áustria, Alemanha (onde talvez assista o final da Copa), França, Bélgica, Holanda, Inglaterra e EEUU.

Alemanha – Se você tiver alguma ‘recomendação especial’ ainda para a nossa seleção, ou particularmente para Zagalo, aproveite esse voluntário portador (que não merece pancada).

Suíça –Se por outro lado, você tiver alguma encomenda para a Suíça, pode aproveitar. Estou doido para um contato e conhecer a evolução social daquele país. Disseram-me que lá o negócio é de uma democracia incrível. Nos trens pode-se ler a seguinte frase: “Se as janelas devem ficar fechadas ou abertas, decide, por votação livre, a maioria dos passageiros. Em caso de igualdade de votos desempata o chefe do trem”. Exemplo belo de democracia.

Itália – Se ainda tiver alguma comunicação especial na Itália para o Papa pode falar, ou melhor, dizer qual é o “papo”. Tenho certeza que ele cancelará toda a sua programação, sabendo que eu estou em Roma e, principalmente, levando notícias suas.

Holanda – Não sei por outro lado se você deseja alguma coisa de Amsterdã. Da Holanda quase não me lembro nada do nosso tempo de ginasiano. Não sei nem mesmo através de leitura, se as mulheres holandesas são bonitas. Recordo apenas que muito bonitas são as vacas.

Sicília – Lamentavelmente só vou a três cidades da Itália: Roma, Florença e Veneza. No máximo talvez o tempo chegue para a ir a Capri. Como vê, lamentavelmente, não vou a Sicília,  ‘sua saudosa terra natal’. Certamente passarei nas lojas da Via Nazionalle, onde se e encontram as mais lindas gravatas do mundo e trarei uma para você manter as saudades incontidas.

França – Passarei alguns dias em Paris. Certamente sentarei numa mesa de bar na calçada e um cavalheiro de smoking dirá M’sieur e madame deixando-me confuso com o meu francês aprendido com Dona Expedita no colégio “7 de Setembro”. Para completar o ‘maitre’, gentilmente, larga um bom soir, esperando de mim uma resposta em francês parisiense.

Espero que exista pelo menos um acordeom para disfarçar a coisa em ritmo de valsa. Nessa hora, lembrarei aquele nosso amigo comum, conhecedor dos melhores vinhos do mundo, o professor Leide Morais. Direi as únicas palavras em francês que já preparei: “CHATEAUNEUF DU PAPE”.

Peço dois copos e explico  que o outro é para tomar por um amigo meu que está em Natal, chamado Woden Madruga.

Ficou aqui um abraço do seu amigo

tulio fernandes filho”

A poesia de João Gualberto

A carta de João Gualberto, poeta e jornalista, é de primeiro de agosto de 1979,  datilografada em papel de redação de Tribuna do Norte. Assim:

“WM:

Só agora estou por aqui, quando já estou de volta às paragens (e aragens) do Sul Maravilha. Quer dizer, os lances da profissão ficam para depois – quem sabe, a partir do off. Em quatro meses na terrinha, o coração teve de ficar muito mais agitado para não parar de vez (lembro do Alexis e do Berilo, estes imortais dos amigos de sempre).

Não fiz o que pretendia, não por falta de luta, mas por ausência total de uma ‘anima’ profissional. Escrevi, o que não posso deixar de fazer, algumas reportagens e alguns contos e alguns poemas. Dos po3mas, tenho um caderno que queria lançar no circo ou na arena da Cultura norte-riograndense: “Palhaço do Meu Circo Instantâneo”. Inédito, como os demais trezes cadernos de poemas que compus em quase treze anos de atividades como poeta. Poeta marginal, claro, pois está cada vez mais difícil participar da farsa cotidiana em que nos transformamos os nordestinos (e, por extensão, brasileiros).

O jornalismo que praticamos todos os dias está demais para a minha cabeça. É preciso que o dr. Beltrão faça algo pela “desburocratização” da imprensa (toda ela oficial, pelo menos aqui nesses trópicos do sub). Eu, como não sou ministro nem dono de jornal, e sim apenas um pobre artífice no meio dos velhos e novos jornalistas-proletários, vou batalhar para editar pelo menos um caderno por aí. Tem um, “Versos Perversos de um Poeta Pouco”, que está o Carlos “Clima” Lima. Até quando? Não sei.

Um abraço nos ossos do ofício,
João Gualberto. ”

O cartão do Majó  O cartão-postal (bons tempos do cartão-postal!) do Majó Theodorico Bezerra, me veio da Austrália, estampando a Sidney Opera House. É datado de 2 de março de 1978. A sua letra impecável. O  Majó sabia como poucos desenhar as letras, um calígrafo nato. E rápido nos recados:

“Woden Madruga, amigo, daqui de Sydney, receba meu afetuoso abraço.

Theodorico Bezerra” 

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas