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Flipipa fortalece identidade praiana

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Ramon Ribeiro
Repórter

Realizada com menos recursos e aparentemente mais enxuta em termos de estrutura, o Festival Literário da Pipa – Flipipa, que encerrou sábado à noite, compensou com boas discussões e temas mais diversificados. Dentre os momentos mais marcantes, a participação dos poetas Charles Peixoto e Ronaldo Santos, e o realizador de cinema Cláudio Lobato, que após a exibição do documentário “As Incríveis Artimanhas da Nuvem Cigana”, animaram o início da noite de sábado com declamação, performance e histórias dos anos 1970. Ainda na noite de sábado, o jornalista Lira Neto também instigou o público ao trazer um novo olhar sobre uma das figuras mais complexas e ambivalentes da história do Brasil, o político Getúlio Vargas, foco de sua triologia biográfica.
Atmosfera da Pipa favorece a poesia, como a nuvem de Charles Peixoto
Entre altos e baixos, boas mesas não tiveram um público esperado, como a de Ignácio Loyola Brandão na quinta-feira. Devido a um atraso de mais de uma hora na programação, sua participação iniciou além do horário e muitas pessoas já tinham se retirado. Na sexta, com o cancelamento da mesa do ator Érico Brás – chamado de última hora pela Globo para uma gravação – a programação pode correr sossegada com mais tempo para as mesas do dia. Foi o que aconteceu com o bate papo com potiguar radicado em São Paulo, Estevão Azevedo. O autor falou bastante sobre as histórias por trás de seus elogiados livros e abordou publicamente a relação de sua família com o RN, além de passagens delicadas vividas na ditadura.

A Flipipa também foi marcada por algumas manifestações sobre o conturbado momento político do Brasil. O escritor e humorista Gregório Duvivier mandou um “Fora Temer” ao vivo numa entrevista a InterTV. Na mesa em que mediou o bate papo com Estevão Azevedo, o potiguar Carlos Fialho também declarou o seu. Outros autores, como Ignácio Loyola Brandão, mostraram seus descontentamentos com os rumos políticos do país, mas de modo discreto e reflexivo.
Andreia Galvão abordou memórias da praia, cultura popular e lendas coletadas pelo historiador Hélio
Curador da Flipipa e um do realizadores, Dácio Galvão fez um balanço positivo da sétima edição. Ele afirmou que essa foi a edição montada com menos verba, o que dificultou algumas ações, mas não no conteúdo. “A dificuldade de construir uma boa programação não passa só pela falta de recursos. As vezes a agenda dos autores não bate com a nossa. Ainda assim, montamos uma programação diversificada, com diálogos entre os gêneros literários. Trouxemos nomes de diferentes gerações. A curadoria foi pensada para instigar e provocar. Estamos satisfeitos com a aposta no evento, em fazer a economia criativa girar”.

Uma crítica que se repetiu este ano está relacionada ao local onde o evento acontece. Apesar de amplo, o espaço é distante da área de movimento da Pipa, onde estão localizados restaurantes e pousadas. “O local é excelente, mas tem esse problema do deslocamento, de ser um pouco distante do burburinho. Isso acaba não agregando principalmente aqueles turistas que vem com a família para curtir Pipa e poderiam entrar por acaso no evento. Vamos repensar o lugar.” Um novo formato também pode ser estudado. “Aprendemos a cada edição. Existe hábitos que a gente tenta agregar e outros que preferimos romper. Talvez deixemos duas mesas por noite, com mais tempo para os autores ou intervalo maior entre elas”.

Apesar dos escritores consagrados de cada edição, Dácio afirma que a parte mais importante da Flipipa são as atividades de integração e de formação com a comunidade. “Com o impacto do turismo,  a região passou por um processo de descaracterização. Quisemos discutir isso com as novas gerações a partir da memória étnica e historiográfica de Hélio Galvão sobre a região. Os professores tiveram uma adesão fenomenal. Os alunos se emponderaram com esse conteúdo. Criaram composições, saraus, maquetes, mapas.  Nasceu uma geração que vai multiplicar essa reflexão sobre a identidade em meio ao cosmopolitismo da praia. Boi, Zambê, Pastoril, essas manifestações tradicionais da região tiveram vez e voz na programação,” Comentou.

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