Os homens se projetam na imensidade. Os egoísmos, as vaidades, as ambições, a injustiça, a violência, a volúpia e a mentira aviltam a condição humana. Submetida à violência a civilização cede e morre. O horror, o sofrimento, a fome, a miséria, o medo e o desespero tumultuam e podem fragilizar laços e sentimentos. São circunstâncias que, no passado e no presente, convertem homens em lobos dos seus semelhantes. Perde-se, então, consciência e respeito ao valor da vida humana, animal e vegetal. Não é em vão que o desequilíbrio ambiental se amplifica em correspondência à escalada de violência em todo o mundo. O amor, a caridade e a paz encaminham a humanidade para Deus. São folhas eternas, insusceptíveis de destruição, vivas para sempre. Emergem dos fundamentos divinos e universais da vida. O mal é uma folha morta. Seu fim é extinção com absoluta rejeição. Sua lembrança suscita consciência dos tempos perdidos e mal vividos. A atual conjuntura do mundo e do Brasil, fonte de inseguranças, medos. incertezas e conflitos, suscita em cada homem uma revisão dos seus valores e de suas prioridades, em que o SER precisa suplantar o TER: retomada de ascensão da humanidade.
O passado é e sempre será fonte de inspiração do presente. As crises são momentos de parto, de dor, de perplexidade, de angústia e de ansiedade. Também de júbilo e êxtase, quando em seus desfechos o homem se encontra consigo mesmo. Uma das passagens mais elucidativas dessa catarse emerge do elogio fúnebre de Charles de Gaulle, proferido pelo gênio inimitável de André Malraux. É uma reflexão insuperável, original, sobre grandeza, perenidade e coerência de princípios e sentimentos. Seu título, por si só, induz à contemplação da mistura das ações, da alma, das opções e dos ideais de grandes homens e de seus compromissos com a humanidade: “Quando os carvalhos tombam”. O carvalho é uma arvore, no mínimo, centenária. Do mesmo modo que a sequoia californiana é milenar. A longevidade projeta seu sentido. As coisas que engrandecem o homem sempre existiram e evoluem. Eis a essência das coisas essenciais dos homens e da vida, que o Eclesiastes consagrou, proclamou e vaticinou muito antes do Cristo: “Não há nada de novo debaixo do sol”. A modernidade também consiste em reconhecer e detectar o que é verdadeiramente insuperável, imutável e invariável, dando continuidade à evolução.
As belezas do homem e do mundo são indissociáveis. Os campos, os vales, as planícies, os desertos e seus desafios, as florestas, as montanhas, os mares e suas praias, as geleiras eternas, as terras esturricadas do semiárido, que se cobrem de verde às primeiras chuvas, enfim, o ornamento natural com o qual Deus revestiu a Terra, tudo sempre esteve à espera do domínio lúcido e sereno da humanidade. As ações humanas são desdobramentos de uma caminhada ao longo do tempo: a civilização. Suas origens, construção e fins devem observar a coerência e a harmonia eternas, que lhes antecederam. O “pecado de Adão” se manifesta em cada momento da História. É a soberba. É a inveja. É o orgulho. Emergem do egoísmo. Nenhuma beleza, fruto de concepção humana, pode exaurir ou sobrepujar a infinitude do belo na obra divina. Jesus, em parábola, certa vez disse que as vestes de Salomão, em toda sua magnificência e ostentação, assim como suas obras, em todo esplendor e suntuosidade, não se comparavam ao encanto e à beleza dos lírios dos campos.
O homem erra ao confundir existência com eternidade. É paradoxal. Miguel de Unamuno, sábio espanhol, intitulava essa contradição de pecado da avareza. De natureza social e política. Em que especialmente governantes misturam fins com os meios. Ou maquiavelicamente os manipulam. Consideram-se “donos” da verdade: é a perda ou renúncia da ética e do humanismo. Postura em que se abdica do compromisso com cada ser humano como detentor, legítimo e insubstituível, da condição de filho de Deus. O homem é sujeito, ator e fim da vida. Sua individualidade é indestrutível, fruto do sopro divino.
O ódio e as ambições cegam. Desvirtuam a substância da vida humana. Eis o estigma da atual conjuntura internacional, condicionando a vida interna de cada povo. É a marcha crescente da insensatez. É oportuno relembrar uma estória com a qual o historiador Hendricks Van Loon descreveu o que é a eternidade. Muito longe, nas plagas boreais, inacessíveis, eleva-se um penhasco imponente de seis mil metros de altura e largura. De dez em dez séculos, um passarinho pousa nesse rochedo, para aguçar o bico. Quando a ave houver consumido a rocha, ter-se-à esgotado um único dia da eternidade…