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Força nas bibliotecas!

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Tádzio França – repórter

É mais complexo que parece o processo que leva alguém a abrir um livro pelo simples prazer da leitura. O primeiro passo, é consenso, se dá na escola. Ou deveria. Para discutir a questão sob vários âmbitos e chegar a ideias que poderiam ser postas em prática no cotidiano escolar, existe o Seminário Potiguar Prazer em Ler, cuja 6ª edição será realizada nos próximos dias 06 e 07 de agosto, no Centro Municipal de Referência em Educação Aluízio Alves – CEMURE. O encontro é dirigido a  educadores em geral, mas seus debates, conclusões e ações são de alto interesse público.
Seminário potiguar Prazer em Ler reforça discurso político em prol da leitura e põe Natal dentro do movimento Por Um Brasil Literário. Manifesto, troca de experiências e debates estão na pauta.
“Não classificamos o Seminário como um simples evento. É na verdade uma atividade inserida em um programa de formação de educadores realizado ao longo dos anos, desde 2007. É um dos ápices desse processo”, afirma Cláudia Santa Rosa, coordenadora técnica do encontro, e diretora do Instituto de desenvolvimento da Educação (IDE). A professora também integra a Rede Potiguar de Escolas Leitoras, outro projeto apoiado pela o poder público municipal e estadual, e o Instituo C&A – criador do programa Prazer em Ler.

MANIFESTO

O Seminário se desenrola através de palestras, diálogos, mediações de leitura, conversas e bate-papos, todos girando em torno de livros, literatura e formação de leitores. Cláudia Santa Rosa ressalta que um assunto em destaque nesta edição será o fomento de ações que promovam políticas públicas para a leitura nas escolas. Logo no primeiro dia do encontro, às 9h, será lançado o ‘Manifesto por um Rio Grande do Norte de Leitores’, um termo de adesão que será assinado por presidentes estaduais de partidos políticos, visando orientar seus futuros candidatos a se comprometem com a promoção da leitura literária no Estado.

O assunto ‘política pública’ será discutido com mais profundidade no dia 06, às 13h45, com palestras de Áurea Alencar (secretária do Movimento Por Um Brasil Literário) e Lucília Helena Garcez (secretária executiva do Plano Nacional do Livro e Leitura), sob a coodenação de Volnei Canônica, do Instituto C&A. “É urgente a questão da política pública, que deve se tornar um compromisso para as ações de leitura. O IDE não pode ficar à frente dessas ações para sempre, é um dever do estado”, afirma Cláudia.

NOSSOS AUTORES

As discussões no Seminário também visam a sensibilização dos educadores em questões de literatura – afinal, está nas mãos deles mediar e orientar os estudantes nesta questão. A professora Cláudia ressalta nesse viés a mesa “Uma leitura literária que mexeu com minha cabeça”, onde ávidos leitores irão falar sobre os seus livros fundamentais e favoritos. São eles o jornalista Vicente Serejo, o escritor Carlos Fialho, e Salizete Soares (que teve  seu recente livro, “Mundo pra que te quero”,  indicado ao Prêmio Jabuti 2012), com mediação de Eduardo  Gosson. “É importante formar no educador a apreciação estética da literatura, despertar a curiosidade sobre ela”, diz.

PALESTRAS

Gente que lê e, sobretudo, escreve, também vai compartilhar suas experiências no Seminário. Cláudia destaca a conversa do dia 07, às 8h30, com a carioca Roseana Murray, na palestra “Livros, poesia e formação de leitores”. Seu trabalho é bastante premiado e um dos mais populares entre os jovens leitores. Roseana publicou o primeiro livro infantil em 1980, “Fardo de carinho”, e hoje conta com uma obra de mais de 60 livros. Já foi premiada pela Associação Paulista dos Críticos de Arte e Academia Brasileira de Letras, entre outros.

À tarde, outro destaque será a palestra “À conversa com Alice”, com o educador português José Pacheco. Segundo Cláudia, ele tem uma experiência pessoal importante a mostrar. “Pacheco se criou nas ruas e venceu pela educação, leitura e conhecimento.  Escreve sobre educação através de narrativas literárias e muitas metáforas, e conhece bastante a educação brasileira, pois assessora escolas ao redor do país”, explica. O encontro será encerrado com a palestra “Porque eu sou feito de livros e algumas letras que colhi no sinuoso caminho das páginas”, do porto-alegrense Celso Sisto. É escritor, ilustrador, ator e contador de histórias, com mais de 60 livros na bagagem e muitos prêmio no currículo. “Ele incentiva a contação de histórias e a palestra dele fugirá bastante do lugar comum”, completa Cláudia Santa Rosa.

No começo de julho, a coordenadora esteve na 10ª edição da FLIP, em Paraty (RJ), um dos maiores festivais de literatura do país, para discutir sua experiência à frente da Rede Potiguar de Escolas Leitores, que integra cerca de 180 escolas entre Natal e Parnamirim, na formação de boas bibliotecas. O assunto foi o papel social e político das bibliotecas. “O desejo de todos que trabalham com educação no país é o mesmo.  Queremos que as redes de leitura se fortaleçam, e que as estratégias para isso se tornem ainda mais articuladas”, diz. É um trabalho que não se encerra quando o Seminário terminar. “Não queremos leitura só para tarefas escolares, mas que o sujeito possa encontrar sentidos para carregá-la por toda a vida”, conclui.

Serviço: 6º Seminário Prazer em Ler. Dias 06 e 07/08, no CEMURE. Mais informações pelo 3611-0968/3232-1482.

Bate-Papo

Volnei Canônica, Coordenador do projeto nacional Prazer em Ler e Instituto C&A

Natal tem um bom histórico na discussão de propostas que possam melhorar a difusão de leitura nas escolas. É um fato sabido e aprovado por Volnei Canônica, coordenador do projeto nacional Prazer em Ler e representante do Instituto C&A. Ele estará em Natal na próxima segunda-feira (dia 06), participando da versão potiguar do Seminário Prazer em Ler. Volnei falou sobre as atividades do instituto, projetos, e a importância de debater ideias.

O programa Prazer em Ler, do Instituto C&A, apóia outros projetos ligados à formação de leitores?

Sim, a começar pelos diversos seminários feitos pelos pólos de leitura, que são 14 espalhados pelo país. Além deles tem o Encontro de Escritores Indígenas, a FLUPP (Festa Literária das UPPs), Flipinha (dentro da programação da FLIP), o Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, o Seminário Natal com Leitura, e o projeto Conversas ao Pé da Página.

O Seminário Potiguar tem algum diferencial?

A particularidade dele é a enfase na discussão sobre a criação de mais políticas públicas para a leitura. Natal tem desde 2009 um projeto de leitura literária na escola, o que é um grande avanço a nível nacional. Principalmente se a gente ver que o cenário ainda está sendo desenhado no Brasil. A movimentação em Natal faz lembrar que o assunto envolve a participação não só do governo, mas também da sociedade.

O Instituto C&A participa da seleção de convidados nos seminários?

Nosso apoio é basicamente técnico e financeiro. A seleção de convidados é feita pelo Instituto de Desenvolvimento de Educação (IDE) com o apoio de parceiros. Podemos sugerir alguém, conforme a temática.

Como os educadores e alunos podem sentir de forma práticas as ações destas iniciativas?

Acredito que as palestras e tudo mais que é discutido nesses eventos refletem diretamente sobre as ações dos professores. Temos um projeto que o Escola de Leitores, um concurso que seleciona cinco escolas para relatar o andamento de seus projetos. É um processo dinâmico.

As bibliotecas são parte importante dessa discussão?

Sim, muito. O Plano Nacional de Livro e Leitura trabalha as bibliotecas públicas, escolares e comunitárias, com o objetivo de formar uma rede de ações conjuntas. O Ministério da Cultura e o Programa Nacional de Incentivo à Leitura costumam  manter um diálogo com iniciativas como as do Prazer em Ler. 

Fazer com que os jovens criem o prazer em ler através da escola ainda é difícil?

Sim, mas pra isso existe metodologia. A escola deve ter bom acervo, mediação, espaço e gestão. Da forma certa, faz com que a criança se torne um leitor autônomo. Segundo pesquisas, é puro desinteresse que assola a maioria das crianças. Despertar o interesse é o grande trabalho.

ENTREVISTA

José Pacheco, Educador

‘As políticas educativas são desastrosas’

Mestre em Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, o educador português José Pacheco tem em seu cotidiano uma profunda experiência da leitura escolar. Por 30 anos coordenou a Escola da Ponte, projeto educativo que revolucionou os moldes tradicionais de ensino, baseado na autonomia dos estudantes. Hoje, é um estudioso da realidade brasileira e bastante crítico quanto a falta de mudanças no setor. É autor dos livros  “Quando eu for grande, quero ir à Primavera” (2000), “Sozinhos na Escola” (2003), “Caminhos para a Inclusão” (2006), “Para os filhos dos filhos dos nossos filhos” (2006), entre outros. Ele dará palestra dia 7, próxima terça-feira, no Cemure.

O movimento pelo acesso à leitura parece crescente no País. São várias as ações desenvolvidas com foco no desenvolvimento da leitura sobretudo nos espaços escolares. Como  observa esta mobilização? Os resultados já podem ser observados?

Creio que a avaliação feita de iniciativas, que culminam no seminário Prazer de Ler, mostram que existe mobilização e resultados. Mas será preciso que, paralelamente a essas ações, a escola forme leitores. Um país que conta mais de 24 milhões de analfabetos funcionais não é um país leitor, é um país em risco.

No Brasil, são vários os desafios, desde a ausência de bibliotecas nas escolas, formação de educadores para o trabalho com a leitura e o acesso aos livros (são caros, hem!).  Como analisa o cenário no País?

O Governo tem tentado, mas as medidas de política educativa são desastrosas, quando deparam com escolas onde as bibliotecas estão fechadas durante as aulas, ou onde livros são postos em caçambas, ou queimados…

O que acha de seminários como o Prazer em Ler?

Penso que é mais uma oportunidade de refletir sobre as causas da iliteracia. E de prever iniciativas que conduzam a um Brasil leitor.

Que estratégias apontaria para melhorar os indicadores de leitura no País?

Talvez a uma mudança no modelo de escola que ainda (infelizmente) temos. E a formação de especialistas em alfabetização.

Uma das suas referências é o trabalho realizado na Escola da Ponte. Como avalia a experiência hoje? Que aprendizado destacaria?

Para além dos excelentes resultados no domínio cognitivo, poderia destacar a formação cidadã. Pelo livro, pela internet, ou outro veículo, os alunos vivem numa cultura de aprendizagem da cidadania no exercício da cidadania. Os adultos, que foram alunos da Escola da Ponte, jamais votariam em corruptos de colarinho branco…

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