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Franceses voltam às urnas hoje

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PLATAFORMA - Sarkozy promete enxugar o Estado, demitindo servidores

Paris – Os franceses voltam  às urnas neste domingo para escolher um novo governo. As últimas pesquisas realizadas por institutos respeitáveis apontam vitória do candidato da direita Nicolas Sarkozy, que mantém uma diferença, fora da margem de erro de todos eles, entre oito e dez pontos. A necessidade da candidata socialista Ségolène Royal de conquistar os votos do indecisos e tentar convencer os “indiferentes” a saírem de casa para votar, e a estratégia de Sarkozy de ampliar a vantagem na reta final, fizeram os dois candidatos elevarem o tom no último dia da campanha, encerrada na sexta-feira.

Em uma entrevista de rádio, Ségolène descreveu seu adversário como “uma opção perigosa” e disse que sua eleição poderia provocar protestos e violência. “É minha responsabilidade hoje alertar as pessoas sobre o risco de sua candidatura, com respeito à violência e à brutalidade que seriam desencadeadas no país”, disse Royal.

O candidato governista reagiu primeiramente com ironia, dizendo que sua oponente estava “de mau humor”. “Devem ser as pesquisas de opinião”, disse Sarkozy, que se mantém firme na liderança das sondagens.

Mais tarde, no entanto, durante uma visita a um memorial da Segunda Guerra Mundial na região dos Alpes, Sarkozy demonstrou mais irritação, dizendo que não conseguia compreender porque Royal precisou recorrer à “violência verbal”. “Eu disse à sehora Royal que a política deve envolver respeito, abertura, tolerância, unidade. Eu sinto que ela está terminando com violência. A França merece algo melhor.”

O segundo turno das eleiçõeso está marcado hoje, mas em alguns territórios da França fora da Europa a votação começou sábado.

Em visita à região da Bretanha, na sexta-feira, Royal disse que as pesquisas não são confiáveis. A socialista, que já foi ministra do Meio Ambiente e espera se tornar a primeira mulher a presidir a França, fez da personalidade polêmica de seu adversário um dos pontos fortes de sua campanha, segundo Oana Lungescu, correspondente da BBC em Paris. Sarkozy candidato prometeu unificar a nação, revigorar a economia e acabar com o desemprego.

Para o correspondente da Agência Estado na França, Gilles Lapouge, a eleição de hoje será o ocaso da França gaullista. "A verdadeira  ruptura acontecerá neste domingo. Uma ruptura de gerações (a chegada de um cinqüentenário  ao Eliseu) e uma ruptura espiritual: a eleição de uma pessoa não atingida pela "fascinação" por de Gaulle. A política francesa vai se libertar do estilo gaullista  e dos programas repisados por Chirac durante 12 anos. A maioria dos estrangeiros se regogiza, sobretudo nos Estados Unidos. O New  York Herald Tribune eufórico, declarou que "pelo menos não será mais Jacques  Chirac!", disse ele.

Lapouge lembra que a vitória do candidato da direita, aproxima a França dos Estados Unidos, mas não tanto quanto gostaria o governo Bush. "Tanto Sarkozy como Ségolène são contrários a uma ação  militar contra o Irã, mas querem sanções mais severas contra Teerã e o Sudão  (por causa de Darfur), rejeitam a suspensão do embargo de armas contra a China  e acham que o escudo antimísseis balísticos dos americanos deve ser debatido  com os europeus."

 Uma outra ilusão, reforça ele: "na França, Sarkozy é tido como um liberal, influenciado por  Thatcher, Tony Blair ou mesmo Reagan. É inexato. A economia francesa, geneticamente  "dirigista", seria totalmente incapaz de funcionar com base unicamente nas leis  do mercado. E embora Sarkozy não seja frontalmente contra a globalização, ele  cultiva, ao mesmo tempo, um vivo patriotismo econômico. No momento em que uma  empresa européia deseja pôr a mão numa firma francesa, ele sai rapidamente da  sua toca rugindo como um leão."

Para o Brasil, pouca coisa deve mudar

Paris (AE) – Se os brasileiros pudessem votar na eleição presidencial francesa, que candidato seria melhor para os interesses do Brasil? O direitista Nicolas Sarkozy ou a socialista Ségolène Royal? Naquilo que interessa mais diretamente ao Brasil, a liberalização do comércio agrícola, a resposta seria: tanto faz. Ambos são igualmente protecionistas. “Não há diferença”, disse à Agência Estado Géraldine Kutas, pesquisadora do Grupo de Economia Mundial da Faculdade de Ciências Políticas (conhecida como Science Po). “Os dois querem manter a proteção.”

Ferreamente apegada a suas tradições rurais, a França tem sido o principal obstáculo ao corte dos subsídios e das tarifas de importação dos produtos agrícolas, que dificultam a entrada dos produtos brasileiros na União Européia (UE). As mudanças nessa área estão ocorrendo apesar da França. Os subsídios da Política Agrícola Comum (PAC) foram congelados em 2005, no patamar de 43 bilhões de euros. Os produtores passaram a receber a subvenção com base na média do que receberam entre 2000 e 2002, quando ela era calculada sobre sua produção. Para acabar com o estímulo a essa produção altamente custosa para os contribuintes europeus, os agricultores recebem todo ano a mesma soma, independentemente do que produzem. Sarkozy e Ségolène nada disseram sobre a PAC durante a campanha. A candidata socialista enviou sinais ambivalentes. Em seu programa de governo, ela propõe “promover a idéia de um ‘PAC mundial’ para organizar os mercados de maneira mais equilibrada e dar uma verdadeira chance à agricultura dos países em desenvolvimento”. Música para os ouvidos do Terceiro Mundo. Mas, essa referência teria muito mais a ver com permitir a entrada pontual de produtos tropicais de países pobres que não são produzidos na França, como banana, do que, por exemplo, facilitar a importação da soja brasileira, altamente competitiva.

Programas são bem parecidos

Paris (BBC) – Os programas de governo da socialista Ségolène Royal e do conservador Nicolas Sarkozy, que disputam no domingo o segundo turno das eleições presidenciais na França, divergem principalmente nas propostas da área econômica e de imigração. Apesar de os dois finalistas estarem de acordo sobre a necessidade de reduzir a dívida pública e o desemprego, além de estimular o crescimento econômico da França, as alternativas que eles propõem para atingir tais objetivos são totalmente diferentes.

Auto-proclamado “candidato do trabalho”, Sarkozy quer flexibilizar a jornada de 35 horas semanais para permitir que os franceses “trabalhem mais para ganhar mais”. Ele promete a exoneração fiscal do pagamento das horas extras para estimular as empresas e os empregados a utilizar o sistema. Sarkozy acredita que o aumento de renda dos trabalhadores estimulará o crescimento, o que vai permitir a criação de empregos.

Já Ségolène prefere o “diálogo social” e diz que os sindicatos e empresas devem discutir, para cada categoria, a melhor solução a ser adotada em relação à jornada de 35 horas. O programa da socialista prevê sobretudo a ação do Estado para estimular o consumo e melhorar o poder aquisitivo da população, permitindo, dessa forma, maior crescimento econômico.

Royal prevê o aumento progressivo do salário-mínimo para que, ao final do mandato de cinco anos, ele chege a 1,5 mil euros (cerca de R$ 4,1 mil) brutos e também dos baixos salários do setor público e das aposentadorias.

A socialista anunciou ainda uma ajuda financeira às pequenas empresas que contratarem jovens sem qualificação profissional. O Estado pagaria esses salários durante um ano.

Sarkozy promete reduzir o número de funcionários públicos, deixando de substituir a metade dos que devem se aposentar nos próximos anos. A socialista prevê, ao contrário, novas contratações, principalmente nas áreas da saúde e da educação.

No tema da imigração, os dois candidatos afirmam que irão examinar caso por caso os dossiês de familías em situação irregular com filhos inscritos nas escolas francesas. Mas as semelhanças nesse campo param por aí. Sarkozy defende sua lei da “imigração escolhida”, que favorece a entrada de estrangeiros com bom nível de estudos e qualificação profissional.

A socialista afirma que se for eleita fará mudanças nessa lei e irá autorizar novamente a regularização de clandestinos que vivem há pelo menos 10 anos na França, medida suprimida por Sarkozy quando era ministro do Interior.

Ségolène também deseja que a Europa seja mais ativa na ajuda ao desenvolvimento da África para evitar fluxos de clandestinos que procuram melhores condições de vida no continente. Nas questões de segurança, Sarkozy deseja equipar a polícia com novas armas, como a pistola elétrica, e que menores reincidentes sejam julgados como maiores de idade.

Ségolène também afirma que agirá com rigor contra a delinqüência, mas quer reformular os métodos de ação mais repressiva da polícia e introduzir novamente a chamada “polícia de bairro”, mais próxima da população.

Mas não existem somente diferenças entre os dois rivais: eles têm propostas mais semelhantes no campo da educação e prometem, por exemplo, apoio extra-escolar gratuito para alunos com dificuldades e mais aulas de expressão artística e cultural nas escolas.

Cidade que foi cenário da revolução vota  em Sarkozy

Neuilly-Sur-Seine (AE) – Em fevereiro de 1848, Neuilly-sur-Seine foi o cenário da Segunda Revolução Francesa, quando seu castelo foi saqueado e incendiado pelos insurgentes, que depuseram o rei Luís Felipe I. Hoje, a rica cidade de 30 mil habitantes (a mesma população de Clichy-sous-Bois) não lembra em nada aqueles tempos turbulentos. Na tarde de primavera, os moradores se refestelam ao sol, observando os filhos brincar na praça da prefeitura que Nicolas Sarkozy ocupou por quase duas décadas (entre 1983 e 2002).

Nessa cidade bem cuidada e elegante colada no noroeste de Paris, onde nasceram os atores Gérard Depardieu e Jean Reno e o ex-ministro da Economia socialista Dominique Strauss-Kahn (que disputou a candidatura à presidência com Ségolène Royal), Sarkozy recebeu 72,64% dos votos no primeiro turno – mais do dobro de sua média nacional, de 31,18%. Aqui, é difícil encontrar alguém que não vá votar em seu ex-prefeito no segundo turno. “Votei por Sarkozy porque tenho a esperança de que ele vai arrumar este país”, disse a economista Aurélia Renault, de 35 anos, que trabalha numa empresa de exportação. “Acho que o pessoal de Ségolène não exprime o estado de espírito francês, não arregaça as mangas e trabalha. Precisamos nos livrar desse Estado pesado, desses impostos altos, dessa dívida enorme, se não, os franceses vão todos embora da França”, arrematou Aurélia, que morou nos Estados Unidos.

“Voto em Sarkozy pela mudança”, explicou, ao seu lado, Laurence, de 31 anos, formada em comércio, e dona de uma pequena empresa de assessoria. Mas Sarkozy não pertence ao governo atual? “Sim, mas, para fazer as coisas evoluírem, não podemos nos enganar”, respondeu Laurence, que não quis dar seu sobrenome. E Ségolène Royal? “Ela não é adequada a esse cargo.” Entre os eleitores de Sarkozy, é freqüente a imagem da necessidade de um “homem que faz”, e que vai colocar o país nos eixos. “É preciso consertar a França no plano econômico e social”, disse um policial de 24 anos, que se identificou apenas como Christophe.

“(O presidente Jacques) Chirac não cumpriu o que se propôs a fazer. Mas acho que Sarkozy pode cumprir.” Esse é um outro aspecto: as eventuais decepções com Chirac e com seu governo não dissuadem os eleitores de Sarkozy. “Gostaria de um presidente que não viajasse tanto quanto Chirac. Viajar é normal, mas Chirac nunca está conosco. Sarkozy diz que ficará aqui”, disse Chantal Claudet, aposentada de 71 anos, que foi empregada numa confecção. “Aqui, todos votamos em Sarkozy”, afirmou ela, lembrando que o direitista foi um bom prefeito.

“Nada vai mudar”, ponderou Chantal. “Não importa quem estiver no poder, os ricos serão sempre ricos. O importante é a moradia e os hospitais, abrigo para as pessoas de idade. Sempre temos esperança.” “A questão é se ele terá os meios para fazer o que prometeu”, interrompeu seu marido, Gérard Cacheaux, desenhista industrial aposentado, de 65 anos. “Observo que todos, seja de direita, esquerda ou centro, prometem tudo. Quando sobem ao poder…”, continuou Chantal, e Gérard concluiu: “Não fazem nem metade do que prometeram.”

Discurso para atrair mulheres fracassa

Paris (AE) – Antes de lutar com todas as armas pelo apoio dos políticos do centro, estimando herdar 60% de seus 6,75 milhões de votos, a candidata do Partido Socialista (PS) à presidência da França, a deputada Ségolène Royal, tentou conquistar o apoio do público feminino. Estimativas do resultado do primeiro turno e as últimas pesquisas para o segundo, no domingo, indicam que ela não teve sucesso. Tanto o PS quanto a União por um Movimento Popular (UMP), de Nicolas Sarkozy, avaliam que a socialista deve sair das urnas com um eleitorado feminino quase idêntico ao masculino. Não é uma derrota, mas está longe de ser uma vitória.

Desde o início da campanha à indicação do PS, sacramentada em novembro, Ségolène vinha multiplicando os apelos à união feminina. Entre janeiro de 2006 e fevereiro de 2007, a socialista fez questão de associar sua imagem a de mulheres líderes políticas, como a presidente chilena, Michelle Bachelet, e a senadora e primeira-dama argentina, Cristina de Kirchner.

Nos comícios, Ségolène frisou que tomaria medidas para combater a violência contra a mulher e chegou a prometer punição mais severa aos homens agressores como a primeira ação de seu eventual governo. A estratégia gerou o clichê “a primeira mulher com chances reais de se tornar presidente da França”, que continua a circular por agências de notícias de todo o mundo. O tema foi tão abordado que despertou insatisfação no meio intelectual.

Em artigo publicado no Le Monde, Sylviane Agacinski, filósofa e ex-discípula de Jacques Derrida, escreveu: “Não me parece que uma candidata deva esperar nenhum benefício de um feminismo vitimista.” O apelo da socialista não ecoou no imaginário feminino francês. Uma pesquisa do instituto BVA mostra até mesmo que Sarkozy tem mais apoio das mulheres: 52% contra 48%. Na realidade, estratos das pesquisas revelam que o apoio à candidata do PS é maior entre operários – 58%, contra 42% de Sarkozy – e entre jovens, mas não entre mulheres.

“Não há um ‘voto mulher’ na França. Temos claras distinções de faixas etárias e de classes sociais, mas não de sexo”, garantiu à  Eric Bonnet, encarregado de estudos políticos do BVA.

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