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Francisco cipriano: “Investir em pesquisa é primordial”

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SETOR - Investimento em pesquisa é primordial e novos mercados se abrirão se o RN estiver preparado

À frente do Coex há cinco anos, Francisco Cipriano de Paula Segundo, o Segundo de Paula, aposta na organização do setor e na promoção do produto potiguar – em eventos como a Expofruit -, como caminhos para que a fruticultura potiguar se mantenha como a melhor do país sem deixar prejuízos para os produtores. Para ele, que é formado em Direito mas que abraçou a profissão de agricultor há mais de 22 anos, o investimento em pesquisa é primordial e novos mercados se abrirão se o Rio Grande do Norte estiver preparado.

A produção de melão no Rio Grande do Norte já responde por 90% da do país e a qualidade da fruta é indicutível no exterior. Então, está tudo bem com o setor?
Não. Nós estamos fazendo a nossa parte. Qualidade, rentabilidade, todos esses critérios exigidos, isso é obrigação nossa. Estarmos em crise não tem nada a ver com isso. Agora, se você perguntar: o pessoal da fruticultura irrigada está ganhando dinheiro? Não. Por incrível que pareça, mesmo com todos esses empregos que geramos, com todas essas divisas que trazemos, estamos trabalhando para empatar. Isso por causa do dólar. Vou lhe dar um exemplo hipotético: se você vendia uma caixa de melão por US$ 4, quando o dólar estava a R$ 3, você recebia R$ 12 por caixa, hoje você recebe R$ 8. Ora, subiram insumos, salário, combustível, subiu tudo. Aí você podia perguntar: porque você exporta? Primeiro, o brasileiro não tem hábito de comer fruta. Aí era preciso ser feita uma campanha, em toda nação, para mostrar à população o quanto é importante comer frutas, como já existe na Europa, onde a quantidade de consumo per capita cresce anualmente. Há três anos, na Alemanha, era 112 quilos por pessoa, hoje está em 145 quilos. Enquanto no Brasil não chega a 50 quilos. E tem que se ver também o seguinte: aqui a gente não tem bancos para financiar, porque o dinheiro é pouco e os juros também não dá pra a gente pagar.

Há poucas linhas de financiamento específicas para o setor?
Pode até ser que tenha, mas os volumes são baixos em relação às nossas necessidades e os juros são muito altos, a gente tem medo de não poder pagar. Porque aqui tem uma coisa, viu? Mais de 70% dos produtores são agrônomos e vivem da produção. A gente sabe fazer conta. E quando a gente coloca no papel e vê que não tem condições, não é irresponsável. Há bancos que oferecem crédito durante a safra e dizem que os produtores não querem. Mas é porque os produtores sabem que, se pegarem dinheiro agora, já no final da safra, não vão conseguir pagar. E há mais de cinco anos que não tem uma pendência financeira com produtores daqui.

Até quando vocês vão trabalhar nesse ritmo, tentando empatar?
É o seguinte. Sobre esse dólar nós não podemos fazer nada. Estamos buscando alternativas para amenizar isso aí. A mosca parasitóide é uma grande alternativa. Distribuindo ela massivamente, de forma que não se use defensivo, é possível economia de pelo menos R$ 1 mil no custo por hectare. A estrada é outro exemplo. Hoje, se nós conseguíssemos a estrada asfaltada, ganharíamos pelo menos mais 8% do que se perde lá fora, por causa das pancadas nas frutas. Além disso, como a estrada é ruim, a gente perde no preço do frete. Então, é isso que nós estamos buscando, além de melhorar a produtividade. A agricultura em geral é o seguinte: o olho do dono engorda o boi e, na fruticultura irrigada, principalmente no melão que o ciclo é muito rápido, se o dono não estiver perto, tem prejuízo certo.

Dessas alternativas, uma pelo menos já foi encaminhada, o laboratório, que o senhor considera um grande começo. E sobre a estrada, que é uma luta antiga, e se tornou uma promessa oficial da governadora Wilma de Faria, há algo de concreto?
Já. Já foi feito levantamento, já entrou no Plano Plurianual (PPA) do governo estadual, foi aprovado e, ainda este ano, sairá a primeira etapa, que estará sendo licitada na próxima semana.

E quanto ao aumento de produtividade?
Esse é muito importante. Tem que ter uma semente de boa qualidade e cuidar do solo. A quantidade de adubo tem que ser de acordo com a qualidade do seu solo. Fizemos um convênio com a Ufersa para que essa análise do solo saísse a R$ 8, já pra incentivar que os produtores façam. Outra coisa é o monitoramento, que é você só usar um defensivo quando chegar um nível máximo da praga ou da doença, o que a gente chama de nível vermelho. São técnicas que a gente está criando, é pesquisa. Por isso que a gente está pedindo pesquisa todo dia, rogando, fazendo tudo para ter pesquisa. Porque nós já desenvolvemos pesquisa pelos governos durante muito tempo, muitas empresas pagaram caro por isso. A pesquisa tem que estar à frente de nossos problemas.

Então, a ausência da pesquisa ainda atrapalha muito. A quem cabe prover isso?
Hoje, a pesquisa que nós temos vem das empresas. O RN é o único estado do país que não tem uma unidade da Embrapa, que é o órgão de pesquisa. Nós conseguimos trazer só um profissional da Embrapa, que veio transferido de Sergipe porque era daqui e queria voltar a viver aqui. A Embrapa não teve despesa nenhuma, porque nós aqui, junto com parceiros, montamos a estrutura necessária para recebê-lo. Mas um só não é suficiente. Isso tem que ter também uma grande força política. A gente queria, pelo menos, que a Emparn, que é do Estado, fosse fortalecida, fosse feito um concurso, porque daqui a cinco anos os pesquisadores estão todos se aposentando.

Sabemos que o melão é a grande estrela da fruticultura irrigada, mas outros produtos também se destacam na pauta de exportação do estado. Quais seriam as promessas para um futuro próximo?
O mamão formosa. Aliás, essas frutas são uma saída para a entressafra, porque a maior parte das fazendas pára. Então estamos buscando alternativas. O mamão é uma, o abacaxi é outra. Banana, melancia e manga também. Mas já está começando a aparecer pedido aqui de hortaliças, como pimentão e quiabo que, apesar de não serem nossa vocação, deverão ser novos mercados para nós porque na Europa e nos Estados Unidos estão acabando as terras disponíveis para esse tipo de cultura. Aí eles buscam aqui ou vêm produzir aqui, como já está acontecendo. Temos empresas estrangeiras aqui, grupos inglês, espanhol e norte-americano. E isso é uma prepocupação nossa: fortalecer nosso produtor para evitar o que aconteceu no Chile, onde quatro empresas dominam o mercado.

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