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Frota aumenta, mas estrutura, não

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ALECRIM - O caos urbano se instalou no tradicional bairro comercial

7h30 da manhã. É apenas o início da jornada, mas os contratempos logo aparecem ao longo do caminho para o emprego, escola ou compromisso: vias apertadas, ausência de corredores exclusivos para ônibus, semáforos a cada quarteirão, lombadas e vários outros obstáculos. O fluxo de trânsito estanca, porém o tempo não pára. A carga de estresse se intensifica, começa o buzinaço, gritos e xingações, ou seja, acúmulo de CO2 e poluição sonora, rotina de cidade grande, prenúncio do caos urbano.

A Natal que é vendida hoje como uma cidade aconchegante que oferece a melhor água e o melhor ar das Américas, ou seja, excelente qualidade de vida pode não ser a mesma cidade daqui a 20 anos. Tomando o transporte e o trânsito como termômetros, já que são serviços que acompanham todas as atividades da cidade, estamos enfrentando problemas típicos de metrópoles, embora se apresentem em horários de pico. Contudo, a urbanização não irá parar e os problemas envolvendo transporte e trânsito fatalmente se agravarão. Enquanto isso, faltam políticas para estacionamentos públicos, transporte coletivo de qualidade e prioridades de investimentos nas vias levando-se em consideração os fatores ambientais.

Hoje, esse crescimento urbano está direcionado rumo às cidades periféricas, mas os compromissos dessa população continuam centrados nos pólos comerciais de Natal. Somando-se a essa expansão imobiliária a uma sensível carência de transporte de massa que garanta essa migração das cidades vizinhas, além da própria deficiência do transporte coletivo dentro da cidade, o cidadão acaba se rendendo às facilidades que hoje são oferecidas para aquisição de veículos novos, e quanto mais veículos próprios passam a circular na cidade pior fica a eficiência do transporte coletivo que passa a perder passageiro e ter que disputar espaço nas saturadas vias da Capital.

Faltou planejamento do poder público

Em princípio, a solução para desestrangular o trânsito estaria na realização de obras que melhorassem a estrutura viária da cidade garantindo maior fluidez aos veículos. Mas a saída não é tão simples assim. Faltou planejamento por parte do poder público que não se preocupou em trabalhar uma infra-estrutura capaz de suportar o crescimento da frota de veículos na Capital. Crescimento esse que veio a galope do crescimento urbano, que nos últimos anos, aproveitando a estabilidade econômica que vem proporcionando uma maior disponibilidade de bens de consumo, está compensando, em tempo recorde, as décadas de decadência econômica.

Segundo dados estatísticos do Detran-RN, de 2000 até julho deste ano, Natal ganhou 52.769 novos veículos. Durante esse período, a frota aumentou de 163.180 para 215.949, cerca de 44% do total da frota de veículos que circulam em todo o Estado. Se compararmos com os dados de dez anos atrás, o número de veículos que circulam pela Capital praticamente duplicou, pois em 1996 havia 126.961 veículos registrados no Detran.

Atualmente, a frota do Estado é de 489.895 veículos. Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), por ano, cerca de 30 mil veículos novos são adquiridos pelos cidadãos potiguares. A maior parte concentra-se na Capital e região metropolitana.

O ritmo de crescimento da frota não foi acompanhado pela estrutura viária da cidade que, em alguns trechos, já não suporta o grande fluxo que se tem hoje. O caso chega a piorar nos períodos de alta estação quando muitos turistas chegam à cidade conduzindo veículos próprios ou de locadoras. Essa saturação da frota de veículos na Capital além do caos no fluxo, também gera problemas de estacionamento, principalmente nos pólos comerciais como o Centro da Cidade e o Alecrim, até mesmo nas praias passa a ser uma missão quase impossível conseguir  estacionar o veículo.

Cidade vive hoje no limite

Engarrafamento, poluição do ar e sonora e muito estresse, essa é a rotina enfrentada pelos motoristas no dia-a-dia ao se deslocarem de qualquer parte da cidade para os centros comerciais.

Nos horários de pico, quem é obrigado a enfrentar as avenidas Ayrton Senna e Engenheiro Roberto Freire, no sentido Zona Sul/Centro, ou João Medeiros Filho, Felizardo Moura e Bernardo Vieira, no sentido Zona Norte/Centro, precisa de altas doses de paciência, sem falar do sufoco que é enfrentar, pela manhã, a BR-101, no trecho Neópolis/Lagoa Nova e a continuação pelas avenidas Salgado Filho e Hermes da Fonseca, ou no retorno, principalmente nas proximidades do viaduto de Ponta Negra.

Para se ter uma idéia, na avenida Tomaz Landim, em Igapó, a velocidade média, que um dia já foi de 26 km/h, hoje é de 15 km/h, nos horários de pico, ou seja, um fluxo quase parado. Problema vivenciado em outros trechos das principais vias de acesso da cidade.

Segundo Reginaldo Alves de Oliveira, secretário adjunto de Trânsito da Secretaria de Transporte e Trânsito Urbano (STTU), a questão do trânsito é um problema em qualquer lugar do mundo, não apenas por questão de fluxo e estacionamento, mas por causa de questões ambientais, já que os veículos são responsáveis por boa parte dos gases poluentes emitidos na atmosfera.

Para o secretário, mesmo com a melhoria da estrutura viária, o crescimento urbano chegará a um limite em que as pessoas terão que se adaptar à saturação do trânsito. “Hoje, já percebemos algumas mudanças no comportamento dos motoristas que se assemelham às situações enfrentadas nas grandes metrópoles como São Paulo. Tem gente que se desloca das cidades vizinhas e acaba deixando o carro no meio do caminho, na casa de familiares, em estacionamento de órgãos públicos e até dos shoppings e segue o percurso de ônibus ou táxi. Por isso, temos que estimular o transporte de massa como forma de desafogar o trânsito e proporcionar uma melhoria no meio ambiente, já que um carro na garagem resulta em melhoria de vida. Para tanto, estamos investindo na infra-estrutura do transporte de massa, melhorando os terminais de ônibus e opcionais, bem como construindo estações de transferência, medida que ajuda a fluir o trânsito diminuindo o número de ônibus”, explicou.

Mas a preocupação com o meio ambiente não desvia a atenção da STTU dos problemas da malha viária. Reginaldo Oliveira observou que melhorias e adequações estão sendo feitas nas principais vias de acesso da cidade, onde se concentram os maiores problemas. Os projetos da prefeitura estão em sintonia com as obras desenvolvidas pelo governo estadual e o Dnit como no caso da Ponte Forte/Redinha e o viaduto de Ponta Negra. “Vamos implantar um sistema de controle do fluxo de veículos nas avenidas Hermes da Fonseca, Romualdo Galvão e Prudente de Morais que repercutirão no viaduto de Ponta Negra que vai ganhar outra faixa (obra do Dnit) melhorando o fluxo na Engenheiro Roberto Freire. Com relação à Ponte Newton Navarro (Obra do Estado), a STTU está viabilizando a questão dos acessos tanto pela Zona Norte, através da duplicação das avenidas Paulistana e das Fronteiras, quanto pela Zona Leste, com  melhorias na avenida Duque de Caxias, que também contará com um projeto de acessibilidade e ciclovia. “Com a ponte nova, esperamos que o trânsito por Igapó desafogue em, pelo menos, 30%”, estima Reginaldo Oliveira.

No trecho mais problemático da cidade, compreendido entre a Tomaz Landim, Felizardo Moura e Bernardo Vieira, a STTU planeja implantar passarelas em Igapó e no Bairro Nordeste com a intenção de eliminar alguns semáforos. “A eliminação de sinais resulta em fluidez do trânsito”. Além dessas melhorias, também está previsto a construção de um corredor exclusivo para ônibus na Bernardo Vieira, liberando assim, outras faixas para os carros.  “Temos várias obras para adequação da malha viária em andamento, outras em fase de licitação, mas também estamos focados na execução de obras que beneficiem o transporte de massa, pois a prioridade do trânsito deve ser voltada para o pedestre e não para o veículol”.

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