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Futebol feminino dá primeiros passos no RN e encara desafios

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O anúncio dos grupos do torneio de futebol feminino nos Jogos Olímpicos de Tóquio, quando o Brasil enfrentará na primeira fase as seleções da China, Zâmbia e Holanda, não é visto no mundo esportivo apenas como uma nova oportunidade de buscar o ouro, ainda inédito para as brasileiras. A grande movimentação de torcedores, patrocinadores, imprensa e até do mercado global de transferências em torno da modalidade confirma a ascensão das mulheres no futebol nos últimos anos – o que demonstra o seu imenso potencial não apenas em termos de monetização, mas também pelo que isto representa na busca pela igualdade de gênero.

Enquanto o futebol feminino cresce, o RN ainda dá seus primeiros passos na modalidade e encara desafios
Mesmo em meio à pandemia, o futebol feminino continua registrando avanços importantes no Brasil e no mundo. Balanço divulgado pela Fifa em fevereiro aponta que as transferências internacionais de jogadoras no início do ano, embora tenham se mantido praticamente estáveis em números absolutos (177, contra 185 em janeiro de 2020), movimentaram mais de US$ 310 mil, ou cerca de R$ 1,68 milhão na cotação atual. Esse montante é 60% acima do registrado na janela de transferências do começo de 2020.

No Rio Grande do Norte, apesar da força de clubes como o Cruzeiro e o América a situação ainda não se equipara a evolução nacional e internacional do futebol feminino. Júlia Medeiros, que esteve à frente da equipe de Macaíba e que hoje comanda o futebol das mulheres no Alvirrubro aponta problemas a serem enfrentados.

Júlia é professora de educação física, formada pela UFRN e faz mestrado na instituição. Foi atleta de vôlei e futsal e a entrada do futebol foi através de amizades. Ela afirma que jogar não é a praia dela, mas a questão da gestão é o que realmente lhe interessa. “Avalio que o RN ainda está em um nível muito baixo. A gente não tem investimento, nem por parte de clubes, nem federação ou de, enfim, pessoas que estejam interessados na área. É sempre uma luta muito difícil principalmente para a gente que está com um time referência. Apesar disso a gente evoluiu um pouco no quesito reconhecimento, principalmente depois do trabalho que a gente fez no Cruzeiro”, analisa.

Juliana fala que em nível Nordeste o Estado está bem posicionado, destacando-se o trabalho que é feito no Bahia e nas equipes cujo o masculino está na Série A. No entanto, a diferença em relação aos grandes centros do futebol ainda é muito grande segundo a coordenadora do América.

No Alvirrubro existe uma comissão montada, uma equipe pronta. “É um trabalho muito difícil, mas que está sendo muito prazeroso. Também temos boas expectativas pois temos um bom time, muito unido, apesar de não haver um investimento direto do clube, que entrou com a estrutura e algumas situações pontuais, mas a gente está fazendo um trabalho que está dando frutos”, diz.

A dificuldade maior, como sempre é a financeira. Manter 15 atletas em um alojamento, pagar passagens para jogadoras que vêm de fora do Estado e outros custos são complicadores. Uma segunda dificuldade, segundo Júlia, é a questão psicológica. “Não em relação a treinamento, mas com relação a questão da pandemia. Estamos com alguns problemas com algumas atletas, como crises de ansiedade e outras coisas mais que estamos tentando resolver”, revela.

O objetivo em curto prazo é fazer um bom Campeonato Brasileiro da Série A 2, classificar e ir o mais longe possível no torneio. “Se conseguirmos subir vai ser uma vitória enorme. A médio prazo a gente pensa em se tornar um time referência do futebol feminino aqui no Estado para que a gente possa chamar atenção para investidores, para o clube e para torcida, como estamos fazendo com ações. Para longo prazo a ideia é tornar um projeto formador de atletas com uma estrutura completa. Assim que possamos servir de exemplo para o crescimento do futebol feminino no RN”, explica.

A pandemia tem sido um complicador na busca dos patrocínios, mas Júlia Medeiros revela que algumas empresas têm colaborado com produtos e serviços, o que acaba reduzindo o custo geral da equipe. “Mas ainda há uma carência grande de empresas que acreditem nessa área aqui no Estado”, diz.

A Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019, realizada na França e que sagrou o tetracampeonato dos EUA, já havia comprovado essa tendência ao registrar uma audiência recorde de 993 milhões de telespectadores na TV e outras 482 milhões de pessoas que acompanharam o torneio pelas plataformas digitais, de acordo com dados da consultoria Deloitte. A audiência média global, de 17,3 milhões de telespectadores por partida, representou mais do que o dobro da que havia sido registrada na Copa do Mundo feminina de 2015, realizada no Canadá, quando houve 8,4 milhões de telespectadores por jogo.

Somente entre os norte-americanos, mercado reconhecido no mundo todo pela excelência na promoção de espetáculos esportivos, a final do mundial feminino de 2019, com a vitória dos EUA sobre a Holanda por 2 a 0, em Lyon, teve uma audiência 22% superior à final do torneio masculino de 2018, que coroou o bicampeonato da França com vitória por 4 a 2 sobre a Croácia, em Moscou. A próxima edição da Copa do Mundo feminina será realizada em 2023 na Austrália e na Nova Zelândia – e a expectativa é de que a audiência global da modalidade cresça ainda mais.

Segundo a Deloitte, o crescimento dos esportes femininos em todo o mundo pode entregar aos patrocinadores uma melhor relação custo-benefício do que os seus equivalentes masculinos. A maior facilidade de fechar negócios e a esperada curva de crescimento mais íngreme nos próximos anos são outros pontos que também contam a favor das modalidades praticadas pelas mulheres, aponta a consultoria.

Perspectiva nacional
No Brasil, a maior adesão dos clubes ao futebol feminino e o crescimento de competições como Campeonato Paulista, Campeonato Carioca e Brasileirão das séries A1 e A2 hoje conquistam mais atenção do público. O crescente potencial de geração de receita das equipes femininas e a atração de marcas renomadas ajudam a explicar esse movimento.

Foi justamente com o apoio de novos acordos de patrocínio que alguns clubes não só retomaram a prática da modalidade feminina como ainda conquistaram resultados dentro de campo. O Botafogo, por exemplo, firmou em dezembro de 2020 um contrato com Centrum, marca da GSK Consumer Healthcare, resultando no primeiro acordo da história do clube para patrocinar simultaneamente as equipes masculina e feminina de futebol. O contrato, válido até o fim de 2021, foi fechado depois que o glorioso retomou o futebol feminino em 2019, após alguns anos de inatividade.

Já com o apoio do novo patrocinador, o elenco feminino do Botafogo conquistou em janeiro o acesso à elite nacional, após o vice-campeonato do Campeonato Brasileiro Feminino Série A2 de 2020 (encerrado em 2021, por conta da pandemia), e levantou em março a taça do Campeonato Carioca Feminino da temporada 2020/2021, após bater o Fluminense por 2 a 0 na final disputada no Estádio Nilton Santos.

O acordo entre Botafogo e Centrum não se limita à exposição da marca nos uniformes e também deu origem ao projeto Botafogo Seguro – cujo propósito é proporcionar maior segurança para os atletas e todos os profissionais envolvidos na realização do futebol durante a pandemia, além de alertar a população sobre a importância dos métodos de prevenção ao coronavírus. Além disso, o Nilton Santos se tornou o primeiro estádio do pais a adotar protocolos específicos de segurança.

A iniciativa também contempla o incentivo e a valorização do futebol feminino, que sofreu grande impacto pela COVID-19. O objetivo é assumir o compromisso de valorizar e investir na retomada dessa categoria como uma das ações de combate aos efeitos da pandemia, incentivando a presença da mulher no esporte.

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