terça-feira, 16 de abril, 2024
29.1 C
Natal
terça-feira, 16 de abril, 2024

Gente rica

- Publicidade -

Vicente Serejo
[[email protected]]

São Paulo – Daqui, Senhor Redator, da janela do hotel, nesta Avenida Paulista, e por uma visão meio em diagonal, fico olhando a riqueza de São Paulo, indo e vindo. Aliás, o título desta crônica não é coisa minha. É de um livro lançado há mais de cem anos, em 1912, e, esse tempo, mais de um século, viveu longe dos olhos do mundo leitor: ‘Gente rica – cenas da vida paulistana’. Fruto da sensibilidade de uma nova pequena editora com a marca simples, mas sugestiva: ‘Chão’.  
José Agudo é pseudônimo de um português que viveu em São Paulo, professor da Escola de Comércio Álvares Penteado. Na certidão de batismo, era José da Costa Sampaio. Nasceu em 1868 e fechou os olhos para sempre em 1923. Deixou um legado literário de sete romances, ele que foi um cronista da belle époque paulistana, quando a fortuna do café engordava o bolso e a pança dos seus barões, numa das maiores economias agrícolas do mundo, antes da decadência.  
Pois bem. Trouxe o livrinho comigo para enfrentar as longas esperas que se estiram nos salões frios dos aeroportos. Aqui, vindos de longe, chegando ou partindo, somos todos anônimos e anonimamente atarefados nas filas e poltronas, sempre seguindo os minutos dos seus relógios implacáveis. E fui indo, grifando frases, anotando pequenas descobertas de um tempo antigo que se arrasta por anos e anos, puxados pela agudeza do olhar que justifica o pseudônimo do autor. 
A decadência não se deu só na civilização do café. Foi também assim com a borracha, no Norte, entre o Amazonas e o Pará; com o ouro de Minas e o algodão do Nordeste, o ouro branco daquele mundo tão nosso. Mas, aqui, a civilização foi rica, até que a força da indústria erguesse a nova e grande riqueza de São Paulo. Os aristocratas casavam entre si, mantendo a riqueza nas mãos, até que os comerciantes buscassem nas famílias decadentes a aristocracia que não tinham. 
São Paulo não dorme, entoam há anos os seus cantores. Vejo daqui a sua vida de dia e de noite, no ir e vir das pessoas e dos automóveis. As grandes lojas, os bares, os restaurantes, todos são abastecidos na madrugada. Caminhões e caminhões resfolegam na Paulista, como se também fossem operários da riqueza. Amanhece e vejo que São Paulo não dormiu. São muitas as cidades que se revezam, enquanto pequenas multidões atravessam, apressadas, empurradas pelos sinais.  
A gente rica, pela narrativa de João Agudo, não mudou. É a mesma cem anos depois. Nesse sentido, a crônica vence o tempo de um século. Os olhos do cronista registraram a vida como ela foi e como se soubesse que seria a mesma, para sempre. São Paulo é a humana cidade de nervos de concreto e aço. Grande, bela, indomável. Como são todas metrópoles do mundo. E nelas, acredite, cabem a grandeza e a miséria. Como nesta São Paulo, entre virtudes e vícios… 
–PALCO–
PAUTA – O deputado federal Rafael Motta, candidato ao Senado, já deu o tom do seu discurso na disputa: mostrar que a reforma trabalhista do candidato Rogério Marinho gerou desemprego. 
ALIÁS – Este também será o discurso do candidato Carlos Eduardo Alves que já acusa Marinho de ser o carrasco do desemprego. Assessores de Marinho garantem que ele não teme esse debate.
PAULADA – Duríssimo o editorial do jornal O Estado de S. Paulo contestando Lula. Por falta de teto, afirma o jornal, e uma âncora fiscal, é que os petistas destruíram a credibilidade do país.
ADEUS – Está nos jornais: convencidos de que a guerra vai separá-los e matá-los, os namorados casam na Ucrânia como se o casamento merecesse o pobre destino terrível de ser um triste adeus.
  
MARCA – Dia 2, terça, às 17h, nos jardins da Escola Doméstica, o conselheiro Manual de Brito lança o seu livro de memórias: ‘Tempos Marcantes’. Com prefácio de Cassiano Arruda Câmara.  

MAGIA – A Cia. das Letras lança um quarto título inspirado em Machado de Assis, agora do escritor Sérgio Rodrigues: ‘A Vida Futura’. O encontro espiritual de Machado e José de Alencar 
POESIA – De Mário de Andrade ao lançar a Pauliceia Desvairada, no Teatro Municipal, no grito de 1922: “São Paulo! Comoção de minha vida… / galicismo a berrar nos desertos da América!”.  

JEITO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, na tarde que morria devagar, como nos sonetos parnasianos: “Quem não faz pelos amigos não faz, por desprezo, nada por ninguém”. 

–CAMARIM–

MACHADO – Entre 2017 e 2022 a bibliografia de Machado de Assis ganhou três títulos, todos frutos de leituras até então inéditas: ‘Mulheres de Machado’, edição Sesi-SP; ‘Código de Machado de Assis’, edição Migalhas; e ‘A cidade e seus pecados’, edição Darkside. Nas livrarias. 

MULHERES – O primeiro, em 2017, é um elenco de 17 ensaios sobre as personagens femininas dos romances e contos do grande ficcionista. O segundo, em 2021, as visões jurídicas, seleção literária de Miguel Mattos, com acesso à integra de todos os textos citados através de QR Code. 
PECADOS – Neste 2022, com organização de Dorigatti & Menezes, e ilustrações de época de João Pinheiro, ‘A Cidade e seus Pecados’. É o Machado de Assis que escreve sobre os sete pecados capitais no Rio de Janeiro do seu tempo, sobre a humana alma pecadora, em fragmentos.  
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas