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Geografia da fome

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Carlos Eduardo
Ex-prefeito de Natal
Notem bem, em 1946 o geógrafo brasileiro Josué de Castro lançou uma obra com o título acima, identificando naquela época áreas de fome endêmica e epidêmica em nosso país. O livro já foi traduzido para mais de 25 países em todo o mundo, tamanha a importância do tema.
O coronavírus não acentuou entre nós apenas morte e desemprego. Elevou sobremaneira os índices famélicos da população não somente em bolsões de pobreza, mas em todas as áreas periféricas dos centros urbanos. São centenas e milhares de famílias disputando os restos inservíveis de feiras, de entrepostos alimentícios e até mesmo do lixo. São homens, mulheres e crianças que se comportam como animais para os termos civilizatórios. São irmãos nossos que já perderam o senso da dignidade que a sociedade exige mas já não pode assegurar. São caricaturas quixotescas de triste figura.  
O IBGE nos adverte que já são mais de 10 milhões de brasileiros que não têm o que colocar na mesa, o que levar ao fogão, o que retirar da geladeira, num ritual macabro comandado por um dos cavaleiros do apocalipse, a fome.  A escritora e favelada Carolina Maria de Jesus, autora do livro Quarto de Despejo, alertava que a tontura da fome é pior que os efeitos de embriaguez por álcool e que é horrível ter apenas e nada mais do que ar no estômago. E olha que na época em que escreveu  não vivíamos ainda a realidade de um país que não contabilizava pobreza e fome como um problema  que merecesse máxima atenção.
Este preâmbulo é para lembrar que o prometido auxílio federal  é apenas uma esmola  de nula significação (não chega a um quarto da cesta básica ou menos ainda). Para quem lança um olhar  além da janela, sabe que a carência alimentar nas crianças  resulta em sérias e até mesmo irreversíveis dificuldades  de assimilação, de aprendizado e de concentração.  Imaginem a nação que estamos formando  para o nosso futuro. Esse exército de crianças e adolescentes que estamos deformando constitui nosso batalhão avançado de vítimas ocultas  das nossas populações mais vulneráveis. Qual será o diagnóstico  do amanhã sobre a saúde física e mental  desses desamparados?
Urge, portanto, uma ação enérgica e eficaz de nossos governantes. E digo já. Este não é um problema afeito apenas à esfera federal com sua ridícula oferta de auxílio financeiro. Uns pingados e minguados reais por apenas quatro meses. Este é sim um problema de governos estaduais e  municipais que não podem ficar omissos diante da calamidade social. É também um problema inerente à sociedade organizada, às entidades privadas, aos homens de boa vontade,  aos seres pensantes do nosso povo, a você e a mim. A todos nós que ainda temos a felicidade de levar um pão à boca.
Esta é uma ação de consciência, de coração, de amor e que não pode esperar. Esta é uma ação para hoje, para agora. Para quem não tem mais o amanhã.
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