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Geraldo de Sá Bezerra

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Aurino Araujo

Uma das figuras que pontificaram por mais tempo nesta Velha Ribeira foi o “coronel” Geraldo de Sá Bezerra, hoteleiro, numismata, colecionador de relógios de parede e de bolso e de moedas de ouro e prata. Sobre estas últimas, mantinha contatos internacionais com colecionadores, haja vista que havia muito interesse nas cunhagens da série de moedas brasileiras do tempo do império, além do intenso comércio da Krugerrand, moeda de ouro da África do Sul.

A “patente” de coronel, provavelmente lhe foi atribuída pelo amigo Geraldo França Vieira, que tinha loja de automóveis usados quase em frente ao seu Hotel Avenida, na Duque de Caxias. Geraldo era homem simples, porem de gosto refinado e, como todo indivíduo de posses, andava num carrão americano. Mas, em 1966, engraçou-se de um “Fusquinha” zero quilômetro que estava em exposição na loja da Marpas, concessionária autorizada da Volkswagen em Natal naquela época.O modelo acima mencionado passou a ser seu carro do dia-a-dia ao longo dos quarenta anos seguintes. Mesmo quando cedeu aos encantos de um vistoso Simca Chambord, que findou comprando ao amigo Geraldo França, nunca deixou de lado o “Fusquinha”.

No decorrer dessas quatro décadas, criou-se imenso folclore em torno daquele carrinho. Como, no ano seguinte os “Fuscas” começaram a sair com sistema elétrico de 12 volts, a grande maioria de proprietários dos de 6 volts trocou a

voltagem de seus carros. Porém ele, fez questão de manter a do seu e mandou reciclar a bateria várias vezes, trocando até mesmo as placas, para mantê-la “original”. Guardava, com devotado zelo, a Nota Fiscal referente à compra do mesmo e a quem a mostrava, ressaltava o fato de que ela havia  sido emitida à mão por Gílson Lima, atual presidente da empresa. Rejeitou a oferta de um colecionador do Rio de Janeiro, “fuscomaníaco”, desses que colecionam até mesmo recortes de revistas e jornais com fotos e matérias sobre o “Fusca”, que tendo alugado um carro na Locadora Dudu – frequentada pelo “coronel”, amicíssimo do dono – durante férias aqui passadas, soube que ele possuía a raridade e, na impossibilidade de comprar-lhe o carro, mandou oferecer um bom dinheiro apenas por aquela Nota…Por conta das moedas e relógios, costumava frequentar feiras de antiquários onde, além das valiosas raridades que possuía, tais como relógios de bolso da famosa marca Patek Philippe e de parede tipo “Maria Antonieta”, franceses e alemães, com símbolos nazistas, também costumava comprar antiguidades mais baratas. Ocorre, porém, que às vezes nessas feiras escapa ao afinado faro do vendedor, algum detalhe importante. Daí que, certa vez, numa feira ocorrida no Praia Shopping, deixou de comprar por cem reais um relógio de algibeira inglês, que pouco depois foi adquirido por um amigo.

Tratava-se de uma peça pertencente a um lote fabricado em 1936 sob encomenda para o almirantado inglês. Por uma dessas coincidências da vida, casualmente o comprador viu na TV uma feira de antiguidades na Inglaterra, na qual um relógio idêntico estava sendo oferecido por várias libras esterlinas. Em tempos mais recentes, ele perseguiu, quebrou a resistência do proprietário e conseguiu comprar um outro “Fusca”, modelo 1980, que passou a usar, concomitantemente com o 1966. O antigo dono – seu amigo de longa data – só o cedeu mediante a promessa de que, se algum dia pensasse vende-lo, a preferência seria dele.

Promessa feita, promessa cumprida. Porque, acho que tomando consciência de que aquela última viagem se aproximava, o “coronel” começou a organizar sua vida, deixou tudo arrumadinho para os que ficaram. O primeiro “Fusquinha”, o 1966, ele já tinha vendido a um terceiro. Mas, com respeito ao 1980, fez questão de honrar o compromisso com o amigo, como homem de palavra que sempre foi. 

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