quinta-feira, 25 de abril, 2024
26.1 C
Natal
quinta-feira, 25 de abril, 2024

Geriatras da burocracia

- Publicidade -

Valério Mesquita – Escritor

Foi aprovada a emenda constitucional que vai estender aos 75 anos o limite da idade compulsória para os integrantes dos tribunais, a partir de 2012. Contemplo, desde já, a visão catastrófica da geriatria burocrática. Como irão se haver os magistrados beirando a provectude no julgamento de processos que exigem estudo, pesquisa, esforço mental e físico, com os neurônios, as sinapses neurológicas comprometidas? A sonolência, a fadiga, a inapetência provocadas pela rotina, já acalentam hoje os fronteiriços da idade septuagenária, penalizada pelo desabamento do teto remunerativo da reforma da Previdência.

Muitas profissões no país exigem aposentadoria aos 40 e 50 anos porque a performance física ou mental do empregado vai desacelerando ao se aproximar da chamada terceira idade. É científico e nem precisa consultar a gerontologia. Por que essa tenebrosa perseguição, até na velhice, aos juízes, aos procuradores, ministros do Poder Judiciário? É hora de dizer: magistrados de todos as latitudes, uni-vos!! Querem transformar os tribunais em abrigos de velhos. Já imaginou o leitor, a lentidão processual, a fadiga do julgador setentão abusado pelo assalto ao seu direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e a coisa julgada que estirparam da Constituição? Já refletiu sobre mesmice, a rotina, os relatórios quilométricos e a geriátrica vontade de peidar para aliviar o intestino cansado de moer, o incômodo da próstata que sempre vasa urina prá calça após o uso do sanitário?

A compulsória aos 75 anos é um desrespeito até aos jovens porque frustra, retarda e/ou elimina várias gerações a galgar posições que poderiam atingir como coroamento de suas carreiras. Esse despautério tem o condão ainda de levar as profissões liberais a bengala, a disritmia, a cateterismo, a catarata, a otite, a hemorróida, a artrose, o reumatismo, como se tudo isso fosse contribuir para curar os males do rombo da previdência social brasileira. Em vez de se comentar a pauta processual irão discutir bula medicamentosa, as enfermidades dos outros ou em túmulos, epitáfios e vermes. Não tendo para quem apelar me lembrei do Estatuto do Idoso, lei pétrea, “maior” que a Constituição brasileira que virou no Congresso Nacional uma verdadeira colcha de retalhos. Depois dos setenta só nos resta conseguir do Estatuto do Idoso um artigo que não tire o direito de dançar no forró da peia mole da Zona Norte. E, de quebra, aqui e ali, remediar o infortúnio com provérbios e estonteá-lo com palavras eruditas.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas