Bangcoc – Sem disparar um tiro, o Exército tailandês deu ontem um golpe de Estado contra o governo do primeiro-ministro Thaksin Shinawatra. Tropas entraram à noite na sede do governo e em outros prédios oficiais, além de ocuparem emissoras de TV. A ação foi apoiada por tanques. Em seguida, os golpistas suspenderam a Constituição, o Parlamento, o governo e o tribunal constitucional. Foi decretada lei marcial no país. A TV nacional divulgou o comunicado decretando o golpe, firmado pelo comandante-chefe do Exército, general Sondhi Boonyaratkalin, apontado como primeiro-ministro interino.
Apesar disso, um porta-voz de Shinawatra insistiu que ele ainda estava no cargo. Segundo o comunicado dos golpistas, todos os militares deveriam se incorporar às unidades de Boonyaratkalin e não deixar os postos sem permissão dos comandantes. Havia rumores sobre um possível contragolpe de partidários de Shinawatra, mas não houve resistência. Os golpistas, autodenominados o Conselho da Reforma Administrativa, declararam-se leais ao rei, Bhumibol Adulyadej.
Segundo um militar de alta patente, chefes das forças armadas se reuniram com o rei minutos após o golpe, para discutir a formação do governo interino. O primeiro-ministro Shinawatra estava em Nova York, para a Assembléia Geral das Nações Unidas. Ele cancelou o discurso que faria. Além disso, decretou estado de emergência no país. Um multimilionário empresário das telecomunicações, Shinawatra tomou o poder em 2001 e foi reeleito em 2005. Ele enfrentou protestos no início do ano por acusações de corrupção, após vender uma grande empresa de telecomunicações sem pagar impostos. Em abril, o partido criado por ele em 1998, o Thai Rak Thai – que tem uma plataforma populista -, venceu as eleições parlamentares, boicotadas pela oposição. Também em abril, Shinawatra foi reconfirmado no cargo, em uma eleição posteriormente anulada.
Após o impasse, cresceu a pressão para que ele renunciasse. Shinawatra tem grande apoio nas áreas rurais mais pobres da Tailândia. Na elite, porém, tem sido criticado, acusado de colocar aliados em várias agências do governo. Um pouco conhecido policial até 1987, Shinawatra utilizou de sua influência para estabelecer uma companhia de softwares. Em 1990, em meio a rumores de que estaria falido, ele obteve uma surpreendente concessão de 20 anos para explorar a rede de celulares do país. O general aposentado Prapart Sakuntanak, porta-voz dos golpistas, garantiu que o golpe seria temporário e o poder “devolvido ao povo” em breve. Em declaração a todos os canais de TV do país, ele anunciou que as forças golpistas estabeleceriam um grupo para decidir sobre reformas políticas. “A maioria da população suspeita da administração (de Shinawatra), que está levando o país a uma corrupção crescente”, disse Sakuntanak. Os líderes do golpe decretaram feriado. Haverá uma reunião com altos funcionários do governo para anunciar a nova política. Os mercados financeiros internacionais foram afetados pela instabilidade no país.