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Gosto, desgosto

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Vicente Serejo
Sentir um gosto bom, é muito bom. Posto assim, Senhor Redator, parece um pleonasmo, mas é só realce. O gosto agradável facilmente inunda o céu da boca, por isso é um céu, mas logo depois se dissipa, lentamente, até desaparecer. Já com o desgosto não é a mesma coisa. Não é só como se fosse uma sensação passageira. O desgosto fica. Cria raízes. Envelhece. Até a gente notar então que faz parte da própria história da vida e, finalmente, que é impossível desfazer-se dele.
Os tocados pela grandeza humana, e são poucos, não deixam que o desgosto se transforme em rancor, lança em riste espetando a alma. Para dizer melhor: alguns adormecem a fera até que o tempo amanse a memória. Mas, às vezes, não. Às vezes, é difícil amansá-la, mesmo que pareça dócil no seu jeito dorminhoco e pachorrento de gastar o tempo. Principalmente quando feriu e o ferido de verdade não merecia. O desgosto, às vezes, fica para sempre – um gosto amargo na boca. 
Quem fere, fere e esquece. Ou, tanto pior, faz do gesto de ferir um prazer que, se não chega a ser mórbido, escava bem nas terras nobres do coração. O amor é frágil, Senhor Redator, mas não se engane com a sua fraqueza na forma do desejo ou do querer bem. Uma palavra ou um silêncio e a chaga se abre como uma ferida. O desgosto, se é possível comparar, é como uma mágoa suave, uma tatuagem que não vai além do seu desenho indolor sobre a pele, mas é o aviso que não fala. 
A raiva é sempre ruidosa, não tem a dignidade silenciosa do desgosto. Não se deixa levar pelos dedos finos e suaves dos amavios. Não é rancor. Sabe que a vida sofreu um assalto à mão armada, na espreita de uma esquina. Os magoados sabem que a vida tem muitas esquinas e que é inevitável topar, cara a cara, com o desgosto. Ora, como a raiva passa e o desgosto não, o jeito é deixá-lo quieto num canto da alma, adormecê-lo, como se ele fosse apenas uma mágoa menor. 
É ruim transformar a vida numa contabilidade rancorosa, com um livro-caixa, relação de débitos e rol de haveres. É verdade, o perdão é egoísta e por isso só faz bem a quem perdoa. Mas, se por acaso não for possível perdoar porque doeu demais e a carne da alma guarda a memória da dor, então é deixar que não vire um desassossego. Mesmo que fique ali, pregado no rosto de quem feriu. Ferir não pode ser um vício. Ninguém tem direito de ferir de novo a quem já feriu uma vez. 
Cada vivente arrasta nos próprios olhos, quando não escondidos no mais íntimo da alma, gostos e desgostos. Os rancorosos, não. Ostentam como um colar de pérolas, enquanto aqueles vivem como se tivessem guardado tudo numa cômoda de família. Cada um sabe viver o gosto, o desgosto, a mágoa e o rancor e transformá-los em coisas passageiras que em vão tentaram ferir a pele da tolerância. Ou não. Os desgostos, às vezes, adormecem, mas seu gosto sempre será amargo.  
VÍCIO – Para os petistas, as pesquisas erram: a governadora Fátima Bezerra não sofre desgaste na reprovação do nome e na desaprovação do governo. O poder quando não cega, faz nascer antolhos.  
FESTIVO – Os festivos tucanos potiguares chamaram a atenção de Brasília nas prévias do PSDB. Só pode: todos estavam de camisetas iguais, agitavam bandeiras e gritavam o nome de João Dória.  
RETRATO – Pelas pesquisas, a direita parece firme ao lado de dois nomes: o deputado e general Eliéser Girão; e o deputado André Azevedo, coronel da PM. A direita aqui tem chefes e não líderes.    
FIM – O gesto da governadora Fátima Bezerra ao garantir a autonomia institucional e orçamentária à Universidade Estadual, UERN, põe um fim ao risco de fechar que ressurge a cada peleja eleitoral.
FEDERAL – O melhor destino teria sido, à época, a fusão com ESAM na criação da Universidade Federal do Semiárido pela mesma origem: são duas instituições nascidas da luta dos mossoroenses.
HISTÓRIA – Estadualizada pelo então governador Geraldo Melo, a UERN encontra, na decisão da governadora Fátima Bezerra, a sua perenidade. A educação não é despesa. É um investimento.    

MODA – A casa de Cascudo foi o cenário de lançamento da ‘Coleção Incelença’ que representa o RN nos desfiles do São Paulo Fashion Week. Tema é o resgate de rendeiras e costureiras do Seridó. 
BANHO – As  185 crônicas de Antônio Maria – 135 inéditas em livro – da antologia ‘Vento Vadio’, consagram um dos maiores cronistas líricos do Brasil nos seus cem anos de nascimento, em 1921.  
AVISO – É sempre muito bom um governo incorporar ao seu acervo uma experiência profissional consolidada. É o caso da nomeação do jornalista Daniel Lima para secretário de comunicação. É sempre muito ruim um governo jogar na comunicação erros e omissões que comete. Eis a questão.  
CANTO – Quem consultar as primeiras páginas dos jornais do Rio Grande do Norte, nas últimas décadas, verá o falso milagre das estatísticas. Saímos bem em todos os números, mas o desfecho é o fracasso. Perdemos para o Piauí e hoje estamos disputando o lugar de lanterninha com o Acre.    
HUMOR – De um doutor aposentado, mas escolado, do tipo que conhece o jogo dos sabidos como se fossem sábios: “Edgar Morin, em cem anos de vida, resistiu aos críticos na França e no mundo. Mas, aqui, acabou virando o Alan Kardec de uma nova seita religiosa e exótica, a ‘Complexidade’.     
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