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‘Governo deve ser trabalhado como uma empresa’, diz Marcelo Alecrim

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Mesmo após um ano de instabilidade no mercado do petróleo, a política de preços da Petrobras não deve passar por mudanças em 2022. A opinião é do empresário potiguar Marcelo Alecrim, acionista e presidente do Conselho de Administração da ALE Combustíveis, que aponta que a Petrobras, empresa de capital aberto, poderá ter prejuízos caso o governo federal aponte mudanças drásticas na composição tarifária dos combustíveis. “Quem investe na Petrobras espera que ela tenha os preços internacionais e, quando isso não ocorre, a satisfação dos investidores cai, derrubando o preço da companhia e a tornando menos atrativa”, justifica.

Marcelo Alecrim, fundador, acionista e presidente do Conselho de Administração da ALE Combustíveis

Apesar das incertezas em relação à pandemia da Covid-19, de perspectivas negativas  da economia e da imprevisibilidade com período eleitoral brasileiro, Marcelo Alecrim avalia com otimismo a chegada de 2022.  “Acredito que o Brasil vai crescer em 2022”, disse ele, em entrevista à Tribuna do Norte.
Segundo Alecrim, em 2022, o Brasil deve focar nas ações de reestruturação do governo federal, como é o caso da reforma administrativa. Ele é um defensor de um enxugamento da “máquina pública”.

“O Brasil está muito adiantado em encontrar soluções para os problemas, o que só não está sendo colocado em prática por estratégia política, já que seria necessário o desconforto de fazer cortes em pessoas que estão há décadas no conforto do sistema arcaico”, justifica.
O empresário potiguar, que acumula mais de 30 anos no mercado de combustíveis, também  falou sobre as expectativas do setor industrial para 2022 e das alterações no mercado de trabalho causadas pela pandemia. “O que melhor for para o desempenho dos profissionais, de acordo com o mercado, é o que vai ditar o futuro. A depender do setor, o trabalho pode ser uma forma híbrida”. Leia os principais trechos da entrevista.

O coronavírus impacta a economia em todo o mundo. Quais são as expectativas para 2022?
Toda a economia mundial foi impactada pela pandemia, mas conseguimos nos adaptar ao novo cenário e buscamos superar os desafios. Infelizmente, podemos esperar o surgimento de novas variantes, como a ômicron, o que exigirá novas medidas. Porém o mercado já está bem adaptado com a tecnologia e preparado para responder mais rapidamente às mudanças, incluindo o trabalho a distância. Em relação às projeções do desempenho da economia, temos acompanhado as análises que apontam uma redução do ritmo de crescimento. Como sou otimista, espero que, mais uma vez, os economistas estejam errados em suas previsões. Acredito que o Brasil vai crescer em 2022, apesar das incertezas causadas pelo período eleitoral e pela crise sanitária.

 Toda crise traz um aprendizado. Quais são os aprendizados deste período pandêmico?
Um dos maiores aprendizados é que precisamos sempre estar preparados para as adversidades. Nunca foi tão importante uma empresa ter várias opções. Aprendemos que o imprevisível acontece -crises, guerra e até pandemias- e, por isso, necessitamos que nossas empresas sejam dinâmicas para ter uma vida mais longa. Ou seja, é necessário estarmos abertos a mudanças.

 A pandemia causou mudanças profundas no mercado de trabalho, como a ampliação do sistema de home-office, por exemplo. Estas mudanças serão permanentes?
O mercado é soberano. O que melhor for para o desempenho dos profissionais, de acordo com o mercado, é o que vai ditar o futuro. A depender do setor, o trabalho pode ser uma forma híbrida. Definitivamente, o modelo de trabalho não será mais como antes.

Como o senhor avalia a retomada, após mais de um ano e meio de comércio fechado, fábricas em férias coletivas e hotéis suspendendo atividades?
 É uma situação muito difícil. Não sabemos quando vai melhorar a situação no Brasil e no mundo. A preocupação toda é que tem de haver o produto conforme a oferta versus a demanda. Acho que temos que esperar e estarmos preparados para todas e quaisquer situações. O agronegócio tem nos ajudado muito nessa situação, pois o mundo nunca vai deixar de comer e, nesse quesito, estamos navegando muito bem, com as commodities em si. O Brasil é muito rico, porém nossa grande preocupação é a indústria, pois somos muito dependentes de outros países e, se a situação não melhorar, a escassez de insumos para o Brasil pode interromper o nosso desenvolvimento.

Quais lições os governos podem tirar desse momento adverso?
Temos que trabalhar para enxugar cada vez mais a máquina pública. Está comprovado que isso é possível pelas novas tecnologias e maneiras de trabalhar, como home office. Existem governos mais eficientes e podemos fazer uma análise desses exemplos. O Brasil está muito adiantado em encontrar soluções para os problemas, o que só não está sendo colocado em prática por estratégia política, já que seria necessário o desconforto de fazer cortes em pessoas que estão há décadas no conforto do sistema arcaico. O governo deve ser trabalhado como uma empresa, que tenha ações de responsabilidade socioambientais.
 
Como o setor produtivo está encarando o ano eleitoral de 2022. As eleições podem impactar a economia?
A economia hoje precisa das reformas, que já estão atrasadas, que não foram feitas por políticas econômicas para que cada candidato fique mais forte, na contramão da economia, caso não houvesse eleição. Sou favorável à ajuda para a classe mais afetada, mas ainda existem muitos privilégios que poderiam ser cortados e serão adiados por motivos políticos relacionados à eleição.

 A tendência é de que o governo federal dê maior atenção aos programas de distribuição de renda e, com isso, deixe de lado a austeridade financeira e o teto de gastos. Isso preocupa?
Para os mais necessitados, é uma obrigação social do governo atendê-los. Não podemos esquecer dessas pessoas. Temos que fazer uma reavaliação sem estourar o teto de gastos, sem desconsiderar os mais necessitados. Como é de conhecimento geral, não podemos ter pessoas pobres em um país tão rico. Isso será resultado das reformas a serem feitas, que facilitarão o emprego e um país mais justo. Um bom planejamento atenderia. Sabemos como resolver, só basta colocarmos em prática.

E no mercado de petróleo, há tendência de queda de preço?
As incertezas que estamos enfrentando hoje, como a pandemia e conflitos internacionais, sempre mexem na demanda do petróleo. A certeza que temos é a dependência do câmbio, que pode variar de acordo com os acontecimentos mundiais e nacionais. Estamos falando de commodities: como todas elas, o que define o preço é a demanda versus oferta.

A Petrobras tem nova política de precificação de combustíveis com base em cotações de petróleo no mercado internacional. Como o senhor avalia essa política e os reflexos dela na venda ao consumidor final?
A Petrobras é uma empresa brasileira, porém seu capital é de investidores, os quais têm a opção de investir na Petrobras ou em outra empresa do mesmo setor internacional, o que a obriga a praticar o preço internacional como as demais. Essa política de preço atinge todos os níveis da cadeia de suprimento de combustível, inclusive o consumidor final, a depender das variantes do mercado.

No Brasil, o governo chegou a garantir que não vai interferir na política de preços. De que maneira uma interferência pode impactar na Petrobras e no mercado?
Quem investe na Petrobras espera que ela tenha os preços internacionais e, quando isso não ocorre, a satisfação dos investidores cai, derrubando o preço da companhia e a tornando menos atrativa. O governo pode fazer políticas sociais, porém com o dinheiro da União, como o vale gás e outras ações. Porém, isso deve ser feito usando o capital arrecadado pelo governo, e não dos acionistas de uma empresa. Se o governo fosse interferir para fazer uma política de preço mais barato, ele deveria ser dono de todas as ações para usar seus dividendos, mas, como a Petrobras é uma empresa de capital aberto, isso se torna praticamente impossível.

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