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Governo flexibiliza passaporte e especialistas divergem sobre medida

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Nesta quinta-feira (26), o Governo do Rio Grande do Norte flexibilizou a obrigatoriedade da cobrança do passaporte vacinal. A decisão, publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) e assinada pela governadora Fátima Bezerra (PT), libera a comprovação do esquema vacinal contra a Covid-19 para entrada em locais públicos e privados. No momento, a dispensa vale para ambientes destinados ao público em geral, estádios e ginásios esportivos, além de cinemas, teatros, salas de concertos e museus, independentemente do número de pessoas.
Flexibilização não vale para todos os eventos e locais. Eventos de massa ainda terão que cobrar o passaporte vacinal
A flexibilização não vale para todos os eventos. O Executivo manteve a exigência do esquema vacinal para acesso aos eventos de massa, sociais, recreativos, conferências, convenções, simpósios e afins, realizados em locais fechados, com participação simultânea superior a 2.000 pessoas.
A decisão do Estado, entretanto, não é unânime entre os médicos infectologistas. Marise Reis é professora da UFRN e membro do Comitê de Enfrentamento da Pandemia pela Covid-19 da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap). A médica reagiu com surpresa ao ser avisada da medida pela reportagem nesta quinta. A docente ainda classificou a decisão como “uma tragédia”.
“Eu entendo que flexibilizar o passaporte vacinal no atual momento pode não ser a melhor estratégia, a mais segura, porque nós estamos com um novo aumento de casos”, afirma, citando as infecções pela variante Ômicron. “Se ela acometer uma pessoa que está vacinada, ela provavelmente vai ter de uma forma leve, não vai ter maiores problemas”, observa. Por outro lado, Reis alerta: “mas se acometer o indivíduo não vacinado, esse indivíduo pode ter uma doença grave e até com risco de morte”.
Segundo ela, o momento é de atenção. “Talvez fosse importante esperar um pouquinho mais, sendo que no meu entendimento nós estamos em um momento de alerta e vigilância”, diz.
Já Kleber Luz é integrante do Comitê Covid-19 da UFRN e acredita que é o momento de arrefecer. Luz afirma que tem havido uma diminuição geral no número de casos, “embora nas duas últimas semanas tenha tido um aumento, aparentemente de casos leves”. Mas, para ele, “a flexibilização não vai impactar, pelo menos nesse momento”. Segundo o professor, as medidas de saúde pública são tomadas de acordo com o que está acontecendo atualmente.
“Se você tem realmente vacina, houve as campanhas de vacinação e a doença está solta, exigir o passaporte é interessante porque você de alguma forma obriga as pessoas a tomarem a vacina”, atesta. “Na hora que o número de casos está baixo, a doença está sob controle ou os casos que estão ocorrendo não são casos relacionados a gravidade, não tem pra que tomar as medidas restritivas se a doença não está representando o problema”.
Outra docente do Departamento de Infectologia da UFRN, Eveline Pipolo Milan também é contra a decisão do Governo do Estado. “Eu não vejo a flexibilização com bons olhos”, afirma. De acordo com Milan, o Rio Grande do Norte e o Brasil vivem um novo crescimento de casos, mas ainda de pessoas com sintomas leves. Porém, adverte, a necessidade de leitos é proporcional ao número de infectados. “Provavelmente vai voltar a acontecer o aumento de internações. Não da mesma forma que ocorreu no início, quando a população não era vacinada.
Evidentemente que com a vacinação, aumenta a imunidade da população de um modo geral, dos vacinados e protege contra formas graves. Mas a gente está vendo os casos de covid voltarem”.
Eveline ainda é receosa com as variantes da Covid-19, que “tem vários mecanismos de escape às vacinas vigentes”. Por isso, considera importante manter a exigência de passaporte. “Acho que tem que ser cobrado, principalmente porque a gente está vendo que com a flexibilização do uso de máscaras, a Covid não é mais uma notícia de manchete, então está havendo uma redução da adesão à terceira dose”, observa.
Para os profissionais ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE, há o perigo de uma nova onda da Covid-19, que deve vir com menor gravidade. “Esse perigo existe certamente. Agora, o que a gente imagina é que essa quarta onda seja com poucas alternações, com poucos óbitos, com poucos doentes graves”, diz Marise Reis.
Segundo Eveline, as vacinas de primeira geração conferem uma imunidade que tem uma duração de cerca de seis meses. “Então as pessoas que já tomaram há seis meses ou mais a sua segunda dose, provavelmente não estão mais protegidas e a gente corre o risco de fato de ter uma nova onda”, avisa.
Luz acredita que o vírus deve continuar circulando pelos próximos meses. “O que a gente não sabe é a gravidade. Aparentemente está menor do que estava nos dois anos anteriores, [com] aquele número de mortes no mundo inteiro”, explica. “Por outro lado há também a banalização da doença. Chega uma hora que todo mundo se acostuma com a presença da doença e termina relaxando as medidas”.
Como Marise Reis, integrante do Comitê da Sesap, não sabia do decreto do Governo, a reportagem procurou a Secretaria de Saúde para saber se os profissionais haviam sido consultados. A assessoria da Sesap afirmou apenas que a decisão foi do Governo. Tentamos ainda contato com membros da gestão da pasta e do Governo estadual para comentar a medida, sem sucesso.
Oscilação
Os casos confirmados de covid-19 voltaram a crescer no Rio Grande do Norte na segunda semana de maio (entre os dias 8 e 14) após reduções semanais consecutivas desde o dia 2 de abril passado. Os dados foram compilados pela TRIBUNA DO NORTE a partir dos boletins epidemiológicos da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN). Os números apontam que, na primeira semana de abril, (de 3 a 9), o RN registrou 1.434 confirmações da doença. Na primeira semana de maio (1 a 7), o número, ainda em queda, chegou a 116, mas, no período seguinte (8 a 14), foram confirmados 286 casos.
Com isso, o aumento entre a primeira e segunda semana deste mês foi de 146,55%. Na semana passada, os dados indicam uma nova queda (para 72 casos). No entanto, de acordo com o infectologista André Prudente, os números recentes estão sujeitos a alterações, uma vez que o resultado dos exames de detecção da doença   são computados pela Sesap com uma lacuna de cerca de 15 dias.
Esta semana, de segunda-feira (23) até essa quinta-feira (26), já foram confirmados 276 casos no RN. Para André Prudente, o relaxamento das medidas de prevenção e falta ou incompletude do processo de imunização são os principais fatores para o aumento registrado. Segundo Prudente, é provável, contudo, que o cenário se mantenha estável daqui para frente.
“É muito difícil de prever qualquer cenário, mas eu creio que teremos  certa estabilidade”, afirma. O infectologista alerta, dentro do ambiente de imprevisibilidade, sobre possíveis impactos nos números de internação, decorrentes do agravamento da doença. “O aumento de casos gerais pode impactar nos casos graves. Como regra, quanto mais temos a população infectada, mais existe a possibilidade de agravamento da infecção”, diz. 
Procura por teste cresce 60% nas farmácias
Nas farmácias do Rio Grande do Norte, a procura por autotestes para detecção de covid-19 cresceu 60% em maio em comparação ao mês passado, de acordo com o diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do RN (Sincofarn), Leandro Alencar.
Segundo ele, o aumento de síndromes gripais e arboviroses no Estado são os principais responsáveis pela ida dos potiguares às farmácias em busca do exame. 
Alencar avalia que a alta procura deve permanecer nos próximos dias. “Nós temos os casos de gripe e dengue, que costumam confundir as pessoas em relação aos sintomas, por isso a procura. Aliás, acredito que os casos de covid-19 diminuíram porque as pessoas pararam de fazer o teste. A gente sabe que está havendo relatos da doença, mas sem notificação”, explica Leandro Alencar.
No laboratório DNA Center,  a procura por testes para diagnóstico de covid registrou um “sensível  aumento”. O laboratório não quis mencionar números nem explicou se há crescimento nos resultados positivos dos exames. O laboratório disse também não ser possível confirmar, ainda, se existe uma tendência de crescimento para as próximas semanas. “O DNA irá aguardar para verificar se o crescimento ‘se sustenta’, ou seja, se será confirmado ao longo dos próximos dias”, disse o DNA Center. 
No laboratório Dr. Paulo Gurgel não há registro de aumento na procura por testes nem de resultados positivos para exames de detecção da covid-19, conforme informou Paulo Gurgel, dono do laboratório. “A gente acompanha essa questão porque sabe que há um ‘sinal vermelho’ nesse sentido, mas não temos aumento de procura por testes nem de positividade de resultado deles. E esperamos que continue assim”, afirmou.
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