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“Governo ignora setor turístico do RN”

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O empresário do ramo de hotelaria, Mário Barreto, destaca que nos últimos três ou quatro anos os atuais governos federal e estadual são responsáveis pala mais fraca política de desenvolvimento do turismo. A experiência acumulada nesses 23 anos de atuação no setor faz o empresário avaliar que não se recorda de um governo com tamanho desprezo pelo turismo no Rio Grande do Norte. O ex-secretário de Indústria, Comércio e Turismo do RN no segundo governo de José Agripino (até 1994) diz que não sabe de onde o atual governo obtém números do setor porque o último levantamento ocorreu no ano de 2001.

Mário Barreto critica a parceria do governo Wilma de faria com o governo federal, que segundo ele só funciona quanto ao assistencialismo, deixando de lado uma política de desenvolvimento. Na entrevista que segue, o empresário cota promessas de governo — até hoje não foram cumpridas — e alerta que a ausência de uma política para o setor prejudica a economia do Estado e gera desemprego. Ele explica que sem os turistas, os hoteleiros precisam reduzir os custos e isso implica em demissões. Cerca de 35% do dinheiro oriundo do turismo, no Estado, vai para o comércio. O empresário vai mais longe e diz que a apatia do governo em relação ao setor comprometeu o trabalho desenvolvido na década de 1990 e será difícil reverter a situação. Esse, na opinião de Mário Barreto, é o desafio do próximo governador em relação ao turismo do RN.

Tribuna do Norte — Qual era a situação do setor de turismo do RN há quatro anos?

MÁRIO — O governo pegou uma área muito profícua, primeiro por um trabalho que tinha sido feito anteriormente, depois porque uma hora mesmo outros estímulos surgindo — o terrorismo e catástrofes — quando Natal aparece numa área como novidade. Geograficamente uma distância aceitável entre nossa cidade e a Europa, bastante aceitável para uma viagem de longo curso.

•  E o que houve para o setor estar nessa situação?

MB — Primeiro, uma falta total de política, de vontade política da governadora — o azimute do governo não foi para desenvolvimento, mas um governo mais assistencialista; segundo, uma falta de política da governadora neste setor. Tivemos, em quatro anos, quatro secretários. Houve um intervalo que ficamos quase seis meses sem secretário. Então, o governo já não a política, ninguém que comandasse isso… Alguns setores, como infra-estrutura. Cito alguns exemplos: em dezembro de 2004, em almoço que ela (Wilma de Faria) fez no Ocean Palace, disse que 2005 seria o ano da Costeira (Via Costeira). Passou 2005 e essa estrada que não serve apenas ao turismo, mas a toda a população de Natal (praticamente uma periférica da cidade porque os caminhões  que servem a Ribeira, o Porto, e a Petrobras) não recebeu a mínima atenção. É uma via que só tem uma coisa muito eficiente… uma via que deve ser rentável porque tem dois radares e uma blitz. Pode acabar o mundo e os soldados em qualquer lugar de Natal, mas na “blitz do chinelo” haverá sempre alguém porque é a mais rentável que tem.

•  O apoio oferecido pela iniciativa privada com intuito de oferecer mais segurança ao natalense e turista, naquela área, resolveu o problema?

MB — Não resolveu porque não se consegue manter a polícia na Via Costeira. O único lugar que se consegue manter é na “blitz do chinelo”. A única coisa que o governo construiu foi aquele salva-vidas (prédio localizado na rodovia que serve de abrigo aos bombeiros) que há um ano não tem ninguém. Quer dizer, é uma peça decorativa, sem salva-vidas, e dali não se consegue ver nada. Não há efetivo. É uma via que foi construída há 25 anos e que estava precisando de recuperação. Mas a governadora, um ano e meio depois (em junho de 2006), inicia uma obra repentinamente, estranhamente sem projetos. A obra está embargada, não está sendo feita e isso é retrato do governo, abandonado. Chega a alta estação e a ponte que está por vir e como é que isso fica?

•  De forma pontual, esta obra tem cunho eleitoreiro?

MB — Não sei. Era uma obra que vinha sendo muito discutida e pleiteada. É estranho que essa obra foi iniciada de uma maneira que automaticamente foi embargada pela prefeitura, quando não se vê motivos porque aquelas plantas retiradas eram mortas. É necessária uma readequação porque a Via Costeira é uma via perigosa, visto que já existe um tráfego pesado e muita escuridão. Nessa situação de inacabadas estão obras como a estrada e do contorno da praia de Pipa. O próprio Centro de Convenções de natal que foi visitado há um ano e meio e ainda não está pronto.

•  Qual sua avaliação do Prodetur/RN?

MB — A gente não vê essas obras do Prodetur/RN.

•  A partir da segunda metade da década de 1990 o turismo estava consolidado no RN como principal atividade sócioeconômica. Por que esse retrocesso agora?

MB — O turismo é um produto como outro qualquer. Natal, enquanto destino turístico é muito bom, mas por melhor que seja, se não for bem divulgado nada acontece e morre ali, na prateleira. Notamos que não houve eficiência necessária no governo para divulgação desse produto. O turismo é o setor da economia que mais pulveriza suas divisas. Hoje, 35% desse dinheiro que vem do turismo vai diretamente para o comércio. A hotelaria fica com 15%. Talvez a hotelaria, historicamente, seja a que mais reclame porque é a primeira que está a frente que sempre participou, sempre indo atrás. Mas não é a maior beneficiária disso — claro que é beneficiada — mas não é a maior. A cidade, o Estado, toda a economia é beneficiada. Esses 35% do comércio é uma parcela grande. Não se viu, ao longo desses quatro anos, uma divulgação e uma forma mais agressiva de captação. E isso apesar de os números serem favoráveis porque, nesse país, não podemos contar algo nos 21 anos. Já pensou se fossemos comparar o governo Lula com o governo Juscelino Kubitschek, os números seriam ínfimos. Mas, naquela época uma única fábrica automobilística, representava números grandes. Se for analisar friamente os números, existe um crescimento turístico no Rio Grande do Norte quando comparado àquela época. Principalmente porque já existia um produto que tinha sido vendido, estava colocado na prateleira dos clientes e esses começaram a comprar.

•  E como explicar esses números que o governo tem divulgado para o turismo no RN?

MB — Esses números que tem aqui são números menos. Os únicos números são da Infraero, que se referem a passageiros desembarcados, embarcados e de aviões pousam. Não dá para saber se é de turistas. Sabemos apenas em relação aos vôos charters, porque geralmente vem turistas. Agora, o governo — eu até desafio — não tem hoje um número que diga quantas unidades hoteleiras e número de quartos no Estado. O último levantamento foi feito em julho de 2001, que foi um relatório sobre o levantamento dos equipamentos turísticos no Rio Grande do Norte., feito pelo Banco do Nordeste, ANP, Governo do Estado, Prefeitura e Sebrae. Ele é o único de lá para cá. Ou seja, o único balizamento que dava o número de leitos, à época em 25.056 unidades. Hoje ninguém sabe porque o governo não tem.

•  E de onde vêm os números divulgados pelo governo?

MB —  Os números que o governo diz são totalmente aleatórios.

•  Então não há base para planejamento?

MB —  Não pode falar de planejamento porque não sabemos — e desafio quem tenha a partir de 2002 para cá — um acompanhamento como esses. Quer dizer, há cinco anos. Em agosto do ano 2000, a Bahia Tur (entidade de turismo da Bahia) fez um levantamento dos vôos internacionais perdidos, e Natal aparecia em quarto lugar na região Nordeste e sétima cidade brasileira em número de vôos internacionais (quantidade de pousos). Então Natal já era uma cidade em desenvolvimento. Hoje, nos vôos charters internacionais (aqueles onde se consegue medir com mais precisão o número de turistas), na alta estação no mês de agosto, podemos dizer que em 2004 houve 61 pousos só nesse mês. Em 2005, passa para 49 contra 44 em 2006 (considerando apenas o mês de agosto). Isso representa uma queda de vôos charters internacionais de 28% entre 2004 e 2006.

•  É reflexo apenas da falta de divulgação?

MB — Isso total reflexo da falta de divulgação. Comparando a quantidade de charters internacionais de 2004 em relação a 2005, houve um decréscimo de 20%.. Isso apenas em agosto, que é o principal mês de turismo na Europa. E se formos observar em relação ao número de passageiros, tivemos um decréscimo de 11.636 (em 2004) pessoas desembarcadas em Natal no mês de agosto contra 6.840 em igual mês deste ano. Tivemos uma perda de 4.795 passageiros. Isso mostra que estamos perdendo mercado… em queda livre, com perda de 41%.

•  O que vocês vislumbra para reverter esse processo?

MB — Existe uma empatia do governo. Para se ter idéia, estamos negociando um vôo da maior operadora inglesa, a Thompson, de um inglês que é o segundo ou terceiro maior cliente do mundo de turismo. O Lula (presidente da República) gosta muito de fazer uma comparação futebolística, já que ele está “com muita popularidade” política, então é a mesma coisa que o Ronaldinho Gaúcho vir jogar no ABC. É a mesma coisa de termos um vôo da Thompson. Há três meses existe uma negociação financeira, ou “acertar os bigodes”, entre o governo do RN e essa empresa.

•  Quanto custa, ou vai custar, esse descaso para o setor?

MB —  Se a gente for ver este ano, contando os oito primeiros meses, comparado ao mesmo período de 2005, tivemos uma queda de 24% nos vôos charters do Brasil. Isso corresponde a 19.108 passageiros que perdemos. Nesse período, há uma soma de 24 mil passageiros. Um número que não é só para a hotelaria. Se você tem quatro passageiros em um bugre, corresponde a seis mil passeios que deixariam de ser realizados no RN.

•  Isso gera demissões?

MB — Os hotéis já sentem esse impacto e vai diretamente nas demissões. Corresponde a 20% na queda de ocupação na hotelaria e quando se perde isso corresponde a 20% de corte nos gastos e isso repercute em corte de pessoal. O ponto do funcionário, que ele ganha a gorjeta, e a taxa de serviço que é 10% em cima do faturamento do hotel (dividido entre eles) caem e o poder de compra desse funcionário também. Na alta estação, quando o hotel está cheio, o salário dele praticamente não é nada, porque dobra ou triplica o que ele recebe. Isso que vai para o bolso do funcionário é que se chama geração de emprego.

•  O que precisa para reverter a situação?

MB — Primeiro um estudo e diagnóstico da situação para saber onde é que você vai atacar. Junto a isso tivemos o problema do turismo sexual, que o governo chegou a um ponto que quando estourou na Rede Globo aí ele entrou. Mas entrou de uma maneira de ninja, com uma metralhadora. Essa semana vi uma matéria dizendo que Ponta Negra acabou. Porque o governo não teve meio termo, não soube ir dosando e controlando. Isso gerou matéria na rede Globo e é um estrago e, mais recente (na edição de domingo passado no jornal El País). O governo já deveria estar trabalhando hoje para reverter esta situação e não adianta deixar para mais um ano.

•  Se houvesse uma e planejada reação hoje, em quanto tempo seria possível ao menos voltar à realidade do início desta década?

MB — Recuperar é muito mais difícil que fazer. Uma coisa é montar um produto como Natal, outra é pegar um produto que está debaixo de uma crítica como turismo sexual e você dizer: ‘não é isso’. Refazer uma imagem é muito mais trabalhoso. Não sei quanto tempo levaria, mas acho que seja qual for o próximo governador, tem que agir de uma maneira competente. O turismo no RN é outra refinaria — responsável por refinar as belezas naturais, hospitalidade do povo, gerando emprego e renda para o Estado. Temos que reverter esta situação. Há um ano, eu dizia que ainda está bom porque tem turista. A pior coisa é a pessoa não querer ver e dizer: “não, está muito bom, tá melhor”. Não está melhor e os números mostram que não está melhor. A gente não pode viver só da propaganda enganosa. Porque a qualquer lugar que você vá, ao shopping ou qualquer hoteleiro e restaurante, a economia da cidade está sentindo. Realmente está precisando de planejamento de imediato. Algo que diga o quê vamos fazer e onde pode recuperar.

•  O governo destina pouco do orçamento para o turismo?

MB —  Quase nada… é brincadeira. O orçamento de divulgação é nenhum. Primeiro porque a Secretaria de Turismo não tem orçamento próprio, vive de esmola. Nesses três anos, o governo talvez tenha feito uma campanha publicitária e está fazendo agora um merchandising e uma campanha na Europa e uma campanha no Brasil. É uma cidade que tem vocação turística e já provou e o governo podia ter feito uma marca. Tiveram a bola na marca do pênalti e poderia ter feito realmente um estado turístico. Quem conhece, sabe quanto vai ser difícil recuperar. Mas a sociedade de Natal não pode ficar parada — perdeu uma refinaria, isso e aquilo — e esperando uma bolsa família ou ser “jabuti” no Governo do Estado.

•  A parceria entre governo federal e governo do Estado funciona para o setor?

MB — Está se discutindo muito o aeroporto (Augusto Severo, em Parnamirim). Com muito pouco, muito pouco mesmo daria uma duplicação do aeroporto, que tem uma área enorme — o antigo aeroporto — hoje totalmente subutilizada, onde funciona o escritório da Infraero. Não acredito que para administrar um aeroporto daquele tamanho use uma área enorme. Aquela área toda refrigerada e bonita poderia ser transformada numa área de vôos charters, vôos internacionais, apenas para atender e desafogar o restante do prédio. Toda aquela área é para a parte administrativa da Infraero. Com isso dobraria a capacidade de atendimento. Essa parceria não existe muito. Se existe, é só na área de assistencialismo. Tem que ter algum incentivo ao povo para trabalhar porque isso aqui não é acionista que dê para segurar o povo sem trabalhar.

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