Brasília – As lideranças aliadas do governo, que participaram ontem de manhã da reunião do Conselho Político, deixaram o Planalto com a certeza de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou das promessas feitas aos controladores de vôo, na sexta-feira passada, porque foi enquadrado pelos comandantes das três Forças (Exército, Marinha e Aeronáutica). O chefe da Aeronáutica chegou a rejeitar categoricamente a prometida Medida Provisória (MP) para reestruturar o sistema de proteção aos vôos e conceder uma gratificação aos controladores. Apesar de ter prometido abrir negociações salariais com os controladores, e até admitir que faria uma “revisão de atos disciplinares militares”, o presidente Lula não teve como resistir aos argumentos dos comandantes – que pressionaram pelo “imediato restabelecimento da disciplina e da hierarquia”. ontem, diante do Conselho Político, fez a mais contundente jura de aliança com os chefes das três Forças.
Ao final do dia, para dar mais uma prova desse reforço da autoridade militar, o governo repôs nas mãos do Comando da Aeronáutica as negociações com os controladores, acabando assim com a idéia de que um ministério civil abrisse uma negociação de perfil sindical-militar – situação incompatível com a disciplina militar.
Na reunião do Conselho Político, o presidente admitiu claramente, segundo um dos líderes, que o problema com os controladores de vôo ganhara dimensão de crise militar institucional. “(Lula mostrou que está) decidido a bancar a posição dos militares, resgatando a autoridade plena da Aeronáutica.” Segundo relato de um dos participantes da reunião, Lula disse: “A disciplina e a hierarquia militares são inegociáveis. É este o caminho (…). Este problema não pode cair no meu colo”. A avaliação geral das lideranças foi de que Lula tomara, na sexta-feira, “uma decisão muito mais emocional do que racional, sem saber o que faria com toda aquela gente que lotava os aeroportos”. Um dos conselheiros presidenciais revelou que os líderes políticos chegaram ao Planalto “nervosos e tensos” por conta do relato feito pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), sobre a conversa que tivera na véspera com o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito.
No encontro, o brigadeiro teria deixado claro que a crise era “gravíssima”, a ponto de os oficiais superiores dos controladores terem deixados os postos de trabalho nos Cindacatas, diante do ambiente de indisciplina instaurado na sexta-feira à noite.
Proposta de desmilitarização não está fechada
São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou ontem do acordo feito pelo governo e endureceu com os controladores de vôo depois de ter sido pressionado pelos comandantes militares. O governo recuou também da proposta de desmilitarizar já o controle aéreo. Apesar de ter prometido abrir negociação salarial com os controladores e rever eventuais punições, o presidente não teve como resistir ao pedido dos chefes militares pelo restabelecimento imediato da disciplina e da hierarquia, após a paralisação de sexta. E de fazer o governo e a base aliada deixarem claro que o controle aéreo está sob responsabilidade do comandante da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Juniti Saito. Sinal da união das Forças Armadas no episódio foi o fato de uma posse no Estado-Maior da Aeronáutica ter virado ato de desagravo ao brigadeiro Juniti Saito. Depois de defender “princípios basilares da hierarquia e disciplina”, o comandante da Aeronáutica recebeu um aplauso longo, que o deixou emocionado.
Em seguida, foi efusivamente cumprimentado pelos militares presentes, sob o olhar impressionado do ministro Waldir Pires. Saiu convencido de que não haverá paralisação na Páscoa e sinalizou que, mantida a normalidade, o governo voltará a fazer a desmilitarização avançar.
Ministro nega acordo feito com controladores
Brasília – Escalado para ser o negociador do governo com os controladores de vôo, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, se reuniu ontem com representantes da categoria para negar o acordo costurado por ele próprio na sexta-feira para pôr fim à greve que paralisou os aeroportos de todo o País. No encontro, que começou tenso, Bernardo repassou mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi duro. “O governo não negocia com a faca no pescoço.” O tom da reunião foi bastante diferente do da negociação de sexta-feira, na qual o governo se comprometeu, entre outras coisas, a não punir culpados. A nova estratégica do governo deu certo. Acuados, os controladores se viram obrigados a recuar “para não arrebentar a corda”.
Ao longo de quase uma hora, Bernardo deixou claro que o governo não ficaria refém dos controladores e exigiu mudança de postura deles para que o governo venha discutir e atender, ao menos, parte do pleito da categoria. Um dos principais desejos dos controladores, a desmilitarização do setor, que será feita por meio de Medida Provisória (MP), foi mencionada superficialmente pelo ministro. Bernardo avisou que ela segue adiante desde que os controladores continuem trabalhando dentro da normalidade, ou seja, evitando transtornos como o de sexta-feira à população. “Fica muito difícil negociar e discutir com constantes ameaças de retomada de movimento, de fazer greve novamente, e transformar a Páscoa em um inferno”, disse o ministro.