quarta-feira, 24 de abril, 2024
32.1 C
Natal
quarta-feira, 24 de abril, 2024

Grandes lojas apostam no potencial da Cidade Alta

- Publicidade -

A desaceleração do comércio de rua também é  sentida da Cidade Alta, embora de forma mais leve. O bairro, que já teve forte vocação comercial, hoje concentra as grandes lojas varejistas, como C&A, Marisa, Riachuelo, Renner e Rio Center. Os pequenos comerciantes reclamam que o movimento do começo do ano foi fraco. “De uns dois anos para cá a concorrência cresceu. Mas comércio é assim, tem mês que vendemos muito, tem mês que vem pouco. No carnaval foi muito parado, mas acho que a Copa do Mundo vai ajudar. Já começamos a renovar o estoque, todo verde e amarelo”, diz a operadora de caixa Neuma dos Santos, que trabalha em uma loja de bijuterias há sete anos.

Crescimento
Outros comerciantes, porém, sentiram uma melhora. “Tivemos um aumento de 70% nas vendas de 2012  para 2013. Acho que o diferencial da cidade é que o público é bem diferente: o cliente é mais selecionado. O problema é falta de estacionamento”, avalia a supervisora de profissionais Elaine Magalhães, que trabalha em uma loja de cosméticos há sete anos.
A Prefeitura de Natal realizou o cadastramento de 172 ambulantes no começo do ano passado, por meio de um censo feito pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos. De acordo com a secretária-adjunta, Fátima Lima, cerca de 120 ambulantes serão contemplados com boxes e sombreiros, distribuídos em um calçadão construído pela Prefeitura na rua João Pessoa. “Depois do censo também distribuímos coletes para identificação dos ambulantes”, relatou a adjunta da pasta. Para ela, a retirada de ambulantes das ruas ajudará a dar um novo aspecto ao bairro.

Rio Center: 70 anos investindo no bairro
“O Centro não perdeu força, tanto que outras lojas chegaram. No Rio de Janeiro, por exemplo, o comércio continuou na Rio Branco, mesmo com a chegada dos shoppings; centro é centro, não adianta, a não ser que resolva todo mundo sair de uma vez. Com toda dificuldade nos mantemos aqui. O que falta é incentivo da prefeitura: não existe garagem, não tem iluminação e segurança”, aponta o empresário Flávio Alcides, 67 anos, proprietário das lojas Rio Center.

A Rio Center não é apenas uma tradição no Centro da Cidade. Ela carrega parte da história do comércio em Natal. De acordo com o livro “Memória do Comércio no Rio Grande do Norte” (Fecomercio, 2007), ela é uma das lojas mais antigas do comercio natalense – quiçá a mais antiga, uma vez que a loja de ferragens Galvão Mesquita, fundada em 1932, fechou em 2013.

A “Casa Rio” foi fundada pelo empresário paraibano Alcides Araújo em 1937, e começou a funcionar na rua Ulysses Caldas, número 196. “Aos sete anos papai saiu do interior com o avô, que era mascate, para Natal e montaram uma lojinha de taipa em frente de casa. Vendiam brilhantina. Aos 17, papai resolveu pegar um ponto na Cidade Alta e trabalhar com tecidos. Foi a primeira loja a focar nos estrangeiros. Nossa loja tinha “Spoken English” logo na entrada, durante a segunda guerra”, conta Flávio Alcides.
Aos 10 anos, Flávio começou a trabalhar na loja. Na mesma época, o pai, que já possuía três unidades no centro, resolveu investir em confecções. “A concorrência começava a ficar mais difícil, e papai não tinha ainda tanta estrutura. Resolvemos investir em um novo mercado”, comentou. Em 1978, abriram a mais conhecida loja de confecções da rede, na rua João Pessoa, onde permanecem até hoje. “Foi a primeira loja a distribuir as roupas em araras. Até então, quem chegava para comprar roupa encontrava tudo encaixotado”, conta o empresário. Também foram a primeira loja do ramo a investir em cartões de crédito.

De lá para a expansão foi um pulo. Hoje o grupo mantém três lojas: uma no Natal Shopping, a do Centro e a da Prudente de Morais. Para Alcides, o segredo para se manter há 70 anos no mercado foi nunca ter abdicado do centro da cidade.

“É preciso crescer, sim, não dá para ficar marcando o mesmo passo. Mas a loja do centro é onde tenho uma das clientelas mais fiéis. Até mesmo o nosso principal concorrente diz que o seu maior faturamento é no centro da cidade. O comércio de rua vai existir sempre.”

Lojas investem com ‘charme’ do comércio de rua

O comércio de rua da capital potiguar, porém, não se concentra apenas nos bairros mais populares, como Cidade Alta e Alecrim. Em meados da década de 1970, Natal ganhou uma “Oscar Freire” – rua famosa de São Paulo por reunir lojas das principais grifes nacionais e internacionais.
A Afonso Pena, principal rua que corta o Tirol, reúne lojistas que lutam para manter os serviços, apesar da insegurança e da falta de estrutura que vêm ameaçando o Plano Palumbo.

Tirol e Petrópolis
Bairros como Tirol e Petrópolis, que concentram um comércio mais voltado para o varejo têxtil, decoração e lojas com público A e B, enfrentam os mesmos gargalos. O último caso de violência aconteceu no domingo passado (27), em uma padaria de Petrópolis. O assalto culminou na morte do policial civil lfran André Tavares de Araújo.

Fechamento
Segundo alguns comerciantes do Tirol, cerca de 20 lojas do bairro foram fechadas na rua Afonso Pena, nos últimos dois anos. “A Afonso Pena é um shopping ao ar livre, as pessoas que circulam têm o poder aquisitivo alto. Mas hoje as pessoas têm medo de parar”, comenta o vendedor Marcílio Pessoa de Oliveira, funcionário da padaria Cantinho Sertanejo há 15 anos. Ele viu o movimento despencar em 50%.
O estacionamento é o principal problema da Afonso Pena, na visão da empresária Zauleide Queiroz, proprietária da rede Sorvetes Finos. Ela mantém uma loja no bairro há seis anos. “Muita gente gosta daqui porque pode estacionar em frente a loja, não é cheio como um shopping. Em compensação, o cliente só encosta se tiver segurança”, aponta. Segundo ela, a loja só se mantém no bairro porque encontrou outros meios de render. “Fiz disso aqui uma loja-escola, porque se dependêssemos só do consumidor final já teríamos fechado.”

Fidelidade
Mesmo assim, tem gente que não pretende sair do comércio na área. É o caso de Giomar Ferreira, empresária mossoroense que mantém a loja mais antiga da rua, a Giomar Modas, instalada há 25 anos. “Éramos a Oscar Freire de Natal, mas fechou tudo. Tive que me manter aqui na marra. Desde 2013 temos passado a maior crise de todos os tempos. Por não ter onde estacionar, nossos clientes estão indo para os shoppings”, comenta Giomar. A loja registrou queda no faturamento de 70% do ano passado para cá. Mas acrescenta: “Só saio daqui se for para casa.”

Reorganização
Para George Ramalho, presidente do Sindicato do Comércio Varejista do  RN, há um risco de o comércio de rua minguar – principalmente os de centros comerciais mais restritos, como no Plano Palumbo – se não houver uma política pública de  reorganização as áreas. “É por causa da falta de segurança que o comércio de rua vai perdendo espaço para os shoppings. Só a melhoria na segurança pode mudar isso.”

“A dificuldade é competir com grandes empresas”
Por que o microempreendedorismo é uma marca tão forte no mercado potiguar?
Noventa e sete por cento das empresas brasileiras são pequenas ou médias, seja na indústria no comércio ou nos serviços. Por natureza, isso é normal. É convergente à economia nacional.

Essa característica nacional tem um porquê?
É mais fácil montar uma pequena empresa, principalmente se for no comércio. As barreiras de entrada são mínimas. Mas a mortalidade também é alta. A dificuldade hoje é competir com grandes empresas. O próprio tamanho é uma falha. Outro fator é a informalidade.

Os centros comerciais de Natal possuem muitos ambulantes e informais. O que deve ser feito?
A formalização garante o acesso à direitos. A chegada do Micro e Pequeno Empreendedor (MEI) veio ajudar ainda mais. Sem o Sebrae, a microempresa não viveria, e elas são o grande motor do desenvolvimento. É claro que é uma obrigação de qualquer empreendedor ser formal, mas o que falta é que alguém explique a eles a importância disso. A burocracia é muito grande, mas o governo tem avançado quanto a isso.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas