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Grito de alerta para a voz

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Tádzio França
Repórter

Voz é comunicação e identidade. E para fluir bem e clara, no volume ideal, necessita de cuidados. São precauções na maioria simples, mas que costumam passar despercebidas entre os hábitos do dia a dia – até que os problemas se manifestem. O mês de abril foi o escolhido oficialmente para lembrar a população sobre as precauções que a saúde vocal exige, através da Campanha Nacional da Voz, criada a partir do Dia Mundial da Voz (16/04). A 20ª edição dessa ação informa que prevenção e educação dão o tom de qualidade a qualquer voz.

Os distúrbios de voz se manifestam de variadas formas. A mais comum é a rouquidão, ou disfonia, que impede a produção natural da voz; se o sintoma persistir por mais de 15 dias, deve-se procurar logo um médico. A rouquidão pode acompanhar tosses e pigarros (na tentativa de expulsar secreções), alterações respiratórias como a falta de ar, além de desconforto, dor e fadiga vocal.

O mês de abril foi o escolhido oficialmente para lembrar a população sobre as precauções que a saúde vocal exige, através da Campanha Nacional da Voz
O mês de abril foi o escolhido oficialmente para lembrar a população sobre as precauções que a saúde vocal exige, através da Campanha Nacional da Voz

“Até as moléstias mais simples, quando não tratadas adequadamente, vão piorando progressivamente a qualidade vocal. Isso afeta desde as pessoas comuns até aquelas que usam a voz profissionalmente”, afirma Isabelle Soares, presidente da Sociedade de Otorrinolaringologia  Norte-riograndense. Há também, em casos mais graves, o câncer de laringe, um mal que atinge dez mil pessoas por ano no Brasil e deixa o país em segundo lugar no ranking mundial de incidência da doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A laringe é o órgão responsável pela fonação e proteção das vias respiratórias. Aliás, a incidência de câncer de laringe é mais alta entre os homens. “Por causa dos hábitos de tabagismo, etilismo e maior exposição a agentes químicos. Lembrando ainda que o homem procura menos os serviços de saúde quando comparado às mulheres”, enfatiza.

Abusos vocais

A região da faringe e laringe é a mais vulnerável aos abusos que resultam em problemas. “As doenças mais comuns são as faringites e laringites de variadas etiologias, como as alérgicas, virais ou irritativas. Mas há também outras lesões benignas, estruturais, pré-neoplásicas, e o câncer propriamente dito”, explica. 

O tabagismo é destacado como  o hábito mais danoso quando o assunto é saúde vocal. Isabelle Soares ressalta ainda o consumo constante de bebidas alcoólicas; a ingestão de refeições volumosas; alimentos de difícil digestão; excesso de refrigerantes e bebidas cítricas, considerando a questão do refluxo esôfago-faríngeo. “Além destes, também lembro os maus usos que se costumam fazer da voz, como gritar, pigarrear, não fazer pausas, e não hidratar frequentemente”, diz.

Manter o equilíbrio em várias ações cotidianas é a iniciativa que mantém a saúde da voz, afirma a otorrinolaringologista. Entre os cuidados estão o sono reparador; controle de estresse; evitar excessos alimentares; proteger as vias aéreas de agentes químicos e poeira, e manter um tom de voz compatível com o aparelho fonador de cada um, sem esforço vocal excessivo. “Afinal, se trata de um estrutura muscular que pode vir a sofrer fadiga”, completa.

Voz profissional

Os distúrbios vocais costumam atingir de forma mais recorrente  as pessoas que trabalham profissionalmente com a voz. Cantores, professores, radialistas, advogados, promotores, vendedores, jornalistas de televisão, entre outros, têm problemas recorrentes de nódulos vocais, também conhecidos como “calos” de cordas vocais. São casos em que não há o fechamento adequado da glote durante a fonação, causando aspereza e soprosidade da voz. Há também as fendas, uma abertura entre as cordas vocais que deixa a voz mais rouca, baixa e sem amplitude.

Para quem é profissional da voz, Isabelle recomenda uma série de cuidados simples, como se hidratar frequentemente com vários goles de água ao longo do dia; lembrar de fazer pequenas pausas na fala e, no caso de necessitar um esforço vocal maior, fazer uso de aparatos de amplificação sonora (como microfones com caixa de som). Ela reitera o uso de acústica adequada nos ambientes de trabalho, para não estimular a emissão vocal forçada de quem está “competindo” com o ruído.

A fonoaudióloga Maria Alice Cavalcanti afirma que as alterações vocais são um problema de saúde global. “É um problema que afeta a vida pessoal, social e, sobretudo a profissional, gerando ansiedade e angústia. Os fatores de risco para desenvolver patologia vocal incluem as características individuais, ambientais e emocionais de cada indivíduo”, ressalta ela, que trabalha na Liga Contra o Câncer e atua reabilitando pacientes submetidos a cirurgia de cabeça e pescoço. Alice também coordena o coral Voz do Amor, formado por pacientes que perderão a voz após a retirada da laringe.

Alice ressalta a necessidade de buscar ajuda profissional quando os sintomas se tornarem mais incômodos que o habitual. “O médico deve realizar um exame chamado laringoscopia, que permite a visualização da região da laringe. Somente abrir a boca e usar espátula para abaixar a língua não permite a visualização da laringe. Esse exame incompleto é a causa de muitos atrasos no diagnóstico”, explica.

Sobre o câncer de laringe, ela enfatiza que o tratamento depende da localização e do estágio. “Pode ser tratado com cirurgia e/ou radioterapia e com quimioterapia associada à radioterapia. “Para pacientes com tumores em estádio inicial existem possibilidades de tratamento curativo com cirurgias conservadoras, preservando a voz. Por outro lado para pacientes com tumores muito avançados não existe outra possibilidade de tratamento curativo sem a perda total da laringe”, diz. Mesmo nesses casos as taxas de cura são altas. O paciente pode continuar a deglutir alimentos, e pode-se reabilitar a fala com fonoterapia.

Voz da razão

A voz suave de Carmem Pradella é o seu maior patrimônio. Cantora desde 1997, além de soltar as voz em bares, teatros e praças, ela também atua como professora para turmas de adolescente. “Ensino de dia e canto à noite. É uma rotina que exige muito da minha voz, e que me obriga a ter diversos cuidados e disciplinas”, afirma.

Carmem não bebe nada gelado – e nem alcoólico. “Quando vou num lugar que só tem água gelada, espero um tempo para esquentar”, diz. Ela também não fuma, e evita lugares com muita fumaça em volta. A mudança de trilha sonora também ajuda. A cantora deixou há cinco anos o rock mais elétrico das bandas, e investiu num projeto acústico, onde canta em dupla. “Divido os vocais, o repertório e o tempo com meu parceiro de palco. A gente poupa a voz e dá o nosso melhor, funciona muito bem assim”, diz.

Quando a agenda de shows está cheia, ela toma alguns cuidados especiais. “Diminuo o ritmo. Gosto de falar muito, mas paro. Também faço nebulização com soro fisiológico; deixo a boca aberta, o que hidrata minhas cordas vocais. Já tive calo vocal e aprendi algumas coisas”, conta. Em dia de show ela faz os exercícios vocais de vibração e respiração típico dos cantores. Mas Carmem considera que a porção professora às vezes pode ser mais pesada que a pop/rock.

“Às vezes a turma exagera no barulho e eu tenho que fazer algo. Mas não grito de jeito nenhum. Apenas digo que se o ruído continuar, não darei aula. Falo isso de um jeito firme, mas sem nunca elevar a voz. Se eu falar alto, a garganta arranha”, diz. Ela ressalta que os alunos sabem de sua carreira de cantora e que isso costuma ajudar na disciplina. “Eles respeitam a minha voz, que está sempre suave…”, conclui.

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