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Guim sempre

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Rubens Lemos Filho
João Batista Machado entrou em minha vida para jamais sair, ainda que esteja morto e tenha me feito chorar o manancial de uns dois anos. Machadinho foi um dos homens mais corretos e autênticos com quem convivi. E convivi mesmo. Antes do seu câncer e da pandemia da Covid, nos reuníamos na Peixada da Comadre, na Ponta do Morcego, Praia dos Artistas, pelo menos uma vez por mês. 
Nunca foram encontros. Eram aulas, ele na cachacinha, eu na cerveja, Davi servindo meu peixe frito e nós repetindo temas e rindo das novidades de Natal. 
As novidades da fauna daqui são provocadoras de gargalhada. Éramos fervorosos inimigos dos exibicionistas e de dondocas cheias de frescura. Ríamos, ele contava piadas, cada vez mais gago. 
Machado era gago. Raciocinava a jato e a dicção não acompanhava. Elaborava um raciocínio na graça da beleza dos seus textos, estilistas e seguindo o padrão charmoso do velho Jornal do Brasil dos anos 1960 e 70, ambientação da reportagem, detalhismo.
Nada rebuscado como o pobre figurino das palavras postas hoje em páginas e blogs. O texto de Machado era sua referência e ele o reverenciava, sem admitir um lapso mínimo na construção elegante. 
Conversávamos sobre futebol. Convergíamos no Rio de Janeiro. Machado lembrava do Vasco de 1958, o Vasco de Miguel; Paulinho e Bellini; Écio, Orlando e Coronel; Sabará, Almir Pernambuquinho, Vavá depois Waldemar, Roberto Pinto  e Pinga.
 “Esse era o Supersuper, esse era o Supersuper”, repetia. O Vasco de Machado disputou dois triangulares com o Botafogo de Nilton Santos, Didi e Garrincha e o Flamengo do mossoroense Dequinha, do alagoano Dida e do paulista Moacir, reserva na seleção campeã do mundo pela primeira vez. 
Houve empate no primeiro triangular e o Vasco venceu o Botafogo por 2×1 e empatou  em 1×1 com o Flamengo, gol do meia Roberto Pinto.
“Miguel(potiguar de Macaíba),  pegou muita bola, Miguel pegou muita bola”, pontuava Machado. 
Papai era outro ponto de pauta enquanto desciam as nossas talagadas peritônios adentro. Trabalharam – ele e Machado, no Diário de Natal da descida da avenida Rio Branco, anos 1960, metade da década, papai chegado de temporada no Paraná, Chefe de Reportagem e Repórter. 
Papai adorava os textos de Machado que o considerava um mestre, E dizia com a autoridade de quem conviveu com Rubão quando ele era um clandestino. Machado organizava cotas de dinheiro com outros amigos para entregar o valor arrecadado ao meu pai, sem lenço, documento e esperança. 
Papai confiava a Machado o lugar de entrega e Machado nunca me disse onde era, fiel ao compromisso de tantos anos passados. Os homens de verdade estão morrendo. Ficam remanescentes. E a maioria ruminante dos dinheiristas acima do afeto. 
Não nos chamávamos de Machado, Machadinho ou ele a mim de Rubinho. Ele era Guim 1 e eu, Guim 2. Machado tinha uma capacidade espantosa de apelidar certeiro. 
Papai começou a ser chamado de Amigo. Depois de Amiguinho. Depois de Guim. Até morrer. “Você é Guim 2, Guim 2!”, me chancelou lá pelos idos de 2007, quando passou a ser meu confidente fiel. O ombro de minhas lágrimas silenciosas. 
Um dos meus orgulhos foi apresentar um dos livros dele. Machado escreveu a história do Rio Grande do Norte com os olhos privilegiados do repórter sem pedantismos que jamais deixou de ser. 
Um dos dias mais felizes para ele, talvez mais para mim, quando foi assessor de imprensa do heróico português, ex-primeiro-ministro Mário Soares. 
A sublimação de quem dignificou a atividade de assessor de imprensa. Foi ele quem tornou o salário do cargo equivalente ao de Secretário de Estado.  
 
Ainda choro Guim 1. Aliás, me choro. Choro por ele, choro por mim que não irei tê-lo de novo. Quando me pediram para divulgar sua morte, não tive coragem, por exemplo, de ligar para Cassiano Arruda, venerado por Guim 1. Passei a missão para Arturo, filho de Cassiano. 
Eu mesmo não entro outra vez na Peixada da Comadre. Para não cair em prantos. Como agora, olhando minha foto com ele. Que está com papai, abrindo trabalhos etílicos, no celestial, Bar do Lourival. Beijo, Guim 1. 
Segundo turno 
É absolutamente imprevisível a decisão do segundo turno, depois de amanhã, entre ABC e Santa Cruz no Frasqueirão. A fragilidade irregular do alvinegro não o credencia ao favoritismo. O ABC, que jogou bem contra o América nos 3×1, foi pífio diante do Assu na partida que lhe garantiu na disputa do returno. 
O primeiro tempo foi todo do Assu. Seu lateral-direito Marquinhos abusou de ganhar da ala esquerda do ABC e de finalizar com defeito. O Assu por muito pouco não fez um gol e se houvesse conseguido, não seria injustiça. 
O gol de Wallyson de pênalti, a 1 minuto da segunda etapa, deu ao torcedor, aquela respirada ofegante afastada apenas na pancada seca de Valderrama no 2×0. Peças apagadas no ataque do ABC. Não há favorito domingo. 
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