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Há 43 anos

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Sanderson Negreiros – Escritor

O ano era de 1964, pouco antes dos famosos idos de março, que tanto transformaram nossas vidas. Já escrevia a coluna “Quadrantes” nesta brava TN. E, nela, iniciei o que chamava de “rápidas entrevistas”. Entrevistas de bolso, como as intitulava. E foram numerosas. A primeira foi feita com Woden Madruga, na época, um jovem de 27 anos. E começava assim o jogo de perguntas e respostas. P – O que você levaria para uma ilha deserta? R – O amor que desejei ter. P – Quais as coisas que admira ou mais gosta? R – (1) Começo de madrugada. (2) Uisque só com gelo. (3) Mulher de mesmo. (4) Natal, apesar de tudo. (5) Viajar. (6) O sorriso de Rebeca. (7) Bate-papo com amigos. (8) Pijama velho. (9) Coberta, idem. (10) Cheiro de chuva. P – Como defenderia Nelson Gonçalves? R – Somente pela boemia. P – Qual o melhor dia para se aniversariar? R – 31 de fevereiro. P – Qual o assunto que escolheria para escrever um livro? R – A prostituição. P – Cite cinco figuras maiores da província. R – Roberto Freire, Prof. Antonio Fagundes (aturou-me oito anos), Woden Júnior, Leide Morais e Cascudo.

2ª entrevista. Nome: Walter Gomes. 24 anos, na época, redator-chefe deste jornal. P – Por que (e não por quem) os sinos dobram? R – Tocam para representar. Às vezes, a morte; em outras, a vida. P – Como se chama a cor que você nunca viu, mas sente? R – A cor das nebulosas. P – Qual o nome do barco que ainda não comprou? R – Alexandra. Será o nome de um barco ou de uma filha. P – Quando o silêncio do homem torna-se irresponsável perante a injustiça? R – No desespero. P – Qual foi seu melhor diálogo com a chuva? R – Blasfemar com ela. P – Qual o texto que você guarda de um telegrama que enviaria para seu filho? R – “Muitos não me entenderão. Mas você, sim”. P – Quando é que a vida mais fere? R – No desprezo. P – Qual o instante do perdão fingido? R – O instante após a humilhação. P – Qual a mágica para se enfrentar o cotidiano? R – Vivo o cotidiano como um eterno repórter. P – Quais os nomes que você retiraria do dicionário? R – Delação, irresponsabilidade, inveja, amigação, incoerente, autêntico, simpatia. P – Cite um verso que nunca leu nem existe. R – “Caminho para você sem pedir mas exigindo”. P – Afirme seus grandes momentos de felicidade. R – Quando meu filho me diz: “Papai, venha ver”. Quando minha mãe diz: “Meu filho, seja feliz”. E quando me reconheço numa reportagem. P – Quais são suas melhores admirações?  R – Getúlio Vargas. A caridade. A humanidade dos humanos. A surpresa das crianças. A coragem dos gangsteres. A paixão de Larry, personagem de “Fio da Navalha”, de Sommerset Maughan. Os sofismas de Carlos Lacerda. A irresponsabilidade dos ébrios. A grandeza de coração de meu pai. A resistência de Jorginho (jogador do ABC). O talento de José Dias de Souza Martins. O ser humano de Newton Navarro. O talento de saber ser só de Berilo Wanderley. Só Hernani Hugo. O coração de Woden Madruga. A grandeza de Cassiano Arruda. A simplicidade dos pobres. P – O que se guarda de Copacabana? R – A grande dimensão do mundo. P – Iremos todos para o Crato? R – Você irá sozinho. Eu, pelo menos, volto para Copacabana.

3ª entrevista. Nome: José Dias de Souza Martins. Quintanista de Direito, 25 anos de idade e que, brevemente, prestará exames para a carreira diplomática. P – O que você deve aos possíveis inimigos? R – Só assumo dívidas com o bem. P – Como definiria as domésticas? R – Ressalto seu humilde professorado de lirismo. P – A literatura representaria para você uma vocação? R – É uma necessidade de comunicação valorizada pela tirania da beleza. P – Qual o verso que desejaria ter escrito? R – Este, de Walt Whitman: “Mas, agora, de tudo dessa cidade, eu me lembro somente de uma mulher que casualmente encontrei e que me deteve por ter eu encontrado graças nos seus olhos”. P – Há algum lema em sua vida ou mesmo programa? R – Ainda não consegui programar o que não sei. Lema: convencer-me que a meta é infinita. P – Quando adolescente, nunca teve vontade de acompanhar um circo numa aventura? Por que? R – Foi meu primeiro sonho de herói. P – O que se deve dizer à mulher amada num reencontro depois de uma separação? R – Nesses momentos a gente emudece. Felizmente há o gesto. P – Escolheria para comprar, caso fosse milionário, um barco ou submarino? R – Barco. Para ver as nuvens beberem o mar. P – O caminho mais perto entre dois pontos não é a linha reta. É a linha curva. E entre duas lembranças? R – O divã do psicanalista. P – Realmente, o dinheiro ajuda? R – Acho o rei Midas o herói injustiçado. P – Por que as paredes molhadas pela chuva lembram a infância?  R – Lembram em mim a mais remota presença de Deus.

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