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‘Há motivos para abrir um processo de impeachment’, diz Eduardo Leite

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Como anda a conversa com o presidente nacional do DEM, ACM Neto, na construção dessa terceira via com o seu nome? Existe a possibilidade de incluir o MDB?
Eu teria uma ida a Brasília (quinta-feira, dia 08), que acabou sendo suspensa. Mas é uma reunião que está por ser marcada há  algum  tempo e a gente já conversou por telefone e pessoalmente em outras oportunidades, ACM Neto e eu, assim como outras lideranças. Falei com o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), com o presidente do Cidadania, Roberto Freire, e com a presidente do PODEMOS, Renata Abreu. Com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, temos conversado com outras forças que estão no centro democrático, longe dos extremos e dos polos, que estão aí se enfrentando. É legítimo que cada partido tenha aspiração de protagonismo no processo eleitoral. Então, é um processo de aproximação que é naturalmente lento. É legítimo que cada um busque protagonizar, que no DEM tenha um grupo que busque a candidatura própria através do ex-ministro Mandetta; que no PSD, Gilberto Kassab fale na candidatura  do presidente do Senado, o senador Rodrigo Pacheco (MG). Estamos há um ano e dois meses e pouco da eleição e cada um busca a condição de protagonizar o debate. O importante é que mantermos as conversas, dialogando com respeito para, se houver entendimento, no momento adequado, promover essa aproximação e uma aliança, porque o Brasil vai precisar não apenas para ganhar a eleição, mas, principalmente, para governar em uma composição em torno de uma agenda, não em torno de um candidato. Sempre fiz questão de não fazer alianças em torno do meu nome, porque não é sobre quem vai ser eleito, mas muito mais sobre qual é a agenda que vai ser levada adiante. É importante fechar apoiou em torno de uma agenda de transformação, que deve envolver reforma tributária para tornar o país mais simples para o empreendedorismo; que deve envolver combate às desigualdades, com programas claros de transferência de renda; promoção de dignidade da população através de programas consistentes de habitação e de saneamento; melhorias das oportunidades através da educação, que está sendo deixada de lado. No Brasil, o respeito à diversidade, não apenas da orientação sexual, mas de toda a população, e à sustentabilidade ambiental vai ter que entrar como foco e eixo principal de um plano de desenvolvimento para o país, na medida que é um tema mundial. O Brasil, com a mais rica biodiversidade do mundo, a maior área de floresta, tem de liderar esse tema. 
#SAIBAMAIS#O senhor acredita que esses partidos estão maduros o suficiente para encontrarem essa terceira via?
Há um ano e meio da eleição, nós temos como absolutamente legítimo que os partidos insistam em viabilizar as suas candidaturas, especialmente porque no momento não tem nenhuma alternativa despontando nas pesquisas de opinião. Não que pesquisas decidam eleições. Mas não tem nenhuma candidatura neste momento que possa se dizer viável para furar a polarização. Como eu disse, o importante é manter a disposição de dialogar e vejo essa disposição de compor no momento apropriado. Ao final deste ano e início do próximo, entendo que estará amadurecendo uma aliança política em torno de uma candidatura e de um projeto para o país.
O senhor já admitiu que errou em votar no presidente Bolsonaro em 2018. Avaliou se essa situação voltar a se repetir com o presidente enfrentando Lula no segundo turno? 
Todo o meu trabalho é na direção de evitar que isso se repita. O país não pode ficar nessa escolha [restrita].  Tivemos no país um desemprego recorde por conta de toda uma forma de governar que gastou mais do que podia [nos governos Lula e Dilma]. Quebrou o país. Arrebentou a nossa credibilidade e acabou forçando a elevação de juros. Uma falta de plano de desenvolvimento de longo prazo para o país, buscando consumir tudo no curto prazo para gerar uma percepção para a população de bem-estar. Foi mais ou menos o seguinte: Para se sentir bem no curto prazo, cavou um buraco muito grande mais à frente no caminho e o país foi jogado nesse buraco, no qual foi lançado em função de uma política econômica irresponsável, que se teve naquele tempo, especialmente, no segundo mandato de Lula. Do outro lado haveria a escolha do Bolsonaro que seria por manter esse nível de confronto de uns contra os outros, até de ataques à democracia e também a falta de uma agenda para o país. As pessoas não lembram nem o nome do ministro da Educação, que é o quadro mais importante nesse período de pandemia de coronavírus ao lado do ministro da Saúde, uma vez que a educação está sendo profundamente afetada pela própria pandemia. Não tem projeto de visão de futuro para o país, trata-se de alguém que ataca todas as instituições, Judiciário, governadores, prefeitos, Congresso Nacional e imprensa, porque quer exercer de forma autoritária o poder.  Está errado isso e o país precisa buscar serenidade e paz para botar energia, realmente, naquilo que importa. Se for para fazer a política do contra, não pode ser uns contra os outros, tem que ser contra a miséria, a fome e o desemprego, contra o poder pelo poder. Vou trabalhar tudo o que posso para evitar o segundo turno [com Lula e Bolsonaro] e tenho confiança de que encontraremos, na população, no seu sentimento, na sua mente e no seu coração essa mesma vontade. 
Hoje temos 14,8 milhões de desempregados. Qual a avaliação que o senhor faz da política econômica de Bolsonaro?
As circunstâncias são diferentes. Naquele momento do governo Dilma, eram 14 milhões de desempregados e o mundo estava crescendo. As economias emergentes crescendo mais ainda. O Brasil estava sozinho em recessão. Neste momento, a gente tem, e é justo dizer, uma crise mundial. O mundo entrou em recessão ano passado em função da pandemia, mas não estou aqui tirando a culpa e a responsabilidade do atual governo. Agora não posso comparar as circunstâncias, lá o mundo crescendo, os países emergentes crescendo mais ainda e o Brasil em recessão em 2015-2016. Agora uma crise mundial afetou através da pandemia e gera esse ambiente negativo no Brasil e junto disso uma atuação irresponsável do governo federal no enfrentamento da covid, também do ponto de vista sanitário, porque expôs às pessoas ao risco do contágio, simplesmente para sustentar o discurso ideológico do presidente, e nos fez perder vidas humanas, mais de meio milhão de brasileiros. Do outro lado a economia sofrendo mais do que deveria, na medida em que o governo gerencia de forma totalmente errada a própria pandemia e, consequentemente, a economia acaba sofrendo, a agenda de privatização não anda, as ações de responsabilidade fiscal não são tomadas para garantir equilíbrio nas contas, que gerem ambiente de credibilidade na confiança do futuro para o país.  Infelizmente, o Brasil paga um preço muito alto. 
Neste contexto, o senhor é a favor ou contra o impeachment do presidente Bolsonaro?
Eu tenho de guardar a responsabilidade de ser governador de Estado e falar em nome de 11 milhões e meio de habitantes. Sou cidadão, agente político, mas também governador para todos os gaúchos, tenho responsabilidade no pacto federativo em relação às minhas posições sobre esse tema. Os fatos são muitos graves, precisam de rigorosa apuração e parece ser inevitável a abertura de um processo para investigação, inclusive através de um processo de impeachment. Isso é diferente de defender o próprio impeachment, na medida em que precisa investigar conduta e dar oportunidade de defesa ao presidente. Mas o que temos até aqui, parece indicar a admissibilidade do impeachment, que é o primeiro passo do presidente da Câmara dos Deputados. Há razões suficientes para que submeta à análise, em um processo organizado através de comissão e depois no plenário da Câmara sobre a responsabilidade do presidente, sobre a irresponsabilidade na gestão da pandemia, e pior ainda, nestes dados tão graves em relação ao superfaturamento da compra de vacinas ou no direcionamento da compra de vacinas. 
No caso, então, o senhor é a favor da abertura do processo de impeachment? 
Estou dizendo que é a análise que faço a uma distância. Parece ter elementos suficientes para ser o caso de abrir o processo. Mas esse é um juízo de admissibilidade que cabe ao presidente da Câmara. No meu entendimento, o conjunto da obra não é apenas o superfaturamento da compra da Covaxin, trata-se da negativa da compra da Pfizer e uma gestão temerária da pandemia que expôs milhares de brasileiros, certamente, a um contágio que poderia ter sido evitado. O presidente optou por um caminho errado e isso também gera a possibilidade de análise da sua própria conduta, da responsabilidade na gestão da pandemia. Então, parece haver elementos suficientes. Agora, esse juízo quem faz é o presidente da Câmara dos Deputados.
Na sua opinião o presidente tem responsabilidade por uma parcela das mortes que aconteceram na pandemia?
Infelizmente, sim, na medida em que gerou confusão. Na pandemia se tem um único inimigo, o vírus. O inimigo é a covid-19, que tem de ser combatido.  O presidente optou por criar inimigos e divisões entre nós mesmos e entre a população, no momento em que deveria unir contra o vírus. Ele dividiu ainda mais a nossa já dividida sociedade brasileira por conta do estressamento do debate político simplesmente para sustentar o seu discurso ideológico. Isso é muito ruim e gerou, sem dúvida nenhuma, confusão e enfrentamento na própria sociedade e fez com que a população se expusesse mais ao risco, contrariou e enfrentou aquilo que foi mais consagrado mundialmente, as medidas de distanciamento social, uso da máscara, não aglomeração. O presidente foi na direção contrária. Foi mais do que omissão. Se tivesse simplesmente se omitido, já seria gravíssimo. Mas não foi só omissão. Liderou na direção contrária, atacou as medidas sanitárias que mundialmente são entendidas como as mais adequadas para preservar a vida da população.  
O PSDB é a maior bancada na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, mas deputados podem migrar para outro partido, porque haveria o interesse de apoiar candidato a governador mais alinhado ao bolsonarismo. Pretende fazer algum movimento para evitar a saída desses parlamentares, já que todo estado é importante para o ano que vem?
O Rio Grande do Norte é super importante, a cidade do Natal especialmente, onde há participação na Prefeitura e vamos trabalhar para que se evite a perda de quadros políticos, não apenas pela força para que o projeto do PSDB se viabilize nacionalmente, mas também por acreditar, felizmente, que o PSDB é um partido que consegue aliar uma visão econômica responsável de desenvolvimento e sensibilidade social, visão de inclusão e responsabilidade com as pessoas que mais precisam. Espero que a gente possa não ter perdas de quadros, não só no Rio Grande do Norte, como no restante do Brasil. Aqui no Rio Grande do Sul, e em outros locais, estamos visando o crescimento do partido, trabalhando filiações novas, além dos que já estão nas Assembleias Legislativas e Câmara dos Deputados. Espero dar a colaboração ao partido com um projeto nacional para que as pessoas se entusiasmem.
O senhor aceitaria em seu palanque o apoio do ex-governador Aécio Neves?
Sem dúvida nenhuma, o PSDB tem os seus problemas, eu fui a favor que se abrisse a Comissão de Ética para expulsão do ex-senador Aécio Neves, defendi isso, não me conformo que o partido não tenha sequer se disposto a debater o tema diante da Comissão de Ética. Acho que era o caso para a conduta que o ex-senador apresentou ali, mas [o partido] tomou a decisão de não fazer essa análise no âmbito da Comissão de Ética. Eu não tenho relação com o hoje deputado Aécio Neves, ele exerce o seu mandato, explica-se diante dos processos que tem, não tenho essa relação e não pretendo tê-lo na minha eventual campanha ou mesmo na pré-campanha dentro das prévias do PSDB.
O senhor já se posicionou contrário à reeleição e se não viabilizar sua candidatura a presidente, não vai concorrer à reeleição no Rio Grande do Sul?
Já não concorri à reeleição de prefeito em Pelotas, embora tivesse quase 90% de aprovação e isso pode ser atestado pelos 90% de votos que tive para governador em Pelotas, que é a terceira maior cidade do Rio Grande do Sul.  Já declarei que não serei candidato antes mesmo de qualquer especulação sobre uma outra candidatura. Então, desde o início do meu mandato de governador, sempre deixei claro que não concorreria à reeleição em qualquer hipótese. Não serei candidato [à reeleição]. E digo mais, se viabilizar um projeto nacional, também será de um mandato apenas, até porque entendo que o próximo presidente tem que ajudar a cicatrizar as feridas, a estabilizar o país, serenar os ânimos e se ele for para ser candidato à reeleição, no primeiro dia passa a ser atacado por bolsonaristas e por petistas ou lulopetistas. Acho importante trazer o debate para o que realmente interessa na vida das pessoas e a gente possa ajudar o país a voltar para o bom-senso. Uma candidatura à reeleição do futuro presidente da República atrapalharia nesse processo, entendo que o próximo presidente possa ter um mandato apenas, se for sob a minha liderança. Terão essa garantia na medida que já cumpri como prefeito, vou cumprir como governador e pretendo cumpri-la, eventualmente, se esse projeto se viabilizar. 
Contra ou a favor do voto auditável?
Não há elementos nenhum para sustentar que se faça uma mudança do processo eleitoral. Parece ser muito mais a tentativa de criar confusão, do presidente Bolsonaro especialmente. Não acho que seja a intenção de todos que defendem. Muitos defendem com legitimidade e com razão o voto auditável. Parece algo interessante, inicialmente. Por que não auditar? Por que não imprimir os votos? Só que já foi feito teste no passado. O processo da impressão do voto é mecânico. Quantas pessoas foram comprar algo com cartão e a maquininha comeu o papel, enrolou, deu problema na bobina, a tinta não imprimiu. Quantas vezes isso acontece na impressora dentro de casa. É um inferno a relação com a impressora, sempre trava, corta papel.  Esse processo mecânico promete dar muito problema. Parece que o presidente e sua claque defendem esse processo, não efetivamente querendo o voto auditável por desconfiança do processo eleitoral, porque durante 30 anos o presidente foi eleito deputado com esse processo eleitoral eletrônico. E os filhos [do presidente] foram eleitos, deputado, senador, vereador, com esse processo que ele está contestando e com o qual foi eleito.  Ele quer uma história, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Se viabilizar o voto impresso, vai dar problema nas impressões, vai levar tempo para auditar, abre espaço de tempo para a aumentar a contestação, ficar semanas pedindo recontagens e aí vai se criando um clima ruim em relação ao processo eleitoral. Se não viabilizar o voto auditável, eles vão ter o direito de ficar questionando se houve fraude dentro da mesma estratégia de Donald Trump. Não é nenhuma novidade isso, a gente viu acontecer nos Estados Unidos, uma tentativa de questionar a legitimidade dos votos.  Então, é especialmente perigosa essa alteração de modelo do sistema eleitoral de votação com Bolsonaro, que é alguém que contesta e ataca todo o sistema, o STF, o Congresso, a imprensa, os governadores, todo mundo. Todos estão errados. Está sempre vendo uma conspiração. E ele quer criar confusão a todo momento.

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