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“Há um prenúncio espetacular para o homem do campo”

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»entrevista» Marcos Aurélio de Sá – presidente da Associação norte-riograndense de criadores (ANORc)

Andrielle Mendes – Repórter

O setor rural está mais otimista. As chuvas, observa Marcos Aurélio de Sá, criador e presidente da Associação Norte-Riograndense dos Criadores (Anorc), voltaram a cair em algumas regiões, e as pastagens voltaram a se formar, sobretudo próximo do litoral. Alguns produtores, observa, já pensam até em recompor as perdas que sofreram, em termos de rebanho. É nesse cenário que a Anorc promove a 51ª Festa do Boi, que começou ontem e segue até o dia 20 de outubro, no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim. O evento de negócios, que é o maior do estado segundo a associação, marca, na ótica de Marcos, a recuperação do setor. O caminho a ser percorrido, no entanto, é longo. Pesquisa divulgada na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o Rio Grande do Norte foi o estado do país que registrou a terceira maior redução do rebanho bovino entre 2011 e 2012.
O presidente da Anorc, Marcos Aurélio de Sá, fala sobre a “penúria” criada pela seca, sobre recuperação, crédito e Festa do Boi
Como o senhor analisa o momento vivido pelo setor?
O clima é de otimismo. Temos convicção de que a seca chegou ao fim. Embora ainda esteja presente em algumas áreas do estado, como no Sertão, as chuvas foram extremamente benéficas no Litoral e no Agreste, e livraram a região do sufoco que foi o ano de 2012. Formou-se muita pastagem, os produtores rurais estão com muita disposição para ampliar os rebanhos, e cuidar da melhoria genética dos seus rebanhos. E a Festa do Boi vem justamente para atender a essa necessidade de proporcionar a melhoria do rebanho.

Isso não ocorreu no ano passado, em função da seca…

Não. O setor estava em situação de penúria, com o rebanho sendo dizimado. Em várias regiões do estado, a mortalidade se abateu sobre os animais e as propriedades ficaram sem recursos para manter os seus animais.

Esse otimismo pode se refletir em mais negócios durante a Festa do Boi?   
Exatamente. Embora não seja uma certeza absoluta, existe uma expectativa por parte do agropecuarista do Nordeste que os anos que terminam em quatro são anos de bom inverno. Isso é um fato concreto nas últimas cinco, seis décadas. Há uma crença de que isso vá acontecer em 2014. Para alimentar ainda mais esta expectativa positiva, saiu uma notícia de que a chuva já está voltando ao interior da Bahia, ao sul do Piauí, do Maranhão. Tudo isso é um prenúncio espetacular para o homem do campo.
Marcos Aurélio de Sá é criador de gado e presidente da Anorc. Está em seu segundo mandato à frente da associação
Dois mil e quatorze pode marcar a recuperação das perdas provocadas pela seca no RN?
No Sertão, nas regiões Central, Seridó, Alto oeste, Trairi ainda há muita dificuldade, porque os próprios reservatórios de superfície estão com só 25%, 30% de água disponível. É muito grave ainda a situação do Sertão Norte-Riograndense. Mas no Litoral e no Agreste a situação já é de mais confiança. Existe muita pastagem e os proprietários já pensam na recomposição dos rebanhos. Por esse motivo muitos selecionadores e criadores de outros estados estão trazendo gado a Festa do Boi. Fazia tempo que na Festa do Boi não se conseguia vender todos os espaços dos pavilhões reservados aos animais puros de origem. Isso é um sinal muito bom. Veio gado de Pernambuco, Ceará, Paraíba, e até de fora da região, como  Minas Gerais, São Paulo, Paraná.

O estado se tornou área livre de febre aftosa com vacinação recentemente. Isso contribuiu para vinda de gado de fora da região?
Isso. Mas embora sejamos considerados zona livre de aftosa com vacinação, ainda há restrições quanto a entrada e saída de gado do estado. A quarentena, por exemplo, continua sendo necessária, porque o órgão de defesa animal do estado ainda não está devidamente estruturado para obedecer todas as determinações do Ministério da Agricultura, quanto a defesa da saúde animal. Apesar disso, selecionadores do Sul e Sudeste decidiram participar da feira assim mesmo.

O número de animais expostos durante a feira esse ano também é maior, em virtude desse otimismo?
Sim. Vamos expor este ano uma quantidade recorde de animais. Vamos expor em torno de 6 mil.

Qual o maior número já exposto?
Algo em torno de 4,5 mil.  Isso considerando bovinos, equinos, caprinos e ovinos. Geralmente os leilões de cavalos quarto de milha criados para vaquejadas são os leilões que obtém o maior faturamento na Festa do Boi.

Por falar em leilão, qual a expectativa com relação a geração de negócios?
Há um grande volume de negócios que nasce na Festa do Boi e só vem a se concretizar depois.  Mas a gente imagina que a Festa do Boi deverá movimentar em torno de R$ 100 milhões este ano. Um pouco acima do ano passado, quando se movimentou entre R$ 60 milhões a R$ 70 milhões.
Formado em Direito pela UFRN em 1971, Marcos Aurélio de Sá cursou especialização em Jornalismo também pela UFRN
Quem está patrocinando a festa este ano?

A Festa do Boi é um evento muito caro. Esse ano a previsão de custo para promoção ultrapassa R$ 1 milhão. E a Anorc para conseguir recursos para a realização da feira conta com alguns patrocinadores. O maior deles é o governo do estado, que até agora não liberou nenhum centavo. Havia um compromisso de o governo liberar R$ 380 mil, mas até agora nada foi empenhado.

Em entrevista concedida recentemente à TRIBUNA DO NORTE a Anorc afirmou que o atraso no repasse não prejudicaria a festa. Essa posição se mantém?
A Anorc saiu à procura de outros patrocinadores. Tem o Sebrae, o BNB e a Caixa Econômica  e os eventos dentro da feira que a Anorc terceiriza. Isso gera uma receita e ajuda  a cobrir os custos.   Todo mundo paga uma taxa. Somando tudo isso a Anorc espera conseguir o suficiente para cobrir os custos da feira e investir na conservação do parque, que a Anorc administra em regime de comodato desde o final da década de 80.

Esse custo vem se mantendo ou subiu no último ano?

Esse custo tem se mantido. Esse ano a gente conseguiu enxugar um pouco esse custo, justamente porque não sabíamos se teríamos ou não o patrocínio do governo. A gente ficou receoso de deixar o custo aumentar, então despesas foram cortadas, outras reduzidas.

Ou seja, o custo foi maior?
Já. Ano passado foi maior.

Quanto?
Não me recordo, mas foi um pouquinho apenas.

Quais os custos com a manutenção do parque?
 Cerca de R$ 35 mil a R$ 40 mil por mês. Por isso precisamos ter saldo em caixa, para poder manter o parque dentro do padrão.

Porque a Anorc está tão otimista com relação a feira deste ano?
Há uma disponibilidade maior de crédito rural este ano. Os bancos estão realmente muito abertos ao agronegócio, com volumes disponíveis muito altos e com juros mais baixos. A maioria dos bancos vai trabalhar com taxas de até 3,5% ao ano.

Mas o endividamento rural não freia um pouco a concessão de crédito?
Sim, mas os bons agropecuaristas que zelam por seu crédito não terão dificuldade para conseguir financiamento. Mesmo assim houve reabertura para a renegociação das dívidas, o que abriu novos caminhos para aumentar o volume de financiamentos.
Marcos Aurélio foi diretor do Jornal de Hoje, é professor aposentado do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da UFRN, além de fundador da revista RN Econômico e do jornal Dois Pontos
Quais são, na sua opinião, os principais obstáculos à atividade agropecuária no estado?
O problema número um é a questão climática, que torna o trabalho do produtor rural no Nordeste muito mais penoso do que em outras regiões que possuem clima mais seguro. De repente chega uma seca como essa e isso desmantela um pouco a estrutura dos estabelecimentos rurais do estado. Agora isso não quer dizer que a pecuária potiguar está inviabilizada. Não. O RN tem um potencial de áreas irrigáveis muito bom, que pode representar até mais 20% do território estadual, por que se encontra água no subsolo. É claro que para retirar essa água é preciso dinheiro, e nosso produtor está descapitalizado. Não tem recursos e nem sempre arrisca tomar empréstimo em bancos. Também falta um pouco mais de conhecimento técnicos do nosso produtor rural para tirar proveito do sol. Se você irriga e sabe que terá sol, sabe que a plantação crescerá mais rápido. Mas ainda não despertamos para fazer o devido aproveitamento das vantagens que a natureza nos oferece. Eu acho que a cada ano que passa mais produtores rurais vão despertando para essa necessidade, até por verem o desenvolvimento de quem está fazendo.

Foi essa a lição deixada por essa última seca?

Eu acho que essa seca serviu de lição para muita gente e muita gente aprendeu.

O estado se tornou agora no fim do ano área livre de aftosa com vacinação. Que impacto isso teve ou terá para a economia do estado, agora que as chuvas estão voltando?

Esses efeitos vão demorar um pouquinho. A previsão é que em maio do próximo ano os estados do Nordeste sejam considerados área livre de febre aftosa com vacinação internacionalmente. Para a OIE conceder essa certificação, a entidade realizará uma auditoria nos estados e todos terão que comprovar que estão operando dentro das exigências desse órgão, ou seja, tem que ter barreiras, cadastro das fazendas, e aqui no RN esse trabalho está atrasado. O governo do estado não disponibilizou os recursos que prometeu para o órgão de defesa animal para implantar essas barreiras. Estamos aguardando que isso seja feito até o final do ano, para que quando vier os auditores, tudo esteja pronto. Alertamos o governo de que não podemos descuidar disso, porque podemos até atrapalhar o Brasil na busca por esse selo.

Como a obtenção desse selo internacional beneficiaria o RN?
Com ela o Brasil obtém sinal verde para exportar carne para vários países.

E o RN?
O estado passaria a se integrar completamente ao mercado nacional, podendo exportar gado para qualquer país.

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