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Hannibal emerge como o ventre da serpente nazista

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Valério de Andrade – Crítico do VIVER

Em “O Silêncio dos Inocentes” assistimos o advento de um criminoso diferente de outros vilões – diferente, não por ser psicopata e superinteligente, mas pelo canibalismo. Sucesso de público e crítica, laureado com o Oscar de 1991, o filme gerou duas continuações, e, agora, esta, “A Origem do Mal”.

Nenhum desses filmes suplantou a obra original dirigida por Jonathan Demme e magistralmente interpretada por Anthony Hopkins. O que diferencia a continuação atual das anteriores é o fato de mostrar e explicar porque Hannibal virou uma fera humana. Sem ser melhor ou pior, é o filme atual, porém, é mais interessante – e o mérito aí cabe mais ao escritor Thomas Harris do que ao diretor Peter Webber.

Como diz Freud, o que aconteceu na infância não se esquece e se faz presente na vida adulta. O menino Hannibal foi vítima do horror da guerra, e, em particular, das atrocidades dos soldados nazistas. Sua casa na Lituânia foi destruída, os pais mortos, e, o mais chocante, a irmã menor, Misha, vítima do canibalismo dos soldados alemães. Criado em orfanato russo, sofre horrores, foge, freqüenta a faculdade de medicina de Paris – essa revelação explica os seus conhecimentos sobre a anatomia humana.

Em Paris, o jovem Hannibal começa a cumprir o que prometera a si próprio: vingar-se dos assassinos de Misha. Com a espada de Samurai no lugar do revólver, Hannibal vai à caça dos criminosos de guerra. A personagem mais estranha, e também, deslocada na história, é a japonesa sobrevivente de Hiroshima, que Hannibal encontra em Paris. Ela é viúva do irmão de seu pai, e, no encontro desses órfãos da guerra, nasce uma relação afetuosa, numa evocação simbólica de a bela e a fera.

A criança que havia em Hannibal foi transformada em fera pelos alemães, antes dele virar adulto. O trauma da infância deixou-o mudo, por alguns anos. Na analogia com os matadores de sua irmã, ele emerge como o ovo da serpente nazista. Como sobrevivente de um holocausto familiar, vai à caça dos assassinos, antecipando-se, cronologicamente, à política punitiva de Israel.

Explicada e justificada no roteiro a origem do Mal, cabia à direção fazer com que o espectador ficasse ao lado de Hannibal. E isso acontece porque os algozes de Misha não são dignos de piedade, e, diante da impunidade, o imaginário coletivo acolhe como a figura do vingador. Hannibal é um monstro, mas também um justiceiro.

Fisicamente, Gaspard Ulliel ajusta-se ao perfil psicopático e atormentado de um juvenil Hannibal Lecter. Destaca-se mais pela coorporificação do que pela interpretação. A mais popular estrela chinesa no Ocidente, Gong Li, faz o papel da enigmática Murasaki, responsável pela introdução de Hannibal a tradição religiosa japonesa – é dos antigos heróis que ele herdou a espada letal dos samurais, assim como a frieza.

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