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Héber Roberto Lopes: “Árbitro de futebol também é ser humano”

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Felipe Gurgel – Repórter de Esportes

Quem esteve em Natal durante a semana, foi o árbitro paranaense, Héber Roberto Lopes, de férias. Mas, ele foi pego de surpresa por uma convocação da CBF, para realizar uma bateria de testes físicos, visando a Copa das Confederações e Copa do Mundo de 2014. Logo após o teste, ele concedeu uma entrevista para a TRIBUNA DO NORTE e falou sobre a vida de árbitro de futebol. Disse que apoia, com restrições, o uso de tecnologia no esporte, que sonha com em participar do Mundial no Brasil , elogiou o trabalho da imprensa e falou, também, sobre o delicado momento que a arbitragem viveu durante o episódio conhecido como a Máfia do Apito.
Héber Roberto Lopes foi pego de surpresa por uma convocação da CBF, para realizar testes físicos, visando a Copa das Confederações e Copa do Mundo de 2014
Como você analisa o cenário da arbitragem, não só no Brasil, como no mundo inteiro?
As exigências da FIFA estão muito acentuadas. Basta você ver que dois grandes nomes da arbitragem brasileira (Leandro Pedro Vuaden e Wilson Luís Seneme), pessoas consagradas em decisões nacionais, internacionais, participações em mundiais, foram reprovados nos testes físicos. Então, um conselho que dou para a garotada que está chegando agora é que aprimorem a parte física.

Os testes são difíceis?
Não é um teste difícil. Na verdade, você não pode nem dizer que isso é um teste. Faz parte do seu treinamento. Vocês puderam acompanhar e viram que o presidente da Comissão de Arbitragem local, coronel Ricardo Albuquerque esteve presente, e o presidente da Comissão Nacional, coronel Aristeu, acompanhou tudo via satélite o tempo que estou fazendo aqui. É muita pressão, mas, faz parte do nosso metiê. Entramos em campo com os estádios lotados e a pressão é constante. Estamos passando por uma renovação, no Brasil, na arbitragem e sempre digo que os jovens aproveitem. Temos grandes árbitros se aproximando do limite de idade da FIFA (que é de 45 anos), e a renovação está sendo feita. Nesse processo, temos que nos adaptar.

Mas, existiram erros durante essa temporada?
Tivemos sim, alguns erros durante o campeonato, mas, os times que se sentiram prejudicados, também foram beneficiados. É uma coisa natural, dentro de um contexto geral da competição. Erros que acontecem comigo, com Seneme, o Vuaden, com o Ítalo, enfim, com qualquer árbitro. Nós estamos passíveis a isso. É lógico que tivemos alguns erros mais graves, por conta da má interpretação da regra do jogo. Mas, isso faz parte dessa renovação. Como o companheiro, às vezes, é mais novo, tem um certo acanhamento, até se acostumar com a nosso profissão. Acredito que tivemos esses problemas, mas, de um modo geral, estamos acima da média.

Os árbitros se sentem incomodados com as críticas que recebem, não só das torcidas, como da imprensa?
Se você me fizesse essa pergunta há seis, sete anos, lhe responderia de uma maneira diferente, acanhado, chateado. Agora não. Estou um pouco mais vivido no futebol. Cursei um ano de jornalismo e estou pensando em retomar a faculdade. O que notamos é que a imprensa, de uma forma geral, não mostra apenas os erros. Vocês estão mostrando também os nossos melhor, os acertos. Quando acertamos, ficamos felizes em abrir o jornal, escutar o rádio e assistir a televisão e receber elogios.

E nas críticas?
Falando de uma maneira geral da imprensa, quando vocês tecem algum comentário criticando a atuação dos árbitros, algum comentário de forma negativa, no nosso ponto de vista, que a gente se sente acanhado, acredito que isso tem que servir como referência para nós, árbitros, procurarmos melhorar dentro de campo. Isso vai servir para que, um dia, esse mesmo profissional que criticou, possa dizer que o árbitro melhorou. Hoje eu vejo de uma maneira diferente. A imprensa está para nos ajudar e mostrar também, quando a gente acerta. Mas, ficamos chateados sim, quando erramos. Eu, pelo menos, fico. Mas, tudo isso vamos adquirindo com o passar do tempo, com maturidade. Mas, de maneira geral, eu vejo que a imprensa vem sendo amiga do árbitro e sendo verdadeira em comentar os fatos verdadeiramente, já que não foi um ano simples para arbitragem no Brasil.

O caso Edílson Pereira, em 2005, dificultou o trabalho da arbitragem?
Não gosto nem de citar o nome desse cidadão. Esse rapaz não prejudicou apenas a arbitragem, mas os seus familiares. Vimos pessoas da família dele dando entrevistas. Cheguei a chorar quando vi uma filha dele falando na televisão. A mãe dele falando do filho, pensando que futebol não passava de uma brincadeira e futebol é um negócio muito sério. Futebol é para pessoas responsáveis. Esse rapaz deixou uma mágoa muito grande, para nós, companheiros

Você o conhecia pessoalmente?
Viajamos juntos. Em jogos da Libertadores, ficamos no mesmo hotel, fizemos testes na Granja Comary, onde todos os árbitros FIFA se reúnem. Convivemos com a pessoa e em momento algum você espera que um companheiro teu esteja em uma situação dessas, de envolvimento com pessoas ilícitas. Na arbitragem, acredito que a CBF já fazia um trabalho de inspecionar os documentos que cada árbitro tem que entregar no começo do ano.

Como assim?
No começo de cada temporada, os árbitros são investigados para saber se estão no SPC, Serasa, se tem algum envolvimento com jogo, apostas. Todo esse mapeamento é feito. E agora, a CBF tem um departamento só para esse tipo de situação, que é o Edson Rezende, delegado aposentado da Polícia Federal, que é de Brasília, que está conosco na comissão nacional de arbitragem, que está à frente de todo esse mapeamento, que a gente nem imagina. Nossos telefones, com certeza, devem estar “grampeados”, o nosso dia-a-dia, nossa vida social, nossas contas bancárias, podem estar sendo mapeadas. Mas, acredito que isso seja positivo, porque a pessoa não tem que ter nada ilícito. Desde que esses dados fiquem para a CBF. Isso não pode se tornar público, porque pode ter algum companheiro nosso com uma situação financeira melhor e pode sofrer algum tipo de problema.

Foi difícil para os árbitros na época da Máfia do Apito?
Foi muito complicado. Mas, o mais triste é quando entrávamos em campo. Qualquer deslize que tivéssemos, nem que fosse um arremesso lateral, um tiro de meta, uma jogada menos aguda, que o árbitro errasse, já era chamado de Edílson. Ficou muito chato isso e levou um bom tempo para se apagar. Mas, peço a Deus que ele repense no que fez. Que ele procure seus caminhos e quando subir para o andar de cima, que converse com o Homem e se explique melhor pelo que fez aqui embaixo.

Você já sofreu alguma tentativa de suborno?
Sou tido na arbitragem como meio louco da cabeça. Sou mais rigoroso, me policio muito. Quando chego ao vestiário procuro saber de tudo, porque uma porta, que devia estar fechada, está aberta. O árbitro tem que policiar. Mas, graças a Deus, nunca passei por esse tipo de situação e sou muito grato pelo respeito que tenho no futebol. Então, acredito que você tem que se policiar. Se não, pode ser que surjam algumas propostas indecentes. Mas, nos meus 18 anos de arbitragem, nunca dei brecha para esse tipo de situação. Até nos vôos, no hotel onde vou ficar. Sempre procuro modificar e não ficar nos mesmos sempre. Se possível, ficar na casa de um amigo, para não saberem onde você está. Ficar isolado faz bem, mas o árbitro não pode ficar distante do que o jogo representa para aquela cidade, aqueles times. Mas, tudo depende do profissional. Se ele for meio frouxo, pode acontecer. Mas, comigo, nunca aconteceu. Acho que é por causa do rigor que levo a arbitragem.

Falando em policiar, hoje em dias, nos jogos, são várias câmeras espalhadas pelo campo. Isso dificulta o trabalho de um árbitro?
Dificulta. Sou a favor do recurso eletrônico dentro de uma partida de futebol. Uma situação de um pênalti. Não para saber se foi falta ou não e sim para saber de foi dentro ou fora da grande área. A bola entrou ou não entrou. O jogador estava impedido ou não. Sou a favor em situação relacionadas com o posicionamento. E também, não a toda hora. Podemos usar o tênis como exemplo, que eles usam duas revisões de bola.  Sou a favor sim, de a tecnologia ser inserida no futebol, nesse tipo de situação. Não podemos parar um lance para saber se foi mão ou não. Tem que ser em relação ao posicionamento

Os árbitros procuram saber se erraram depois do jogo?
Hoje temos várias ferramentas. Quando chegamos ao hotel, procuramos. Durante o jogo, nunca. É proibido pela CBF, qualquer tipo de contato com o mundo exterior, durante a partida. Mas, todo mundo tem que entender que árbitro de futebol também é ser humano, e somos passíveis de erros.

Pensando no futuro, Copa do Mundo é seu sonho?
Para você ver, a CBF pediu e vim fazer um teste. O soldado tem que estar pronto para a guerra. Temos que estar sempre preparados. O objetivo, sem dúvida, é esse Mundial no Brasil, até porque, pela idade, não alcanço a de 2018. A de 2014 é a minha última chance.

O lado ruim é que, se você for o árbitro da final da Copa, quer dizer que o Brasil foi eliminado…
Me contento, primeiro, em participar dessa pré seleção. Em relação a isso, peço para que Deus nos guie até uma quarta de final ou uma semifinal.

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