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Herculano Azevedo: “Sempre partimos na frente”

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Assistindo a grandes concorrentes pousarem em seu quintal, a Uvifrios não se intimida e sabe onde atacar. Para Herculano Azevedo, que está à frente da companhia, o calor humano ao qual o nordestino está acostumado é a receita que as multinacionais ainda não aprenderam. Ele diz que, além de contar com este diferencial, a Uvifrios ainda tem muitos espaços a preencher no Rio Grande do Norte e, por enquanto, não pretende partir para outros estados. Nesta entrevista, o empresário fala sobre estes e outros detalhes da empresa e do mercado, além de comentar sobre sustentabilidade e inflação de alimentos – dois assuntos sobre os quais Azevedo lança um olhar crítico e que, para ele, merecem uma análise mais cuidadosa.

Como está hoje a Uvifrios?
Hoje a nossa atuação é bem versátil, diferente de outras distribuidoras atacadistas. Trabalhamos com lojas de auto-serviço, que temos em Natal e Mossoró, e com pré-venda, na qual você tem uma equipe de vendas que cobre todo o estado. A cobertura ela é feita de forma separada. Tem uma equipe que atua no food service, que abrange desde o vendedor de cachorro-quente a melhor hotel. E outra equipe que trabalha para todo o varejo, da pequena mercearia ao grande supermercado. Hoje temos uma carteira de clientes ativa de oito mil clientes.

A Uvifrios é um atacado, que geralmente são voltados para empresas. Mas pessoas físicas também podem comprar?
Pode sim, inclusive com vantagem financeira que gira entre 15% e 20%. Nós não cobramos nenhuma taxa para isso, o acesso é livre para qualquer pessoa. É a lei de mercado. Você não pode impedir que uma pessoa física entre no seu estabelecimento. Não focamos esse cliente porque nosso alvo hoje é o comerciante food service e comerciante varejista.

Quando se fala em food service se fala em alimentação fora do lar?
É prestação de serviços para atividade transformadora. Quem trabalha com cachorro-quente, por exemplo, pega a salsicha, dá um cozimento, joga o molho e transformou. O que queremos ter é a disponibilidade de produtos e serviços voltados a esse público e desenvolver cada vez mais facilidades. É uma parceria junto com nosso cliente, na prática, para agregar valor ao negócio dele.

Quais são os planos para o futuro? Incluem expansão para outros estados?
Temos planos de nos fortalecer ainda no Rio Grande do Norte, porque nós enxergamos espaço nessa atividade. O turismo está aí, crescendo a cada ano, e, junto ao turismo, cresce toda uma gama de oportunidades onde podemos explorar cada vez mais o conceito de food service. O RN é destaque hoje em nível regional e em nível nacional. Se tem gente vindo para cá para explorar, porque não fazemos nosso dever de casa? (risos) Para este ano, a idéia é expandir, fazer um trabalho mais forte ainda na área de pré-vendas, como também planejar a expansão de lojas de auto-serviço. Temos uma loja em Natal e outra em Mossoró. Estamos planejando mais uma em locais que ainda serão definidos.
 
Qual foi o crescimento da Uvifrios no ano passado?
O crescimento real que tivemos foi de 7%. Dentro das expectativas. Não com a rentabilidade esperada, mas o crescimento existiu. Devido à concorrência, a rentabilidade está ficando um pouco apertada.

Estamos assistindo a uma explosão de supermercados em Natal, que gera uma concorrência acirrada. Então no atacado também há essa concorrência?
Termina sendo uma conseqüência. Porque eles acabam tirando vendas dos nossos clientes, o que acontece com todos os atacados da capital. Nós procuramos ter um trabalho diferenciado, tanto em nível de serviços, quanto de marcas exclusivas e próprias, para gerar um diferencial. Para disputar o mercado com grandes corporações, que têm poder de barganha gigantesco, você tem que tentar criar diferenciais, agregando valor. Na realidade, a Uvifrios está planejada para ser uma empresa de atacado com diferenciais. Nós não queremos, nem podemos, concorrer com empresas do porte das que estão chegando no estado, de nível internacional. Agora, podemos concorrer, sim, com diferenciais que elas não praticam.

O senhor pode dar um exemplo? 
Por exemplo, nossas lojas de auto-serviço são de atacado. Então, o concorrente não é o varejo, é outro atacado, qualquer que seja, que tenha loja de auto-serviço. Só que nossas lojas têm serviço, calor humano, as pessoas são tratadas pelo nome, você consegue até ter atendimento personalizado. Além de uma gama de serviços, o menino que leva toda a mercadoria no carro, embalagem, fatiamento de produto sem custos, centro técnico com profissionais para dar orientação de cardápio, de custo/benefício. Temos procurado criar diferenciais competitivos. No estado, somos a única empresa de atacado voltada para food service, o que é uma tendência, porque, cada vez mais, a alimentação fora de casa está crescendo bastante. Hoje você não tem disponibilidade de uma empregada doméstica, não tem conciliação de horário na família, o trânsito de Natal – como de qualquer outra cidade – está ficando cada vez pior…

Em relação aos mercadinhos, que estão entre seus principais clientes, como o senhor avalia o desempenho dele nesse cenário de “boom” dos supermercados e hipermercados? Os mercadinhos também estão crescendo ou sofrem com essa concorrência?
Os mercadinhos continuam com seu espaço, devido a uma cultura do Nordeste de atendimento caloroso. No mercadinho de bairro, o cliente conhece o dono. Além do mais, tem essa questão do deslocamento, porque para qualquer pessoa hoje o deslocamento é caro. Seja para quem tem transporte ou para quem não tem. Para quem tem, tem todo um desgaste de congestionamento, do estacionamento. Para quem não tem, há o esforço físico e o gasto. Eu acredito que o mercadinho de bairro vai estar fortificado. Também tem gente que dá a opção ao pequeno pela agilidade. Você entra em um mercadinho e é atendido rapidamente. Você entra em uma loja de 10 mil metros e demora uma hora.

E a política de preços agressiva que muitos praticam?
Essa questão do preço foi sempre e permanecerá como uma questão secundária, principalmente  em uma economia como esta que estamos vivendo. Porque ninguém vai conseguir vender sempre 100% mais barato que o outro. O diferencial é as ofertas. E oferta um faz, outro faz e ninguém mais tem tempo de estar garimpando ofertas, porque, no final, a diferença é mínima em relação ao custo.

Mas o senhor acha que essa coisa dos mercadinhos vale para todas as classes ou fica restrito às menos favorecidas?
Acho que vale para todas. Tem muitas pessoas de classes A e B que fazem questão de passar no mercadinho, na padaria, quando vão pra casa, porque faltaram dois, três, quatro produtos em casa. Há uma série de vantagens que a venda dos bairros vai estar sempre levando. E está crescendo também a transformação de alimentos nesses estabelecimentos. Você chega, tem uma sopa, um sanduíche um cuscuz… Além do mais, a concorrência é muito saudável, porque gera aprendizado, a busca, a preocupação de estar sempre qualificado, atualizado.

E para a Uvifrios? O que a concorrência trouxe de aprendizado e melhorias?
A preocupação com a primazia. Sempre querendo ser uma empresa de vanguarda. E isso sempre fez parte do perfil da Uvifrios. Sempre partimos na frente e hoje temos uma empresa superatualizada em qualquer aspecto. Temos uma equipe de profissionais qualificados e buscando sempre estar antenado a tudo o que acontece em nível nacional e mundial.

Por falar em estar antenado e em tendências, se fala muito hoje em sustentabilidade e preservação do meio ambiente. O senhor nota, na Uvifrios, demanda por esses produtos que seguem a linha ecologicamente correta? Ela aumentou ou ainda está muito restrita a São Paulo e a discursos?
Para nós, esse discurso não pode ser só aquela coisa que tenha um tom de hipocrisia e usado mais como fachada da empresa, enquanto ela não pratica nem 1% daquilo que diz. Acho que a coisa tem que ser bem realista. Ainda é uma coisa que precisa de mais informação. A população precisa de mais informação, porque hoje está apenas enchendo os olhos com  as propagandas que estão sendo elaboradas com intuito de resultado financeiro e não ecológico. Nós vemos isso como uma questão muito séria e nós não temos o menor interesse de estar fazendo propaganda enganosa sobre esse assunto. Não dá pra levar esse assunto apenas em nível de marketing.

Sobre a relação desse assunto com os produtos, há aumento da demanda por esse tipo de alimento, livre de transgênicos, de agrotóxicos?
Muito pouco. Embora não venha ao caso, mesmo os produtos light e diet ainda fazem confusão na cabeça do consumidor. O consumo desse tipo de produto ainda é pequeno. E, no caso de assuntos voltados à sustentabilidade, esse é que ainda não existe demanda. Estou sendo muito franco, não existe essa demanda. Quem está pregando essa demanda já é querendo fazer um mercado futuro, mas para agora não existe.

Então o senhor acha que, na hora da compra, as pessoas ainda não valorizam tanto detalhes como alimentos orgânicos, embalagens recicláveis, conceitos tão em voga na mídia?
Não. Você vê nos supermercados. Se houvesse uma demanda interessante, o espaço seria maior, mas você pode ver que aqueles produtos estão ali só por obrigação de ter. O que falo é precisamos ter ações reais. Por exemplo, hoje na Uvifrios, todo o papel utilizado, que é uma quantidade significativa é papel reciclado. É um passo pequeno, mas é um passo consciente de que nós nos preocupamos e não apenas dizemos que estamos nos preocupando, como você pode ver várias empresas que fazem encartes maravilhosos mostrando como cuidar da natureza, em vez de cuidar e mostrar que está cuidando. Não temos interesse de ficar anunciando o que fazemos nessa área, queremos simplesmente fazer porque temos essa consciência de que é importante, e não de ficar dizendo que está fazendo.

Então é algo para um futuro breve, mas ainda não é uma realidade como se prega na mídia?
Ainda não. Na realidade, aqui dentro, na proposta de food service, como está sendo desenvolvido um trabalho técnico, você tem profissionais contratados que fazem a elaboração de alimentos mais preocupados com a questão da saúde, que está mais em evidência do que sustentabilidade. Aliás, sustentabilidade parece um modismo. De três, quatro meses para cá, bancos, todo mundo se preocupa, mas parece ter mais uma conotação de moda e de política. Mas hoje o que para nós é uma realidade é o desenvolvimento de produtos saudáveis, que tenham uma garantia em nível de segurança alimentar.

Falando em economia local, na semana passada, a TRIBUNA publicou uma matéria mostrando que o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), inflação medida pelo Idema em Natal, voltou a crescer, puxado principalmente pela alimentação, que é o grupo que mais pesa nas despesas e que foi o que mais aumentou no ano passado. O que houve, na opinião do senhor, que trabalha diretamente com alimentos?
Sinceramente, às vezes você fica confuso com algumas informações que são passadas. O que acontece hoje com a alimentação é que os produtos têm sazonalidade. Você tem tipos de preços na alta e outros na baixa. E, às vezes, acho que isso pode ser confundido, porque o produto aumenta de preço e depois baixa, retornando aos níveis normais. Existe também hoje uma questão natural que é que o cliente busca o produto que está sendo ofertado em um preço mais acessível, fazendo com que, se o produto tiver uma alta brusca, volte ao preço normal. O mercado não aceita. Por exemplo, tivemos aumento absurdo de feijão, mas agora o preço voltou a cair absurdamente. O problema é a sazonalidade e, por mais que tenha o hábito de consumo do feijão, não se consegue inserir um quilo de feijão de R$ 7 no dia-a-dia do consumidor. A carne também subiu, teve demanda maior de exportação, tornando o produto mais escasso internamente e aumentando o preço. As pessoas saem da carne bovina e vão para o frango, obrigando o frigorífico a voltar o preço para a realidade. Então tem que ser feita uma análise melhor dessa correção de preços porque tem esses detalhes. Acho que o comportamento dos preços dos alimentos em 2007 foi dentro da realidade, nada que desse destaque específico para o RN.

Então, em 2007, teria sido um azar, já que três produtos essenciais – leite, carne e feijão – tiveram altas consideráveis?
É um problema de sazonalidade. Sempre acontece. Temos produtos aqui que chegam a ter aumento de 50% mas depois caem. Só que na média anual ele sobe dentro da realidade. E é impressionante como o mercado corrige isso.  O pouco que pode ter alterado isso aí, é justamente o país ter passado a ser um dos maiores exportadores do mundo. Passamos a exportar mais grãos, mais carne. No leite, tínhamos na Argentina uma grande parceira para importação de leite em pó e a Argentina procurou direcionar o leite dela para outros países… Isso pode ter refletido no preço, mas nada de tão acentuado como está se propagando. Acho que dentro de uma realidade econômica, mas sem esse para o RN.

E em relação a 2008, para os preços dos alimentos, o senhor acha que teremos outros casos de altas pontuais ou tende a uma tranqüilidade?
Tudo vai depender de termos um aumento de produção correspondente a um aumento de demanda. Com a globalização, os produtores de alimentos exportam muito. Pode ser que amanhã, por alguma razão, um produto seja inflacionado devido a um grande negócio com a China, por exemplo. Uma vez fomos importar dos EUA e lá existe um controle muito rígido para que não sejam exportados produtos que vão gerar inflação interna. Nós importamos da Argentina o ano todo. No ano passado, por duas vezes, o governo estabeleceu uma margem de exportação para a carne porque estava impactando diretamente na inflação do país, por ser um dos maiores consumidores de carne do mundo. Existem essas proteções, mas no Brasil se tem mais uma vontade muito grande de exportar, sem medir as conseqüências.

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